António Costa ainda não leu o relatório?


António Costa, depois de ter lido o relatório da comissão independente que investigou os incêndios de outubro, bem podia fazer uma declaração ao país a explicar que os erros que foram cometidos não voltarão a repetir-se. E podia também aproveitar a ocasião para reafirmar que os jornalistas é que foram culpados de terem “acordado tarde”. 


É certo que a gravidade do caso não dá vontade de rir a ninguém, mas o primeiro-ministro revelou ao longo de todo este processo uma insensibilidade total, sendo mesmo obrigado pelo Presidente da República a retratar-se. Não significa que Costa não tenha ficado chocado com as mortes como qualquer outro português mas, ao falar em público, o primeiro-ministro nunca conseguiu encontrar as palavras certas para a ocasião, tendo inclusivamente, tantos meses depois, caído no ridículo de apontar o dedo aos jornalistas. Infelizmente, em Portugal, as discussões descambam sempre para o lado ideológico, acabando dessa forma por não se corrigir o que está mal. Que a culpa é de todos os governos dos últimos anos, não há qualquer dúvida – quem não se recorda de tudo o que foi destruído depois do 25 de Abril para não se ficar conotado com o tempo da outra senhora? Veja-se a história dos guardas florestais, que eram uma espécie de olheiros das florestas e que pura e simplesmente desapareceram.

Mas que a responsabilidade destes incêndios, os de outubro e de junho, tem de ser assacada a quem estava no ativo, parece-me evidente. Mais do que rolarem cabeças, é preciso ler com atenção os diferentes relatórios que foram feitos sobre as duas tragédias e tirar as devidas ilações. O combate aos incêndios não pode ser feito por amadores e é preciso acabar com o escândalo dos meios aéreos envolvidos nos mesmos.

Como é possível, por exemplo, os seis helicópteros Kamov continuarem inoperacionais? Morreram pessoas demais para se continuar a deixar passar em branco as responsabilidades das tragédias. Em nome do futuro, é preciso profissionalizar os organismos envolvidos e responsabilizá-los, se for caso disso. É claro que se fizerem bem o seu trabalho e o mesmo for insuficiente, aí sim, só se poderá culpar a natureza.