De acordo com a Associação Turismo de Lisboa (ATL), em 2008, a capital contava com 105 unidades hoteleiras. Em 2017, tinha já 204. O maior aumento aconteceu entre 2014 e 2015, altura em que abriram 23 novos hóteis.
De acordo com a ATL, para este ano, ao todo, Portugal espera pela abertura de mais 61 hotéis, 25 dos quais em Lisboa.
Em entrevista, Vítor Costa, diretor-geral da ATL, explica que "o mais importante não é discutir se há a mais ou a menos, mas como é que podemos gerir e continuarmos a desenvolver o turismo positivamente".
Recorde-se que a questão do crescimento do setor tem levantado várias questões. Em alguns países nascem até movimentos para travar o aumento de turistas.
Fobia ao turismo alastra na Europa
Há taxas, limitações ao número de visitantes que podem entrar por dia nas cidades e até proibições em plataformas de alojamento ou licenças de construção para novos hóteis.
Os números chegam das mais variadas fontes e não deixam margem para enganos: o turismo continua a crescer em Portugal e é já um dos maiores suportes da economia nacional. A verdade é que o país nunca recebeu tantos turistas como agora e isso tem contribuído para um aumento das receitas na hotelaria e nas companhias aéreas. O ano de 2016 acabou por ficar na história nacional como o melhor ano de sempre no setor. Todos aplaudiram. No ano passado, a tendência manteve-se e muitos são os empresários que acreditam que o turismo vai continuar a atingir recordes atrás de recordes. Mas é exatamente no meio de todo este cenário de crescimento que se começam a levantar algumas vozes que chamam a atenção para a necessidade de ser estabelecido um plano de crescimento mais sustentável.
A discussão em torno deste assunto ganha cada vez mais relevância e é suportada pelo facto de a ONU ter declarado o ano de 2017 o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. Mas em que consiste afinal este ponto na agenda internacional? A ideia é alertar para a necessidade de todos reconhecerem "a importância do turismo internacional e, em particular, a designação de um ano internacional de turismo sustentável para o desenvolvimento, para promover uma melhor compreensão entre os povos em todo o mundo, levando a uma maior consciencialização sobre o rico património das diversas civilizações".
Até porque, se por um lado as pessoas viajam cada vez mais, há também cada vez mais cidades a colocar um travão na entrada de estrangeiros. A verdade é que em algumas cidades europeias já está aberta a caça ao turista. Há quem avance mesmo que o turismo de massas está a caminho de uma verdadeira explosão social. Assistimos a cada vez mais manifestações, há queixas por causa do aumento das rendas e dos custos de vida. Os velhos habitantes falam de uma invasão e os governos tentam fazer face ao crescimento do número de turistas.
O que não faltam são exemplos de medidas criadas por vários países e a promessa é que os casos se comecem a multiplicar.
Barcelona quer porta fechada
Há quem se queixe de ter deixado de andar nas ramblas para evitar as centenas de turistas que lá passam todos os dias. E quem pensa que para os comerciantes as notícias são apenas boas, desengane-se. A maioria assegura que são mais os que apenas passeiam e tiram fotografias do que os que compram alguma coisa.
Uma forma de proteger mais a cidade do turismo de massas passa por aplicar taxas. "Se não queremos acabar como Veneza, temos de impor limites", explicou Alda Colau, a presidente da câmara local, quando tomou posse. Uma das primeiras medidas foi criar uma proibição de novas licenças para a construção de hotéis.
O movimento contra os turistas na cidade já chegou mesmo a furar os pneus de bicicletas dos turistas e tornou-se frequente ver frases como "voltem para casa" nas mais variadas ruas da cidade.
Entretanto, outras regiões espanholas já colocaram também a turismofobia no vocabulário. Em Palma de Maiorca, por exemplo, os protestos também marcam o ano de 2017.
Exemplos multiplicam-se
Em Londres, Inglaterra, uma das medidas aplicadas para controlar o número de turistas que procuram a cidade foi criar um limite de alugueres em plataformas como o Airbnb. Já em Milão, onde para já as medidas ainda são tímidas, foi proibida a selfie sticks e garrafas de plástico em algumas das principais áreas da cidade.
Também em Berlim têm estado a ser pensados caminhos para regular a entrada de turistas estrangeiros. Com ou sem controlo nas plataformas, os movimentos contra o turismo de massas ganham cada vez mais espaço numa velha Europa, que recusa receber tanto sangue novo. Na Croácia, em Dubrovnik, discutia-se, em setembro do ano passado, a possibilidade de limitar a entrada de cruzeiros. A cidade, que foi placo de gravações da famosa série Game of Thrones, assistiu a um aumento da procura sem precedentes.
Também em Roma já foram tomadas várias medidas. Os problemas com turistas obrigou a cidade a destacar alguns seguranças para zelarem pelas fontes da cidade. Além do limite de visitantes que podem aceder a alguns locais emblemáticos, existem multas de 240 euros para quem entrar ou se sentar em redor das fontes.
A estas regiões junta-se ainda Santorini. Com a entrada de cerca de 10 mil pessoas por dia, principalmente por causa dos cruzeiros, a ilha estipulou um máximo de pessoas que podem entrar por dia.
Veneza é um outro exemplo. Falamos de uma região que tem cerca de 50 mil habitantes, mas recebe diariamente mais de 60 mil. Contas feitas é o suficientes para que os habitantes locais reclamem que sejam tomadas medidas.
Mais exemplos existem um pouco por todo o lado. Por exemplo, à semelhança de outros países europeus, também a Áustria cobra taxas aos turistas, mas à saída. Neste caso, o dinheiro angariado reverte para medidas ligadas ao ambiente. Assim, quem sair do país paga oito euros, se a viagem for dentro da Europa, ou 40 euros para o resto do mundo.