A frase era incrivelmente verdadeira mas, por razões de ordem política, Pedro Nuno Santos não pode hoje repeti-la. Era a seguinte: “Aprovar o Tratado [Orçamental] é vender a nossa alma.” Pedro Nuno tinha acabado de se demitir da vice-presidência da bancada socialista porque o líder de então, António José Seguro, decidira que o PS devia votar a favor do Tratado Orçamental.
Dizia o atual secretário de Estado: “Acho que a social-democracia europeia está entre a espada e a parede, é nessa posição que a Europa nos está a colocar e nós estamos a escolher a parede. Mas a espada não nos vai poupar.” É evidente que, hoje, Pedro Nuno Santos integra um governo cujo líder, António Costa, também manifestou sérias reservas ao Tratado Orçamental para acabar por cumpri-lo não só à risca como até além da risca, ao optar por uma redução do défice superior ao exigido pelas instâncias europeias. A espada não poupou Tsipras, que chegou ao poder com um programa e exerce o poder aplicando outro.
Antes dele, outros dirigentes, a começar pelo socialista Papandreou, tentaram cumprir o programa que Tsipras está a cumprir, mas tinham grande oposição nas ruas, a começar pela frente de esquerda chamada Syriza. A retirada do Syriza naquele incrível episódio do referendo, a sua capitulação perante todas as exigências da União Europeia, que se empenhou em torturar a Grécia agravando o programa inicial para “servir de exemplo”, é um episódio trágico para a esquerda europeia.
Nesse momento ficámos a saber definitivamente que as políticas de esquerda – e até as sociais-democratas – eram ilegais no quadro da União Europeia. A retirada de Tsipras foi uma dolorosa retirada. Se a retirada de Dunquerque foi dolorosa mas gloriosa – salvaram-se muitos homens que depois vieram a ganhar a guerra –, Tsipras perdeu a sua guerra. Pelo menos aquela por que lutou nas eleições.