Passos Coelho perdeu, António Costa ganhou


As eleições do PSD vieram mostrar que Passos Coelho não tinha apenas perdido o país: já tinha, de facto, perdido o partido.


A dimensão da vitória de Rui Rio mostrou que os militantes queriam realmente um corte com o passado e foram votar no homem que representava o distanciamento desse passado, Rui Rio. Ao transformar, nos últimos tempos da campanha interna, a defesa de Passos Coelho no seu assunto fundamental, Santana Lopes deu o sinal errado ao partido.

O PSD, como o outro partido de poder, o PS, não suporta por muito tempo perdedores. E, ao não conseguir formar governo em 2015, mercê da miraculosa geringonça engendrada por António Costa que o alcandorou a primeiro-ministro com o apoio do Bloco de Esquerda e do PCP, Passos Coelho perdeu.

Há dois anos que arrastava o seu discurso de perdedor pelo país, estatuto que as autárquicas confirmaram. Há décadas que Roma, o sistema político português, não paga a perdedores. O trágico é que, mais uma vez, a derrota de Passos Coelho é a vitória de António Costa.

Há anos que Costa vê em Rui Rio um potencial adversário que se poderá transformar em aliado político, se tal vier a revelar-se necessário. Nesta campanha, Rui Rio foi claro: dará o seu apoio ao PS se o PS precisar para que o país se livre da geringonça. As coisas foram clarinhas. António Costa ganhou – ou, pelo menos, ganhou um parceiro de que gosta e em quem confia. E como foi tudo tão clarinho, com Santana a expor a torto e a direito essa questão para atacar Rio, pode concluir-se que os sociais-democratas não se deixaram impressionar por uma futura aliança com Costa.

Tudo visto e contado, prova-se mais uma vez que António Costa é um homem de sorte. A aliança à esquerda permitiu-lhe tornar-se primeiro-ministro. Agora, uma futura aliança à direita pode permitir-lhe continuar o seu mandato, caso não venha a ter maioria absoluta. O homem tem sorte.