Costa prudente, BE quer mais

Costa prudente, BE quer mais


Líder parlamentar do Bloco de Esquerda defende que saída do Procedimento por Défice Excessivo deve ser tida em conta nas negociações do orçamento para o próximo ano. 


António Costa avisou, no debate quinzenal, no parlamento, que, apesar de Portugal estar à porta de sair do Procedimento por Défice Excessivo (PDE), a margem continuará «estreita», mas o Bloco de Esquerda não deixará de utilizar o crescimento económico e as notícias vindas de Bruxelas para aumentar a pressão nas negociações do Orçamento do Estado para 2018. «Estes dados são novos factores desse debate», diz ao SOL o líder parlamentar dos bloquistas.

«O debate está em curso e o que podemos dizer neste momento é que a realidade está a demonstrar que a nossa base de análise tinha razão de ser e que aquilo que nós defendíamos tinha razão de ser. Tentaremos fazer-nos valer desse facto também durante as negociações», afirma Pedro Filipe Soares, convicto de que «agora ficou mais claro» de que este é o caminho a seguir. «Os dados económicos confirmam que o caminho que tínhamos defendido até agora é válido e que o reforço deste caminho é o que deve ser seguido para continuarmos a ter bons resultados económicos. Esperamos que estes dados económicos, esta saída do Procedimento por Défice Excessivo, venham dar mais condições para nós continuarmos o caminho que está a provar ter efeitos positivos», afirma o líder parlamentar do Bloco de Esquerda.

As notícias são boas, mas desta vez António Costa reagiu com prudência. O primeiro-ministro, num debate dominado pela saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo defendeu que é preciso «avançar com segurança» e que «a margem que nós agora ganhámos é uma margem estreita».

Costa não quer repetir «um processo tão traumático»

Antecipando o aumento da pressão dos partidos que apoiam o Governo, António Costa avisou, numa comunicação ao país feita em São Bento, que «esta tem de ser a última vez que passamos por um processo tão traumático que destruiu empregos, empresas, rendimentos, poupanças e expectativas de vida de muitos portugueses».

No mesmo dia, Passos Coelho deu uma conferência de imprensa, na sede nacional do partido, com uma mensagem idêntica: «desta vez o país precisa que seja diferente e que não volte a acontecer a mesma coisa».

O líder do PSD considerou «tratar-se de um resultado pelo qual todos devemos cumprimentar o Governo do país que assegurou, na condução da política financeira do Estado, as condições que nos qualificam para esta recomendação da Comissão Europeia».

Do lado do CDS, a presidente do partido Assunção Cristas defendeu que é «muito positivo» que Portugal saia do processo por défice excessivo, mas preferia que «a saída tivesse acontecido mais cedo».

PCP não alinha na «euforia» e prevê mais «chantagem»

Com menos entusiasmo, o PCP, pela voz do eurodeputado João Ferreira, avisou, em declarações ao i, que «a euforia não se justifica» e garantiu que os comunistas não alinham no «entusiasmo». O líder parlamentar do PCP, João Oliveira, defende que «aquilo que é agora anunciado põe fim a um instrumento de chantagem e de pressão, mas não será motivo suficiente para que a União Europeia deixe de chantagear Portugal».

Quinze anos a entrar e sair da ´lista negra´ de Bruxelas

Não foi por acaso que o Presidente da República, o primeiro-ministro e o líder do principal partido da oposição estiveram unidos na necessidade de Portugal não voltar a ser colocado na lista negra de Bruxelas. A primeira vez que Portugal entrou em incumprimento foi há 15 anos, no tempo de António Guterres. O país saiu dois anos depois, mas foi por pouco tempo. Em 2005, quando José Sócrates chegou ao poder depois da governação de Santana Lopes, Bruxelas voltou a colocar Portugal no Procedimento por Défice Excessivo. Ao fim de três anos, Sócrates anunciou ao país o défice «mais baixo da democracia portuguesa» de 2,6%.

Portugal não resistiu, porém, à crise mundial que abalou a economia e no final de 2009 voltou a não cumprir as regras de Bruxelas. Desta vez só ao fim de oito anos é que o país conseguiu equilibrar as contas públicas. Este foi não só o período mais longo como aquele em que os portugueses foram sujeitos a mais austeridade.

O mérito da saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo (PDE) é do Governo de Passos ou da ‘geringonça’? O Presidente da República considera que é dos dois. Marcelo Rebelo de Sousa publicou no site da Presidência uma nota a dar conta de que «felicitou o primeiro-ministro, António Costa, e o anterior primeiro ministro Pedro Passos Coelho pelo trabalho dos respetivos governos que permitiram a decisão (…) tomada pela Comissão Europeia». Marcelo recebeu a notícia com «uma grande alegria», mas não deixou de alertar que «amanhã o trabalho continua». O Presidente afirmou que esta decisão «reforça a confiança em Portugal».