Um amigo meu chamou-me a atenção para uma reportagem no “Jornal da Noite” da SIC sobre a dificuldade, ou quase impossibilidade, de muitas famílias com filhos deficientes receberem a denominada prestação social para a inclusão (PSI), criada pelo atual governo em outubro do ano passado.
A PSI, segundo a definição do Ministério da Segurança Social, é “uma prestação em dinheiro paga mensalmente a pessoas com deficiência ou incapacidade que tem por objetivo compensar os encargos acrescidos no domínio da deficiência e apoiar as pessoas com deficiência ou incapacidade em situação de pobreza”.
Até aqui, uma decisão louvável.
Esta prestação, no valor de 264 euros mensais, ainda segundo o ministério, “assenta nos princípios da simplificação e eficácia, bem como da promoção da autonomia e a participação laboral das pessoas com deficiência ou incapacidade”.
Pois bem. De que falava, então, a reportagem da SIC?
A prestação começou agora a ser paga por cheque, enquanto anteriormente era paga por vale postal.
O desconto do cheque obriga à presença física do titular ou, em caso de impedimento, mediante declaração de incapacidade, de um tutor legal.
O que está a acontecer é que muitas famílias não conseguem receber a prestação por não conseguirem cumprir estas imposições.
Segundo especialistas ouvidos pela SIC, o processo de declaração de incapacidade e nomeação de um tutor demora em média, nos tribunais, cerca de nove meses.
O exame de avaliação de incapacidade custa 450 euros, isto é, perto do dobro da prestação mensal.
No meio deste esquema kafkiano, o que resta a muitas destas famílias?
Estamos a falar dos cidadãos mais pobres e mais indefesos, que mereciam do Estado uma proteção eficaz, sem o recurso a métodos burocráticos que, na prática, impedem esses mesmos cidadãos de terem acesso aos apoios anunciados e publicitados com pompa e circunstância.
O Estado revela-se poderoso contra os fracos e fraco contra os poderosos.
E essa atitude tem um nome: cobardia.
Jornalista