Entre os géneros literários, aos caminhos que puxam o instinto para a frente da razão só excecionalmente foram concedidas as maiores honras. Mas há um território que confina com a pele, onde a temperatura desce sem aviso e em que o leitor parece perder as habituais faculdades, e, sentindo-se acossado, descobrir o outro reflexo de si. Os escritores que sabem puxar essa cortina entre o corpo e o espírito, atirar um de umas escadas abaixo e levar o outro por um labirinto, assustá-lo impiedosamente, são como cientistas num laboratório, testando como os nervos ficam presos ao galope da escrita. Mariana Enríquez não é exatamente uma descendente de Stephen King, mas sabe provocar aquele estremecimento na cabeça em que cada estímulo exterior trabalha a favor da inquietação. A realidade desfaz-se no chão e parece haver peças a mais no puzzle, pedaços de figuras que não estavam lá antes, algo mais que o susto, quando começamos a fazer sentido das coisas que nos diz o nosso medo.
“As Coisas Que Perdemos no Fogo” é o seu primeiro livro em Portugal e em tantos outros idiomas além do seu. Nascida em Buenos Aires em 1973, para lá do talento, que às vezes resulta meramente como um poço onde um escritor se deslumbra com os seus próprios ecos, os seus contos denunciam uma outra articulação, a tarimba de quem sabe que para puxar um grande peixe não bastam grandes sacões, mas manter a linha firme, vencer-lhe a resistência. Para lá do convite que as suas breves ficções estendem às trevas para se acercarem, estes são contos de quem lê de pé ou debaixo do lençol com uma lanterna, em que o livro e as palavras cedo desaparecem, e tudo o que é técnica, montagem, em que o projetor fica atrás das nossas cabeças. Depois de estudar jornalismo, dirige há uns anos um suplemento cultural na Argentina e já antes deste livro tinha um assinalável percurso em revistas estrangeiras como a “Granta”, a “McSweeney’s” ou a “New Yorker”.
Como começou o interesse por uma literatura que, mais do que contar histórias, quer causar um impacto físico no leitor?
Quando comecei a ler, em pequena, pensava que o cinema mexia mais com as tuas emoções, que a música te puxava para dançar, e a literatura era mais distante, não tinha a mesma capacidade de nos afetar. Mas ao começar a ler terror senti o poder físico da literatura, percebi do que era capaz. De perturbar-te, não te deixar dormir… Foi uma descoberta que depois abriu a porta a outras emoções, e então pude entender a literatura como uma arte emocionante e comovedora. Mas a porta de entrada foi o medo. Por isso, quando comecei a escrever, sempre me interessou essa literatura, certamente muito premeditada, mas não tão cerebral. Ou menos livresca. Com menos referências ao literário e mais ao real.
Ao contrário do que se passa em Portugal, onde a literatura de terror é um género secundaríssimo e não há sequer uma tradição ou autores que tenham construído uma obra singular no género, na Argentina, este é um género com prestígio. O que levou a isso?
A Argentina tem uma grande tradição de literatura fantástica, e de um fantástico muito negro. Há contos do Cortázar que são de terror. Há um livro de Ernesto Sabato, “Sobre héroes y tumbas”, um livro muito famoso que vendeu muito e que tem partes que são de terror. Borges não escrevia terror, mas era um grande admirador de Lovecraft. E há uma tradição forte de outros géneros menores, como o romance noir, o policial, que na Argentina é muito popular. E, em alguns casos, este também chega próximo do terror. Os escritores de terror, sobretudo ingleses e norte-americanos, são muito populares e não são considerados menores. Alguns são considerados autores de obras de entretenimento mas, mesmo assim, são muito respeitados. Stephen King, por exemplo, não é considerado um autor de livros de aeroporto nem nada que se pareça. Inclusivamente foi traduzido por um escritor argentino, César Aira, que neste momento é dos escritores mais conceituados do país. Não há, por isso, uma resistência à literatura de terror porque se inclui na grande tradição do fantástico, dos géneros menores que, pela sua capacidade experimental, se acercaram dos géneros mais sérios, com os melhores escritores argentinos a viverem entre um e o outro mundo. Portanto, nunca senti resistência ao que escrevo. Henry James escreveu terror, Charles Dickens também. Para mim, maior ou menor, em termos de géneros literários, não se coloca.
A experiência da ditadura e da violência, a que vários dos seus contos aludem de forma mais ou menos direta, justifica esta familiaridade com o terror?
Ao nível do subtexto, a ditadura está sempre muito presente nos meus contos. Foi uma ditadura que teve elementos do género do terror. As pessoas desaparecidas, os aviões onde eram levadas e atiradas ao rio, as crianças roubadas, tantas pessoas que continuam nos dias de hoje a viver com famílias que não são as suas, e nem sequer o sabem… De certo modo, são existências fantasmais. Cresci neste ambiente de medo. Era algo muito concreto, muito real. Creio que uma maneira de me evadir desse medo tão real era ler terror, ficções que, na verdade, não me podiam causar danos. De alguma maneira, era um lugar seguro. Portanto, para mim, usar o terror para falar destas coisas é uma forma de trabalhá-lo, mas não a partir do realismo, não pelo testemunho – géneros que foram explorados e dos quais se falou na Argentina até à exaustão. Julgo que a minha geração teve outra vivência da ditadura, éramos pequenos durante os anos em que se passaram os episódios mais negros e o que ficou em nós são recordações traumáticas com as quais lidámos de forma diversa através de diferentes expressões artísticas. Provavelmente, esta é a minha.
Acredita que para se falar de política não se pode passar ao lado dos mecanismos do medo? Que as próprias diferenças de classe são garantidas através de um discurso que leva os mais desfavorecidos a viverem sob uma constante opressão?
O medo e a violência são partes essenciais da política. A mim não me interessa escrever sobre política tendo um programa por trás, ou uma certeza. Não tenho grandes certezas. Creio que neste momento, no mundo, ninguém as tem. Vivendo-se realidades muito diferentes na América Latina, há uma linha comum: na Argentina passa por um medo à pobreza, o de se ser marginalizado, e, em consequência, trabalha-se o tempo todo e sobrevive-se contra esse medo, tentando não cair na miséria. Porque quando se cai na miséria na Argentina, é muito difícil sair. Toda a gente vive aterrorizada com perder a casa, o trabalho… É uma possibilidade muito real.
O medo do crime na Argentina não é, apesar de tudo, tão grande como no resto da América Latina.
Não porque não vivemos submetidos à cultura narco. Que é uma cultura da morte, violentíssima, na qual se morre muito jovem, e que de alguma maneira é uma cultura terrorista, no sentido em que trabalham para causar medo aos demais. Na Europa, as sociedades na sua aparência têm uma situação muito mais estável economicamente mas, ao nível da violência nas últimas décadas, o tema do terrorismo provocou uma paranoia que os latino-americanos não compreendem. Creio que a política internacional está impregnada desta sensação. O medo é um grande tema em geral, literariamente ou em qualquer outra forma de expressão artística.
Há um fosso geracional entre os personagens e até os narradores dos seus contos e os seus pais. As adolescentes que protagonizam estes contos, muitas vezes, desprezam os pais. Há uma acusação de covardia aos pais, sentindo que eles falharam em segurar o destino do país e das suas vidas.
Depois da geração dos anos 1970, que foi a geração revolucionária, a que foi perseguida e assassinada, que é a geração dos meus pais, creio que o que começou a passar-se foi que chegou a democracia e não houve nenhuma melhoria na vida das pessoas. Sempre se viveu de crise em crise em crise… Então, é como se cada nova geração culpasse a anterior pelo fracasso de, primeiro, não poder fazer frente à ditadura, não poder deter a primeira grande crise económica, nos anos 1980, que deixou grande parte da população na miséria; depois, o processo neoliberal extremo nos anos 1990, que também levou muita gente a sair do país, gente exilada economicamente; e depois a crise de 2001… Portanto, a cada dez anos há uma grande crise económica, e o que isto provoca é que os jovens não encontram futuro na Argentina. Isto leva a que se culpem as gerações anteriores por não terem tido a capacidade de corrigir esta trajetória. Há um efeito de dissidência, porque além do mais a Argentina é um país enorme, com muitas possibilidades, e por isso há uma grande frustração por não conseguir superar os seus problemas.
Além da rutura com os pais, muitas personagens femininas rejeitam também o envolvimento romântico. E não só os homens; há nelas uma rejeição de todo o papel que a sociedade possa atribuir–lhes e mesmo um desejo de autodestruição. Passam fome, emagrecem, empalidecem, gostam de se magoar, sentir dor e provocar-se estados de alucinação através do uso de drogas… Isto representa um desejo por parte das mulheres de se esquivarem de um sistema opressivo que as cerca a 360 graus?
Sim. São mulheres em estado de rebelião, todas. E de confusão. Também há algo nelas que é muito próprio da adolescência. Na minha experiência, o que acontece às mulheres na adolescência é muito impactante. É claro que os rapazes também passam por problemas de integração e adaptação, mas creio que as mulheres crescem sabendo que é esperado delas que desempenhem um determinado papel, e que o seu corpo está muito envolvido nisto, inclusivamente no que toca a ter filhos. As minhas personagens reagem de formas diversas, nalguns casos de forma autodestrutiva. É um comportamento comum entre as jovens, sobretudo nos últimos anos.
Parece-lhe que a literatura já começa a acomodar esse outro aspeto do feminino?
Creio que só o gesto de escrever, para uma mulher, é já um gesto de inconformismo. Porque uma mulher que escreve é alguém que necessita de um tempo diferente daquele que é marcado pelo quotidiano “normal”. Eu não tenho filhos e não quero ter. É uma decisão que tomei há muito tempo e, evidentemente, está relacionada com o que desejo mais. Prefiro escrever a ter um filho. Isso é uma coisa que deve assumir-se, deve ser verbalizado. A mim aborrece-me que me falem de literatura feminina. A literatura é a literatura, e uma mulher que escreve não deve ser uma raridade. De resto, historicamente, sempre houve muitas mulheres a escrever, simplesmente foi–lhes roubada a posteridade. Ou ficaram à sombra de homens ou confinadas a certos temas: os da família, do quotidiano, da intimidade, da emoção, etc.
Escreveu um livro sobre Silvina Ocampo. Porque é que a história dela a cativou?
A verdade é que me foi pedido. Mas nessa altura estava cheia de trabalho, e mesmo assim disse que o queria fazer. Aceitei porque Silvina é o caso de uma mulher e escritora que, por ser a esposa de Bioy Casares e a melhor amiga de Borges, ficou num terceiro lugar, ou quarto, quinto… de uma maneira muito injusta. E há uma ideia de que não lhe interessava estar na linha da frente. Isso é discutível. Silvina tinha uma personalidade muito excêntrica, como Borges tinha. Era uma mulher muito rica, a quem não interessava a vida social, ser uma personagem, mas isso não significa que não fosse uma escritora que trabalhasse muito a sua literatura, e tinha um forte desejo de que esta fosse lida… É verdade que a partir de certa altura se resigna. Não é que tenha ficado frustrada, mas deu-se conta de que o seu lugar seria secundário face ao seu círculo de amizades literárias. Mas creio que, exatamente por ter aceite esse lugar, a sua literatura se assumiu como mais marginal, tornou-se muito extrema. Tem contos muito estranhos, muito perturbadores. Contos sobre abuso infantil, um tema que não se abordava nos anos 1930. E na forma como nos relata isto usa já de uma grande ambiguidade moral, não o condena totalmente. Concede que havia um papel desempenhado pela curiosidade da parte da criança. É um conto muito arriscado, que hoje se leria de forma surpreendente. Naquela altura, o que se passou foi que nem sequer foi lido, ou apenas por muito poucos. É uma escritora muito menos convencional do que Borges e o seu marido. Interessou-me escrever sobre ela porque quis investigar esse lado da escritora absolutamente imprevisível que violava todas as regras já nessa época. É claro que tinha a seu favor as vantagens da sua classe social. Era de uma família muito, muito rica, pelo que ser diferente e excêntrica não lhe custava tanto. Não foi mãe, cuidou da filha que Bioy teve com outra mulher, e criou-a como se fosse sua, mas não teve filhos próprios. Não era convencional nem como mulher nem como escritora.
A Argentina foi arrasada por crises drásticas, pela pobreza extrema, mas nalguns aspetos resiste e parece um país mais sólido a nível regional. Cultural e intelectualmente, Portugal permanece numa situação de periferia, quase excluído dos centros de pensamento e debate, como um país que quase desistiu da sua afirmação cultural. A Argentina, por outro lado, tem altos índices de literacia, incomparáveis, por exemplo, face ao Brasil, onde a larga maioria da população vive numa espécie de obscurantismo. Porque é a Argentina tão resiliente culturalmente?
A Argentina tem aquilo a que chamaria uma cultura de classe média, inclusivamente se socialmente falarmos de famílias pobres, ou de classe média baixa. Isto deve-se em parte à imigração europeia, pessoas que tinham na ideia chegar à Argentina e melhorar a sua situação de vida. Se a melhoria das condições a nível económico se tornou muito difícil, intelectualmente não, uma vez que a educação é pública, ou seja grátis, e os livros são muito baratos. É fácil aceder à cultura… Em Buenos Aires, neste momento, há mais de 100 editoras independentes que apareceram depois da crise de 2001, que foi brutal. E grande parte dos escritores têm uma forma de sobreviver apoiada em comunidades, reunindo-se com grupos de jovens que querem escrever e que, em conjunto, leem textos, escrevem, leem-se uns aos outros. Muitos deles acabam por publicar. Destas comunidades não conheço uma ou duas, mas dezenas delas. No seu tempo livre, os jovens ocupam-se assim. Têm uma vida intelectual. É claro que também fazem as parvoíces típicas e que devem ser feitas na juventude, mas essa cultura do livro como algo importante, da importância dos letrados, do estudo, é algo que se mantém de uma forma muito firme.
A propósito da sua literatura fala-se no terror, que não passa de uma simplificação grosseira daquilo que faz, porque a sua escrita parece produzir muito mais um alto grau de incerteza em que a própria realidade à volta das suas personagens parece tremer… Interessa-lhe dinamitar a noção que temos do realismo na literatura, resultando o próprio romance de uma visão e atitude burguesa, da vida privada, dos complexos do foro íntimo, etc.?
Sim. Há algo da experiência de viver nas sociedades latino-americanas, particularmente ao nível da incerteza, que acredito que se traduz na literatura, na minha como na de muitos autores, em que a realidade não é transparente, é opaca. Não se sabe bem o que se passa. As nossas vidas estão entretecidas em sociedades que não se sabe bem para onde caminham. Não há uma sensação de segurança, não há um para-raios que nos proteja. Essa literatura burguesa, a dos pequenos problemas domésticos e familiares, a do quotidiano das pessoas que vivem bem, é algo de que posso desfrutar esteticamente, perceber a beleza, mas não me mobiliza. Não sinto que esteja a falar de coisas que me pareçam transformadoras. Creio que um escritor jovem latino-americano tem de ter uma antena que registe o que se está a passar ao seu redor. Eu faço-o a partir de uma perspetiva inquietante, que tem elementos de terror, mas não é propriamente terror. Mas essa questão da segurança diferencia-nos. É claro que às vezes há uma certa hipocrisia nessa segurança. Recentemente li um romance de uma escritora espanhola, que se chama Marta Sanz. “Clavícula” é o título. É um romance que, na aparência, não devia interessar-me especialmente, um livro que trata da vida dela como escritora, indo a feiras do livro, fazendo as paragens da promoção dos seus livros. Mas quando o leitor entra no romance dá-se conta de que se trata de uma mulher que vive na corda bamba. O marido não tem trabalho, e ela, a cada feira ou festival a que vai, consegue ganhar 200, 300 euros. Num dia vai à Polónia e traz 300 euros, no outro vem da Bélgica com 500 euros… E vive aterrorizada perante a hipótese de um dia não virem mais convites porque corre o risco de perder a casa. Numa conversa que tive com ela percebi que estes dramas se vivem no âmbito privado e que ninguém os enfrenta publicamente. Ninguém fala de dinheiro, ninguém fala dos medos muito concretos com que vive… Nesse sentido, é um romance muito audaz, porque é a voz de uma trabalhadora em que a escritora surge como uma trabalhadora da cultura, e não como um ser privilegiado e burguês que escreve por prazer. Escreve porque precisa de dinheiro para viver.
Este seu livro teve uma grande repercussão internacional. Foi vendido para 20 países. Porque acha que provocou esta reação quando já tinha escrito outros na mesma linha?
Normalmente, não é muito fácil explicar e, muitas vezes, o autor é até o último a saber o porquê. Mas a partir daquilo que fui ouvindo das pessoas, parece–me que há algo desta realidade fraturada, desta sensação de inquietação e de falta de certezas que provoca empatia com os leitores. Se há algo na realidade que os leitores europeus não podem reconhecer como própria, uma parte dessa instabilidade e medo do desconhecido relaciona-se menos com o sobrenatural e mais com uma antevisão da rutura de uma certa ideia de segurança. Julgo também que o facto de muitos dos protagonistas destes contos serem mulheres também foi importante num momento em que o papel da mulher está muito presente no debate internacional, e isso ultrapassa em muito o âmbito literário. Há um interesse em ler mulheres, perceber o que escrevem as novas autoras. De país para país, as razões alteram-se um pouco.
Pode dar exemplos?
Em França, onde o livro está a vender bastante bem, há aspetos em comum com a realidade argentina, como a violência policial. A polícia francesa é brutal, o que parece estranho num país tão próspero, mas há aí algo que nos indica que nem tudo está bem. Depois há também um certo interesse pela história argentina, particularmente noutros países que viveram sob ditadura. Em Espanha, por exemplo, o tratamento do período da ditadura franquista continua a ser uma questão delicada, apesar de ter terminado há bastante tempo. Lá como aqui, perguntaram-me algumas vezes se na Argentina as pessoas se mostraram ofendidas com a forma como abordo a ditadura. A verdade é que não. Na Argentina fala-se a toda a hora do que se viveu durante os anos da ditadura, não é um tema tabu. É um tema aberto, e não apenas se fala como se ensina na escola. Havia, assim, alguma curiosidade, porque a ditadura ainda é recente. Para os britânicos, o interesse é de outra espécie, pois veem um estrangeiro a trabalhar um género que consideram como próprio. Havia uma curiosidade por ver como esse género é trabalhado noutro idioma. E, com respeito à Argentina, no Reino Unido há um interesse por termos estado em guerra até há pouco com eles [disputa das ilhas Malvinas]. Assim, há uma certa curiosidade em saber o que pensa o inimigo (risos). Há neste livro uma série de temas que são muito locais, ou regionais, e outros bastante universais. Nos países com certa tranquilidade económica há velhas lembranças dos tempos de grande pobreza, um trauma de que este momento bom possa terminar. Os contos de terror têm sempre algo de advertência. São um espelho. Como se dissessem: isto pode acontecer também. Isto, embora esteja esquecido, também é a realidade. Já na América Latina, em países como a Colômbia, por exemplo, nada disto lhes causa arrepios. Até lhes parece brando. Chegam a vê-lo como um divertimento. Provoca-lhes algum medo mas, no que toca à questão política ou social, não lhes causa qualquer calafrio. Nestas sociedades tão perturbadas, como a Colômbia ou o México, o livro tem outros reflexos.