Aqueles que durante anos beneficiaram das “ajudas de custo” dos principais arguidos são agora os maiores acusadores. Um pouco de recato não fazia mal a ninguém. Durante anos, o “SOL”, o i e mais dois ou três meios de comunicação social lutaram pela divulgação dos factos de que eram acusados os 28 arguidos, entre pessoas e empresas. Sócrates, é bom que se recorde, viu um procurador-geral da República e um presidente do Supremo Tribunal de Justiça mandarem queimar escutas que outros magistrados entendiam serem bastante reveladoras do polvo supostamente liderado pelo antigo primeiro-ministro.
Por tudo isso, quem vai sentar-se no banco dos réus não são apenas os arguidos, são também aqueles que pactuaram com a prepotência dos antigos donos disto tudo. Recordo-me de nos olharem de lado, quase como se tivéssemos lepra, por semana após semana revelarmos algo mais da Operação Marquês, como o fizéramos na Face Oculta ou no Monte Branco. Éramos uns “ressabiados” que não percebíamos a grandeza dos TGV, dos parques escolares, das PT, das Ongoings, de Vales do Lobo e afins. Fizemos manchetes atrás de manchetes, sendo acusados de estar obcecados com José Sócrates, quando quiseram comprar-nos para nos fechar. Mas isso pouco importa para aqui. O que interessa dizer é que o Ministério Público pôde fazer o seu trabalho, ignorando os ataques de que foi alvo e contando, obviamente, com uma procuradora-geral da República que não se vergou a nenhum poder. E isso é que é o grande sinal da democracia. Quanto aos arguidos, terão agora a possibilidade de dizerem de sua justiça.