Houve uma indignação geral em Portugal e no resto do sul da Europa quando Dijsselbloem insinuou que os países do Sul se preocupavam mais com copos e mulheres do que em pagar as suas dívidas. O que pouca gente percebeu é que Dijsselbloem limitou-se a expressar a opinião que é vox populi em todo o norte da Europa, que vê os povos do sul como preguiçosos e irresponsáveis. Uma vez assisti a uma campanha eleitoral para as eleições alemãs e só se viam cartazes a pedir que os gregos pagassem sozinhos as suas dívidas ou a dizer que os resgates do euro punham em causa as pensões dos alemães. Sempre achei, por isso, que desses países seria de esperar muito mais o preconceito do que a solidariedade.
António Costa, com a habilidade política que se lhe reconhece, achou, porém, que isto seria uma boa oportunidade para marcar pontos na esfera europeia, exigindo a cabeça de Dijsselbloem, e fez um discurso invulgarmente violento nesse sentido. Em virtude do seu caráter insólito, o discurso teve impacto e até Juncker se mostrou surpreendido, respondendo-lhe em tom conciliador. Mas Centeno não se prestou ao frete de exigir a demissão de Dijsselbloem em pleno Eurogrupo, pelo que foi Mourinho Félix que foi enviado para fazer esse papel, aproveitando naturalmente as câmaras para o efeito. Mas Dijsselbloem respondeu-lhe à altura e o que se viu foi que todo o Eurogrupo estava afinal com ele, tendo Mourinho Félix ficado isolado. As entradas de leão não costumam dar bom resultado e o que se viu acabou por ser uma encenação falhada.
Mas se Portugal queria desmentir o preconceito, os seus jovens deram-lhe agora uma grande ajuda, destruindo completamente um hotel em Torremolinos porque não estavam satisfeitos com o serviço, com a complacência dos seus papás, que até perguntam se alguém estava à espera que os seus meninos fossem rezar para Fátima. Suspeito que se alguém voltar a falar a Dijsselbloem da sua entrevista sobre copos e mulheres, ele limitar-se-á a responder com o caso do hotel em Torremolinos.