A saúde está primeiro, mas só para quem tem dinheiro


O bastonário da Ordem dos Médicos é homem que fala sem rodeios e, à semelhança da bastonária dos Enfermeiros, coloca o dedo na ferida: do que vale os diretores dos hospitais esconderem os doentes quando recebem a visita do ministro da tutela ou de António Costa? Não entendem que os milhares de utentes percebem facilmente…


 Miguel Guimarães diz mesmo que se chegam a internar pacientes que vão às urgências fazer simples exames para não estarem nos corredores nas macas. Para que isso aconteça, os médicos são obrigados a dar alta a doentes que estão internados. A história é surreal.

Faz algum sentido em pleno século XXI estar-se a perder tempo, dinheiro, e recursos para os governantes ficarem com uma imagem errada da realidade? Por que razão o ministro da Saúde e o primeiro-ministro não fazem visitas de surpresa às urgências hospitalares? Dessa forma perceberiam as dificuldades com que se debatem os profissionais e os problemas que enfrentam os doentes. Mas o bastonário não se fica pelas queixas, aponta caminhos e diz aquilo que já se sabe há muito: é preciso desviar doentes das urgências hospitalares e, para isso, é preciso reforçar os centros de saúde.

Na entrevista ao i, Miguel Guimarães explica ainda uma das razões para os jovens médicos não quererem ir para os hospitais da periferia, pois aí são obrigados a exercer a profissão como se vivessem há 20 anos.

O material está obsoleto e, mais uma vez, os doentes é que sofrem. É certo que o dinheiro não estica, mas o ministério da Saúde teve, segundo as palavras do bastonário, um dos orçamentos mais baixos dos últimos anos.

Cerca de 700 médicos com a especialidade tiveram de esperar mais de um ano para entrar no Serviço Nacional de Saúde, pois o governo carecia de verbas para os “empregar”.

A muitos deles não restou outra alternativa que não fosse irem para o privado ou emigrarem. O dinheiro que o Estado gastou com a sua formação não terá sido em vão, mas os mais desprotegidos da sociedade nunca poderão usufruir dos seus serviços. E, como tal, as urgências ficam cada vez mais próximas do caos absoluto.