Haverá novo orçamento aprovado pela geringonça?


Mesmo sem esta guerra com os professores, a maioria absoluta seria sempre um objetivo difícil de atingir. O nosso sistema eleitoral não foi feito para as facilitar e foram contextos políticos-sociais-económicos muito específicos que permitiram a Cavaco Silva em 1987 e 1991 e a José Sócrates em 2005 chegar lá.


 Em 87, o governo minoritário de Cavaco tinha caído no parlamento através de uma moção de censura, escassos 17 meses depois de tomar posse.

Em protesto com a persistente instabilidade dos anos anteriores, os portugueses decidiram dar a Cavaco, que se apresentou como vítima do sistema, a maioria absoluta. Em 1991, a explicação é mais simples. A euforia do “Portugal de sucesso” que os fundos europeus proporcionaram, a construção de estradas e infraestruturas mudaram radicalmente a face do país que pouco anos antes tinha níveis de vida do terceiro mundo.

Cavaco conseguiu repetir a maioria absoluta, contra muitas expectativas. Em 2005, José Sócrates tem pela frente um Pedro Santana Lopes totalmente fragilizado que era líder de um governo que tinha acabado de ser despedido pelo Presidente da República Jorge Sampaio. A direita que abjurava Santana contribuiu fortemente para a maioria absoluta de Sócrates, que tinha acabado de chegar a líder do PS pouco tempo antes das eleições. É verdade que António Costa, segundo dizem as sondagens, pode estar perto da maioria absoluta. Mas com este conflito com os professores acabou de perdê-la.

O que todos os portugueses perceberam é que no último orçamento do Estado o governo prometeu que iria resolver esta situação – tal como apontaram ontem aqueles que ajudaram a aprovar o orçamento, Bloco de Esquerda e PCP. A posição de intransigência revelada pelo governo põe, de facto, em causa a elaboração do próximo orçamento com os partidos de esquerda. Ficar ao lado do PS com esta questão não resolvida é a morte eleitoral de bloquistas e comunistas.