O abandono de Lisboa


O atual primeiro-ministro, que devia ser hoje o seu presidente da câmara, abandonou a cidade à sua sorte, deixando lá um substituto que só tem feito obras de fachada para turista ver, mas que tornam a vida infernal aos lisboetas


Lisboa tem neste momento uma triste sorte que é a de ter sido abandonada por todos, não havendo ninguém que procure defender os interesses da cidade. O atual primeiro-ministro, que devia ser hoje o seu presidente da câmara, abandonou a cidade à sua sorte, deixando lá um substituto que só tem feito obras de fachada para turista ver, mas que tornam a vida infernal aos lisboetas. É assim que Lisboa vê desaparecerem os seus eixos de circulação rodoviária, assim como o estacionamento, o que impossibilita a população idosa de se deslocar, já que a cidade ficou reservada a ciclistas e corredores. Ao mesmo tempo, os transportes públicos deixaram de funcionar adequadamente, já se tornando habitual para os lisboetas ouvirem dizer que existem “problemas na circulação” logo que atravessam as cancelas do metro.

Ao mesmo tempo, a câmara lança sucessivas e cada vez mais abusivas taxas sobre os cidadãos relativamente a serviços que não presta. É assim que lançou uma taxa de proteção civil, que mais nenhum concelho da área metropolitana cobra, quando a proteção civil dos lisboetas anda pelas ruas da amargura. Na verdade, os cidadãos quase que viram o viaduto de Alcântara desabar sobre as suas cabeças, uma infraestrutura cuja fiscalização é da responsabilidade da câmara municipal. E há tempos, na Graça, um condomínio licenciado pela câmara viu um muro ruir, levando à afetação de nada menos do que quatro prédios. Enquanto se fazem e desfazem inúmeras obras de fachada, a câmara não trata do que deveria tratar, mas não se coíbe de cobrar taxas por serviços que não presta.

A Câmara de Lisboa encara assim os seus munícipes como meros servos da gleba, a quem se cobram taxas, mas com cujas dificuldades não está minimamente preocupada.

Perante este quadro negro, os lisboetas só podem lamentar terem sido também abandonados pelo centro-direita, que optou por desvalorizar as autárquicas, em lugar de arranjar uma alternativa consistente para Lisboa. É assim que, parafraseando Camões, Lisboa parece estar destinada a mais quatro anos metida no gosto da cobiça e na rudeza de uma austera, apagada e vil tristeza.