Dívidas dos hospitais do SNS dispararam para os 903 milhões

Dívidas dos hospitais do SNS dispararam para os 903 milhões


Pagamentos em atraso não registavam valor tão elevado desde novembro de 2013. Em dois meses, a subida foi de quase 100 milhões de euros.


Os pagamentos em atraso dos hospitais atingiram em agosto 903 milhões de euros. Segundo a Síntese de Execução Orçamental, divulgada ontem, só nos últimos dois meses houve uma subida de 100 milhões nas dívidas vencidas há mais de 90 dias, que a lei dos compromissos exigida pela troika visou eliminar. Segundo o histórico da Direção-Geral do Orçamento e Finanças, o montante é mesmo o mais elevado desde novembro de 2013.

Em entrevista ao “SOL” na edição do último fim de semana, o ministro da Saúde reconheceu um agravamento dos pagamentos em atraso face ao que se verificava no ano passado, o que atribuiu a um aumento da atividade no SNS e à introdução de 51 medicamentos inovadores nos hospitais desde o início do ano.

Os salários são outra variável que tem estado a fazer derrapar as contas dos hospitais, e não é pouco. Este ano, o orçamento das unidades só acautelava a reposição dos salários na função pública, mas o regresso às 35 horas motivou mais contratações e, além disso, avançou a reversão do corte nas horas extra.

De acordo com dados da Administração Central do Sistema de Saúde, até julho, os custos com produtos farmacêuticos nos hospitais subiram 7,9%, um aumento de 54 milhões de euros face ao mesmo período no ano passado. As despesas com pessoal subiram 4,9%, mais 74 milhões do que em 2016. Dentro deste bolo, 25 milhões dizem respeito a aumentos de despesa com o pagamento de horas extra e suplementos, rubrica que disparou 15,3% até julho.

 

Reforço das Finanças

Na entrevista ao “SOL”, o ministro da Saúde adiantou que este ano, à semelhança do que aconteceu no final de 2016, deverá haver um reforço financeiro para regularização das dívidas. No final do ano passado, as Finanças desbloquearam 250 milhões de euros. O ano terminou com 544 milhões de pagamentos em atraso – ainda assim, um valor acima do registado em 2015.

 Qual será o balão de oxigénio este ano é ainda uma incógnita, e para o ano é de prever novo crescimento com despesas com pessoal – as horas extra, que começam a ser pagas a 100% a 1 de dezembro, serão remuneradas na íntegra durante todo o ano. E o governo já se comprometeu a repor o pagamento das horas de qualidade e a criar um subsídio transitório para os enfermeiros especialistas, além do descongelamento na progressão da carreira no Estado.

Sem adiantar valores, Adalberto Campos Fernandes garantiu que o setor terá o maior crescimento orçamental em 2018. “Naturalmente, não é suficiente para responder a tudo, porque estamos em expansão de atividade, de recrutamento e de investimento”, assume desde já.

 Quanto às dívidas, revelou que está a ser estudada uma “solução estrutural e definitiva” para atenuar a situação, que todos os anos tem sido resolvida com verbas extraordinárias, admitindo, por exemplo, a consignação de mais impostos ao orçamento do SNS. Depois da taxa sobre o açúcar, o governo está a estudar a introdução de um imposto sobre o sal.

A maioria das dívidas concentram-se junto das farmacêuticas. João Almeida Lopes, presidente da APIFARMA – Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, sublinhou ao i que um aumento dos pagamentos em atraso em 51 milhões de euros num mês, como aconteceu de julho para agosto, “revela bem o nível de subfinanciamento para que o setor tem vindo a alertar”.

Segundo o responsável, se o reforço extraordinário das Finanças não for significativo, a situação das empresas é dramática. “Estamos em vésperas de preparação do Orçamento e na altura de perceber que é preciso virar a página para manter o SNS minimamente sustentável”, diz.

O Conselho Estratégico Nacional da Saúde da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), que une os fornecedores da saúde, propôs este ano a criação de uma lei de meios que garanta um orçamento mais estável para o SNS através da consignação de impostos, caminho que o governo mostra a intenção de seguir. Almeida Lopes recorda ainda o repto lançado pelo Presidente da República para um pacto para a saúde que garanta um planeamento plurianual.