As chatices da política


O que o atual sistema partidário está a criar é um perigoso sentimento de rejeição desse mesmo sistema. No limite, é a nossa democracia que pode estar em risco


Num certamente animado debate, no decorrer das jornadas parlamentares do PS, a propósito do projeto de incompatibilidades no exercício do cargo de deputado que os socialistas vão (veremos) apresentar, o deputado independente eleito nas listas do PS Paulo Trigo Pereira terá dito à sua colega de bancada, Isabel Moreira, que se manifestava contra o projeto legislativo:

“Eh pá, é chato, mas quando se exerce um cargo político, nós temos responsabilidades acrescidas. E temos porque somos pagos pelo dinheiro dos contribuintes e porque tomamos decisões que afetam a vida de todos os contribuintes.”
O deputado (independente) tem toda a razão. Mas não me parece que seja a sua razão que vá vingar.

Na verdade, do que falamos é de transparência, num país onde a política se tem tornado cada vez mais opaca. Basta recordar o lamentável e vergonhoso conluio entre os partidos parlamentares, à exceção do CDS e PAN, na questão do financiamento dos partidos.

O que o atual sistema partidário – a base da nossa democracia – está a criar é um perigoso sentimento de rejeição desse mesmo sistema. No limite, é a nossa democracia que pode estar em risco.

Os opositores do regime de exclusividade dos deputados esgrimem os velhos argumentos da ausência de condições financeiras que atraiam “os melhores” para a vida política.

Concordo que os benefícios imediatos não sejam entusiasmantes. Mas o que é verdade é que, como referia Ana Sá Lopes num recente editorial neste jornal, “raramente alguém que tenha passado pela atividade política acaba a levar a vida frugal da esmagadora maioria dos portugueses”.

A política transformou-se num egoísta jogo de interesses e influências, numa troca de favores entre os seus protagonistas. A missão de serviço público é, hoje, apenas uma frase vazia de sentido.

Quando os partidos, por exemplo, tiverem coragem de aprovar alterações à lei eleitoral que permitam círculos uninominais, ligando assim diretamente os eleitos aos seus eleitores, terão dado um passo importante para contradizer alguma coisa do que afirmei acima.

Até lá, vão ter de continuar a viver com as “chatices” da política.

Jornalista


As chatices da política


O que o atual sistema partidário está a criar é um perigoso sentimento de rejeição desse mesmo sistema. No limite, é a nossa democracia que pode estar em risco


Num certamente animado debate, no decorrer das jornadas parlamentares do PS, a propósito do projeto de incompatibilidades no exercício do cargo de deputado que os socialistas vão (veremos) apresentar, o deputado independente eleito nas listas do PS Paulo Trigo Pereira terá dito à sua colega de bancada, Isabel Moreira, que se manifestava contra o projeto legislativo:

“Eh pá, é chato, mas quando se exerce um cargo político, nós temos responsabilidades acrescidas. E temos porque somos pagos pelo dinheiro dos contribuintes e porque tomamos decisões que afetam a vida de todos os contribuintes.”
O deputado (independente) tem toda a razão. Mas não me parece que seja a sua razão que vá vingar.

Na verdade, do que falamos é de transparência, num país onde a política se tem tornado cada vez mais opaca. Basta recordar o lamentável e vergonhoso conluio entre os partidos parlamentares, à exceção do CDS e PAN, na questão do financiamento dos partidos.

O que o atual sistema partidário – a base da nossa democracia – está a criar é um perigoso sentimento de rejeição desse mesmo sistema. No limite, é a nossa democracia que pode estar em risco.

Os opositores do regime de exclusividade dos deputados esgrimem os velhos argumentos da ausência de condições financeiras que atraiam “os melhores” para a vida política.

Concordo que os benefícios imediatos não sejam entusiasmantes. Mas o que é verdade é que, como referia Ana Sá Lopes num recente editorial neste jornal, “raramente alguém que tenha passado pela atividade política acaba a levar a vida frugal da esmagadora maioria dos portugueses”.

A política transformou-se num egoísta jogo de interesses e influências, numa troca de favores entre os seus protagonistas. A missão de serviço público é, hoje, apenas uma frase vazia de sentido.

Quando os partidos, por exemplo, tiverem coragem de aprovar alterações à lei eleitoral que permitam círculos uninominais, ligando assim diretamente os eleitos aos seus eleitores, terão dado um passo importante para contradizer alguma coisa do que afirmei acima.

Até lá, vão ter de continuar a viver com as “chatices” da política.

Jornalista