António Costa arrecadou nas diretas deste fim de semana a extraordinária e “kim-jonguiana” votação de 96%. Daniel Adrião, o seu opositor, teve 4%, um peso ligeiramente acima do que tinha obtido na candidatura a secretário-geral há dois anos.
O consenso no PS à volta de António Costa seria sempre natural. Afinal, ele é um líder vitorioso e um primeiro-ministro festejado que, por enquanto, parece imbatível nas próximas legislativas. Com mais ou menos oscilações, o PS está nas sondagens com 40%, o que é um feito extraordinário. Que mais poderiam querer os militantes?
A reeleição de António Costa não estava em teste nestas eleições diretas. Só Daniel Adrião, militante de base que defende alterações internas no partido, aceitou candidatar-se contra o líder todo-poderoso porque era a única forma de poder apresentar as suas ideias no congresso.
O que estava então em causa? Saber até que ponto o Partido Socialista tinha ou não avaliado positivamente a demarcação dura de José Sócrates levada a cabo por Costa e outros dirigentes de topo nas últimas semanas. Daniel Adrião, misteriosamente, percebeu que tinha ali um “nicho” e foi bastante crítico da direção do partido por ter, pela primeira vez de uma forma consistente, criticado o ex-secretário-geral que é acusado na Operação Marquês.
Os resultados provam que o partido aplaudiu a demarcação da direção perante os desmandos de Sócrates. Ao contrário do que alguns amigos de Sócrates ainda pensam, o PS não se revoltou com as palavras dirigidas ao antigo primeiro-ministro que agora renunciou à militância.
É evidente que Sócrates continua a ter amigos entre os socialistas, que o defendem e organizam jantares. Mas já era há muito, dentro do partido, um homem só.
Ao demarcar-se pela primeira vez sem rodeios, a direção do PS respondeu a uma necessidade da maioria dos seus militantes. Os 96% significam (também) isto.