O problema é que as mesmas pessoas que aumentaram o rigor e, vá lá, a “perseguição” ao trabalhador normal convivem alegremente com a existência de offshores. Já não falo do caso limite de Sócrates cuja vida financeira – mesmo antes da sua constituição como arguido – já circulava por offshores, perante o contentamento e o comprazimento geral. Se o caso Sócrates é um caso de polícia, o combate do Estado português aos offshores é minimal – aliás, temos cá a zona franca da Madeira para dar como exemplo magnífico. Recentemente, o Estado cedeu mais uma vez aos ricos, retirando da lista de “offshores maus” três zonas livres de impostos.
Dentro da própria União Europeia existem offshores: o que são a Holanda e o Luxemburgo que não paraísos fiscais – é lembrar que todas as empresas do PSI-20 tinham há pouco tempo sedes na Holanda para fugir ao fisco português. O voo de 10 mil milhões que aconteceu nos tempos da troika e que já está sob investigação é mais um episódio da diferença com que, perante o Estado e instituicomo a União Europeia, são tratados ricos e pobres.
A UE que nos pede mais cortes nos rendimentos dos pobres – que na língua de pau dos funcionários europeus se chamam “reformas estruturais” – pactua com offshores dentro da sua organização. O problema é profundo e não se resolve de um dia para o outro. Mas antes de mudar o mundo, se se conseguissem mudar algumas mentalidades não seria mau.