A América Latina, que viveu com ditaduras militares durante longas décadas, virou à esquerda há uns bons 15 anos, tendo figuras populares como Hugo Chávez, Lula da Silva ou Evo Morales alcançado o poder. O sonho de um mundo melhor desfez-se rapidamente, apesar de alguns progressos alcançados em certos países, nomeadamente nos primeiros anos de consulado de Lula. Mas a Venezuela é um caso à parte. Depois do populismo de Chávez, que chegou mesmo a ser uma religião – fundindo-se Deus com o ditador –, apareceu uma fotocópia sem qualquer qualidade que dá pelo nome de Nicolás Maduro. E é este mesmo presidente que tem levado alegremente o país para a guerra civil ao som de “Despacito” – embora de um lado estejam as armas e do outro uma espécie de intifada com pedras e cocktails molotov.
Maduro quer perpetuar-se no poder e tudo serve para atingir esse objetivo. Mesmo que a população passe cada vez mais dificuldades, que os alimentos tenham desaparecido dos supermercados, que a saúde seja uma miragem. Nada disso interessa ao aprendiz de ditador. A Venezuela vive momentos dramáticos – há milhares de luso-venezuelanos que já regressaram a Portugal –, mas terá de ser o seu povo a resolver o problema. É certo que países independentes como a Colômbia já anunciaram que não reconhecerão a legitimidade das eleições de fantochada que Maduro convocou, mas caberá aos venezuelanos lutar, sem recorrer à violência, contra o seu ditador.
É inacreditável como um país tão rico em tantas matérias – não é só petróleo que existe no país – viva na mais dura das misérias. Portugal e, mais concretamente, a Madeira devem preparar-se para a chegada de muitos mais milhares de lusodescendentes. E espera-se que sejam recebidos de uma forma bem diferente do que o foram os retornados das ex-colónias aquando do 25 de Abril. Que se aproveite o seu espírito empresarial e possam reconstruir as suas vidas num país que, apesar de tudo, é uma verdadeira democracia.