Antissemitismo: o “Mein Kampf” da esquerda portuguesa


O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, declarou que os judeus foram exterminados e tratados como seres sub-humanos por culpa própria. O que disseram sobre isto os jornalistas e políticos portugueses? Nada


1. A comunicação social, portuguesa e internacional, descobriu recentemente um novo hobby: a caça aos nazis. Para os média (a maioria deles conluiados com as forças políticas de esquerda e extrema-esquerda), quem não seja marxista, trotskista ou socialista radical só pode ser fascista ou nazi. Não fazem por menos. Compreende-se: fruto das suas mentes radicais, desconhecem esse termo maldito que é a “moderação”. Moderação que não significa inação ou incompreensão dos problemas mais candentes da sociedade em que vivemos. Porque ignorar problemas ou formular soluções inidóneas para os resolver que apenas visam obter ganhos de popularidade fácil não é ser moderado – é apenas brincar com problemas muito sérios. É, ademais, minar a confiança dos cidadãos nos políticos, no processo político e, por conseguinte, na democracia.

2. Lembram-se da histeria que dominou os média portugueses após a eleição do presidente Donald Trump? Escreveu-se então que o “fascismo tinha ido para Washington”; que Donald Trump era o novo Hitler, substituindo o bigode pelo penteado insólito; o “jornalista-mágico-guitarrista” Nicolau Santos anteviu inclusivamente que uma guerra nuclear estava prestes a acontecer (seria apenas uma questão de meses). Pois bem, daí até ao momento atual, a única “bomba nuclear” que registámos foi a nomeação de Nicolau Santos para a agência de notícias (controlada pelo governo) Lusa – afinal, antever guerras (que a esquerda deseja, porque vive do caos!) que não acontecem (nem acontecerão) é pagante em Portugal desde que se agrade às pessoas certas (não é, António Costa?). Já o conflito da Coreia registou um avanço muito significativo rumo ao seu término, em função do trabalho desenvolvido pelo presidente Trump e sua administração: o presidente dos EUA está mesmo nomeado para o Prémio Nobel da paz.

3. É claro que a narrativa da nossa esquerda muito intelectual e bem-pensante (pois, claro…) foi logo a de desvalorizar a ação do presidente Trump – não, o sucesso da obtenção de paz na península coreana deveu-se ao clima de conciliação inspirado pelo presidente Obama. Isto porque seria impossível um político (sobretudo, não de esquerda) chegar, ver e resolver; no entanto, esta é precisamente a mesma comunicação social que se deslumbrou em encómios a Obama quando este decidiu o ataque contra Osama bin Laden, resultando na morte deste deplorável terrorista. Aí, a comunicação social sequestrada pela esquerda só se lembrou de dar crédito à capacidade de decisão do presidente Obama, não se importando de ignorar o trabalho dos presidentes antecedentes. Pois bem, os jornalistas, motivados pela agenda política dos partidos de esquerda, gastam tantas vezes o adjetivo “nazi” para vilipendiar os seus adversários políticos que, qualquer dia, se e/ou quando a sua utilização se justificar, ninguém os levará a sério. O que será trágico – será a lógica do “Pedro e o Lobo”: tantas vezes se chamou falsamente o lobo que, quando se tratar de uma ameaça real, o lobo terá liberdade para agir – e aqueles que o denunciarem não serão levados a sério.

4. Efetivamente, a prova de que os “receios sobre a vitalidade das democracias” dos nossos jornalistas e políticos não são sérios é a sua pornográfica omissão das declarações do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas. Os jornalistas, deliberadamente, não informaram os portugueses (não houve um jornal português que desse destaque proporcional à gravidade das declarações); os políticos recusaram condenar veementemente o discurso do presidente da Palestina que ultrapassou Adolf Hitler pela direita: é que nem mesmo o lunático líder nazi ousou afirmar ou escrever (nem mesmo nesse livro de ódio e odioso intitulado “Mein Kampf”) o que Mahmoud Abbas asseverou sobre o povo judeu. No fundo, Abbas formulou uma justificação, de base pretensamente racional, para o Holocausto: a culpa de serem exterminados cobardemente em câmaras de gás, mortos sem compaixão, tratados como seres sub- -humanos foi (é) dos próprios judeus. Porquê? Para o líder máximo palestiniano, os judeus adotaram, nas sociedades europeias, comportamentos contrários à lógica comunitária: cobravam juros usurários, levando os “verdadeiros europeus” à miséria. De onde se conclui que, para Mahmoud Abbas, a morte de um povo é perfeitamente justificável como sanção pelo seu pretenso comportamento social.

5. Concluímos, pois, que para o exemplo de democrata (na lógica dos nossos média) que é Abbas, Adolf Hitler só pecou por defeito. E como reagiram os políticos europeus? Não reagiram: mantiveram um silêncio cúmplice com as afirmações antissemitas de Abbas. É verdade que, mais tarde, o presidente palestiniano pediu desculpa – todavia, o próprio pedido de desculpa é muito significativo da sua postura e dos seus verdadeiros propósitos. Abbas limitou–se a enunciar um pedido de desculpa condicional: “Se alguém se sentiu ofendido…” Desculpe? Se alguém se sentiu ofendido por se dizer que a culpa do extermínio é das próprias vítimas? E que Hitler, no fundo, tinha razão e fundamentação para descer ao grau zero da condição humana? Para nós, o pedido de desculpa revela ainda mais sobre Mahmoud Abbas do que as próprias declarações: ao colocar em termos condicionais, Abbas mostra que não está convencido da gravidade do conteúdo ofensivo das declarações que proferiu. Seriam apenas frases políticas, com conteúdo banal – e, assim, Abbas revela a sua verdadeira índole moral. Ficámos esclarecidos que, se ressuscitasse e conquistasse o poder (cruzes, credo!), Adolf Hitler teria em Mahmoud Abbas um aliado convicto.

6. Dito isto, perguntará o leitor: “E a ONU? De certeza que a ONU, liderada pelo humanista António Guterres, condenou o antissemitismo de Mahmoud Abbas!” Qual quê! Nada disso: a ONU rejeitou tal condenação proposta por Nikki Hailey, representante dos EUA, com o argumento de que Abbas já se tinha retratado! Viva o multilateralismo dos valores e dos direitos humanos! Incompreensível! Até porque a maioria dos países europeus e dos que integram a ONU dispõem, nos respetivos ordenamentos jurídicos internos, de leis e mecanismos para sancionar o discurso de incitamento ao ódio, designadamente o antissemitismo. Ora, a partir do momento em que estes países branqueiam as declarações de Abbas, com que autoridade vão internamente sancionar os seus cidadãos que difundam ideias antissemitas? Bastará, para afastar a tutela criminal, o mero pedido de desculpa condicional (“se alguém ficou ofendido…”)?

7. Pela nossa parte, estamos esclarecidos: o presidente Donald Trump, eleito democraticamente, sujeito a um intenso controlo por parte da sociedade civil e de outros órgãos do Estado, é um nazi; Mahmoud Abbas, que patrocina o ódio contra Israel e incita ao antissemitismo, ultrapassando Adolf Hitler na violência verbal contra o povo judeu (note-se que Hitler nunca deu propriamente uma justificação racional para a política antissemita, baseando-se apenas no ódio e na manipulação emocional dos alemães), é um verdadeiro democrata para os nossos queridos jornalistas do Bloco de Esquerda e do PS radical. Assim se vê a dualidade moral – se quisermos, a “disposição autoritária” – da esquerda portuguesa (e internacional?).

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