“O nosso ditador” voltou a ganhar


Viktor Orbán – a quem o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, chamou um dia carinhosamente “o nosso ditador” – voltou a ganhar as eleições legislativas na Hungria. Orbán está no poder desde 2010. As eleições foram criticadas pelos observadores internacionais por terem sido marcadas por uma “retórica xenófoba e intimidatória, manipulação dos média e…


Viktor Orbán – a quem o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, chamou um dia carinhosamente “o nosso ditador” – voltou a ganhar as eleições legislativas na Hungria. Orbán está no poder desde 2010. As eleições foram criticadas pelos observadores internacionais por terem sido marcadas por uma “retórica xenófoba e intimidatória, manipulação dos média e financiamento opaco”.

Douglas Wake, o chefe da missão da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação Europeia), disse ontem em Budapeste que a retórica eleitoral de Orbán “foi bastante hostil e xenófoba, o que é lamentável num contexto eleitoral”. A “campanha hostil”, afirmam os observadores, “limitou o espaço para um debate substantivo e diminui a capacidade dos eleitores para fazerem uma escolha informada”.

O que já se sabia e a OSCE também reparou é que a televisão pública “favoreceu a coligação no poder”. Não é costume a OSCE ser tão dura relativamente a umas eleições num país europeu, mas a reeleição de Orbán é mais um sinal da decadência dos valores europeus.

Não houve manipulação de votos, mas o controlo dos meios de comunicação social e o discurso do medo favorecem este género de ditaduras que, de vez em quando, têm eleições. Viktor Orbán é uma vergonha para a Europa e um exemplo de um corte com os valores que fizeram nascer a Europa, corte esse que os dirigentes europeus gostam de criticar noutros continentes e ignoram – e até aplaudem, no caso do PPE – dentro da sua própria casa.

Veja-se a nota de felicitações que o líder do Partido Popular Europeu em Bruxelas (a família política a que pertencem PSD e CDS), Manfred Weber, enviou a Orbán, congratulando-o pela “vitória clara” e manifestando o desejo de “continuar a trabalhar para encontrar soluções comuns para os desafios europeus”.

Joseph Daul, presidente do PPE, tinha desejado, dias antes, a vitória do partido de Orbán para “continuar a trazer estabilidade e prosperidade aos cidadãos”. Bem-vindos ao lado negro da Europa.