Talvez Bruno de Carvalho não esteja louco


Talvez Bruno de Carvalho não esteja louco, mas durante dois dias comportou-se como tal. Destruiu em poucas horas tudo o que acumulara com esforço em vários anos. E pode ter estragado a vida. Durante muito tempo vi-o como uma espécie de Frei Tomás ao contrário. Dizia muitos disparates mas fazia obra. “Faz o que ele…


Talvez Bruno de Carvalho não esteja louco, mas durante dois dias comportou-se como tal. Destruiu em poucas horas tudo o que acumulara com esforço em vários anos. E pode ter estragado a vida.

Durante muito tempo vi-o como uma espécie de Frei Tomás ao contrário. Dizia muitos disparates mas fazia obra. “Faz o que ele faz, não faças o que ele diz”, podia dizer-se em relação ao presidente do Sporting.

Ele fez muitas coisas boas em Alvalade. Reestruturou a dívida. Recuperou o nome do Sporting, que estava de rastos. Fez um contrato milionário com a NOS, superior mesmo ao dos outros grandes. Construiu o pavilhão. Relançou as modalidades. Contratou para o futebol treinadores de prestígio: Leonardo Jardim, Marco Silva e Jorge Jesus. Voltou a encher o estádio. Passou a vender jogadores por fortunas. Pôs a equipa a lutar pelo título. 

Este ano, mesmo com erros, o Sporting chegou a Abril com hipóteses teóricas de ganhar todas as competições. E os atos tresloucados do presidente aconteceram após um desafio em que o Sporting jogou de igual para igual contra o Atlético de Madrid, o que não é coisa pouca. Como perceber o desvario de Bruno de Carvalho?

É certo que os jogadores cometeram erros infantis. Mas nenhum profissional de futebol erra de propósito, e muito menos numa competição internacional e num grande palco. A Europa é onde todos querem brilhar. Errar nesses jogos é humilhante para qualquer jogador, até porque pode ser fatal para a sua carreira.

Quando isso acontece, qual é o papel do líder? Motivar os jogadores, devolver-lhes a confiança, levá-los a ultrapassar a humilhação. E o que fez Bruno de Carvalho? Humilhou-os ainda mais em público. E quando eles reagiram, agiu como um ditadorzinho enlouquecido, numa fuga patética para a frente, ameaçando, suspendendo, despedindo. Nunca se vira nada assim no futebol português. 

Nas vésperas de jogos decisivos – contra o Atlético de Madrid, contra o FC Porto, a poucas semanas do fim do campeonato onde o Sporting ainda poderia teoricamente chegar ao topo –, Bruno de Carvalho destrói a equipa, dilacera-lhe o ânimo.

Até aqui, se o Sporting acabasse a época sem ganhar nada, a culpa podia ser assacada aos jogadores ou ao treinador. Com os seus atos, Bruno de Carvalho tornou-se o grande responsável por todo o mal que venha a acontecer esta época. E na próxima quem quererá treinar ou jogar no Sporting, com um presidente tão instável?

Bruno de Carvalho cometeu harakiri. Ninguém a partir de agora confiará nele. O problema é que as coisas podem não acabar aí: pode vir a ser acusado de destruição intencional de capital do clube. E isso é crime: chama-se ‘gestão danosa’. É triste ver um homem que tinha feito bastante pelo Sporting destruir desta maneira, ingloriamente, todo o trabalho feito. E possivelmente dar cabo da vida.