O SPD fica com as Finanças. E depois?


E aconteceu aquilo que o SPD tinha dito que não voltaria a acontecer: a grande aliança foi ontem assinada na Alemanha, com o simpático (e quase de esquerda) Martin Schulz a abandonar a liderança do partido social- -democrata para ocupar o cargo de novo ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha.


E aconteceu aquilo que o SPD tinha dito que não voltaria a acontecer: a grande aliança foi ontem assinada na Alemanha, com o simpático (e quase de esquerda) Martin Schulz a abandonar a liderança do partido social- -democrata para ocupar o cargo de novo ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha. Reduzido à expressão dos 20% depois de sucessivas coligações em que a Alemanha fez o papel de lobo mau da austeridade europeia – embora a Alemanha não esteja sozinha nesta política que, na verdade, colhe amplo consenso nos fóruns de Bruxelas –, o SPD conseguiu desta vez ocupar também a pasta das Finanças, até agora presidida pelo malcriado – pelo menos para os países do Sul – Wolfgang Schäuble.

Em vez do maligno Schäuble, a Alemanha vai agora ter na pasta das Finanças um senhor chamado Olaf Scholz, que até agora era presidente da câmara da cidade de Hamburgo. Scholz tem uma vantagem relativamente ao seu antecessor: foi apoiante do aumento do salário mínimo. Mas um social-democrata na pasta das Finanças da Alemanha fará realmente a diferença?

Ontem, um texto da agência Reuters afirmava que “alguns conservadores temem que Scholz possa vir a aumentar o gasto público” e a reverter as políticas austeritárias de Schäuble. Outros, provavelmente mais lúcidos, afirmavam à Reuters que o mais provável seria que o novo ministro das Finanças viesse a manter o conservadorismo fiscal, embora adotando um tom mais conciliador relativamente aos países mais pobres da zona euro. Os tratados da zona euro, nomeadamente o Tratado Orçamental, com o seu défice zero acoplado, não permitem muito mais aos socialistas do que chá e simpatia. Ter Olaf Scholz ao comando do Ministério das Finanças alemão é contar com mais chá e simpatia relativamente a outros compatriotas seus. Mas chá e sorrisos mansos não acabam com a disfuncionalidade do euro, que é a mãe de toda a austeridade europeia. Fraco consolo.