Madeira. A árvore caiu mas ninguém sabe porquê

Madeira. A árvore caiu mas ninguém sabe porquê


A queda de um carvalho matou 13 pessoas mas, até agora, não são conhecidas as causas. Fungos, falta de manutenção ou o pouco espaço para as raízes são algumas das hipóteses apontadas por especialistas


Minutos depois de terem sido confirmadas as 13 mortes resultantes da queda de um carvalho durante a romaria da Senhora do Monte, na Madeira, já se procuravam responsabilidades. Esta urgência deve-se principalmente aos relatos de moradores da freguesia e de frequentadores do local, que garantem que as árvores no largo onde se deu o acidente já apresentavam perigo há algum tempo, estando até algumas seguras por cabos de aço.

A presidente da Junta de Freguesia do Monte, que hoje ao i disse estar apenas focada “em ajudar as pessoas”, escusando–se a prestar mais declarações, garantiu, no dia do acidente, que já tinha sido pedido o corte ou poda dos plátanos existentes no largo. Pouco antes das festas deste fim de semana, a Junta de Freguesia do Monte terá alertado as entidades regionais e locais para a situação relacionada com a queda de galhos das árvores do largo. O ofício datado de 5 de julho deste ano, a que o i teve acesso, informa a câmara da preocupação “com a segurança dos munícipes e dos turistas”, solicitando assim “um corte/poda dos plátanos existentes”. A autarquia respondeu, numa carta que deu entrada na junta a 31 de julho, que “os plátanos no Largo da Fonte, caso se justifique, irão ser intervencionados oportunamente”.

Do outro lado da barricada da procura de responsabilidades está Paulo Cafôfo, presidente da Câmara do Funchal, que garante que “aquela árvore nunca esteve sinalizada como perigo de queda e nunca deu entrada nos serviços camarários qualquer queixa com vista à sua limpeza ou abate”.

Condições da árvore Paulo Cafôfo refere-se a este carvalho com cerca de 200 anos como uma árvore com “copa verde e saudável” e, de facto, segundo os especialistas contactados pelo i, é possível que visualmente nada indicasse que esta árvore não estaria em condições.

O geógrafo madeirense Raimundo Quintal explicou ao i que o mais provável é que a árvore tenha sido atacada por fungos nas raízes, o que até justificaria o facto de ter caído pela raiz.

Já João Branco, presidente da Quercus, salienta que o carvalho-alvarinho – nome específico da espécie – que caiu na Madeira normalmente não é atacado por doenças vulgares, mas lembra que, no entanto, a Madeira está longe de ser o seu habitat natural. “Esta espécie vem do Minho, uma zona com clima temperado, mais chuvoso, muito diferente da realidade madeirense”, refere. Fazendo uma analogia em grande escala, “é como se levássemos uma árvore da Amazónia para Bragança”.

Em condições que não são as naturais, “as árvores ficam sob stresse” e esse estado mais débil tornam-nas mais suscetíveis a doenças que, de outra forma, não as atacariam.

O presidente da Quercus aponta ainda como possíveis causas para a queda desta árvore um corte de ramos que a tenha deixado desequilibrada ou até mesmo a falta de terra no local que possa ter deixado as raízes sem espaço para se manterem estáveis. “Mas o mais provável nestes casos”, salienta, “é que tenha sido a conjugação de vários fatores.”

13 mortos e 49 feridos

A queda da árvore aconteceu durante aquela que é considerada a mais importante festa da ilha e, por isso, estavam no local centenas de pessoas.

Das 13 vítimas mortais, oito são mulheres e cinco são homens, e sabe-se já que dois dos mortos eram estrangeiros.

Ainda segundo dados atualizados ontem pelo hospital do Funchal, sete dos 49 feridos continuam internados, um dos quais nos cuidados intensivos.

Miguel Reis, adjunto da direção clínica do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira, anunciou a chegada de quatro elementos do Instituto de Medicina Legal para “abreviar” as autópsias que, segundo informações avançadas ao i pela adjunta da Secretaria Regional de Saúde Tânia Caldeira, serão feitas até sexta-feira.

Devido ao elevado número de vítimas, os corpos foram colocados num contentor que está a servir de anexo improvisado à morgue do hospital. Apesar do desagrado que esta solução causou na população, a responsável garante que foi uma situação “provisória” e “uma questão de logística”. “O contentor serve apenas para o tempo de espera, antes que os corpos sejam enviados para o necrotério”, refere.

Foram decretados três dias de luto nacional e canceladas todas as festividades previstas para os próximos dias.