Pedrógão. Autarcas desconfiam de desvio de donativos para o incêndio

Pedrógão. Autarcas desconfiam de desvio de donativos para o incêndio


Câmaras mais afetadas “não sabem do paradeiro” do dinheiro e querem intervenção do Banco de Portugal


Os autarcas de Pedrógão Grande, de Castanheira de Pera e de Figueiró de Vinhos têm a forte suspeita de que terá sido desviada parte das verbas recolhidas para as vítimas do incêndio que assolou a região em junho.

Há “dezenas de contas que foram abertas em bancos”, por parte de entidades públicas ou de particulares, e as três autarquias “desconhecem o destino do dinheiro”, alertou ao i o presidente da câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves.

Os três autarcas vão agora pedir ao Ministério Público para averiguar junto do Banco de Portugal que entidades abriram contas, os montantes depositados e para onde foram canalizados. “Não sabemos o paradeiro desse dinheiro e há de haver contas abertas que desconhecemos”, reforça Valdemar Alves.

Há ainda receios de desvio de donativos de contas abertas no estrangeiro por parte de emigrantes. “Essas são difíceis de controlar” , diz o autarca, sublinhando que as entidades portuguesas não têm qualquer informação sobre o rasto destas verbas. Além do pedido ao Ministério Público, os três autarcas vão reunir-se hoje para decidir sobre outras medidas que possam vir a tomar de forma a esclarecer se houve, ou não, desvios.

Como foi gerido o dinheiro

Para fazer chegar as verbas à população foram criados vários fundos que gerem e distribuem os donativos. Um dos fundos é o da União das Misericórdias Portuguesas, que recolheu os 1,153 milhões conseguidos no concerto solidário do Meo Arena, os 436 mil euros angariados pela Fundação Montepio e outros 500 mil euros da Fundação Gulbenkian. Já a Cáritas de Coimbra centralizou cerca de 900 mil euros.

Além destes fundos, o governo criou um fundo de solidariedade para gerir a distribuição das verbas no terreno. O Revita é gerido pelo Instituto de Segurança Social e estão ainda representados os autarcas da região.

Valdemar Alves defende que “todos os fundos deviam ter ido para o Revita”. Para o autarca, “devia ter sido o Estado o protetor das verbas e devia ter feito a respetiva distribuição”. Quando o fundo foi criado, o governo explicou que, sendo estes donativos privados, “ninguém pode ser obrigado a pôr o dinheiro” no Revita. Com os vários fundos é impossível saber, porém, o valor final arrecadado. Em julho avançou-se com um valor de 13 milhões, mas ao i o autarca de Pedrógão diz que o total não chegou a ser apurado de forma oficial.

Obras dentro de 15 dias

Sobre a reconstrução das casas, o presidente da câmara de Pedrógão Grande diz que há algumas empresas no terreno, estando previsto que as obras arranquem nos próximos 15 dias. É o caso da União das Misericórdias, a Sic Esperança ou a Fundação Gulbenkian, que estão a aplicar os donativos recolhidos na reconstrução de casas.

Está ainda no terreno a construtora Mota Engil que “não transferiu verbas mas está a reconstruir as casas” com investimento total da empresa, explicou Valdemar Alves. Também a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa avançou logo depois do incêndio com pequenas reparações nas habitações ou em anexos e galinheiros das casas, disse o presidente da câmara.

As verbas aplicadas na reconstrução das habitações são as únicas cujo destino é conhecido pelos autarcas. O destino das verbas tem sido um assunto acompanhado pela oposição. Tanto o PSD como o CDS já questionaram qual foi o valor total conseguido nos apoios e para onde foram canalizados.