Os “pontapés” no bebé Centeno


Se calhar já ninguém se lembra daquele maravilhoso domingo de novembro de 2004 em que Pedro Santana Lopes disse o seguinte, que fez história: “Este é um governo a quem ninguém deu quase o direito de existir antes de ele nascer, e que, depois de nascer através de um parto difícil, teve de ir para…


Se calhar já ninguém se lembra daquele maravilhoso domingo de novembro de 2004 em que Pedro Santana Lopes disse o seguinte, que fez história: “Este é um governo a quem ninguém deu quase o direito de existir antes de ele nascer, e que, depois de nascer através de um parto difícil, teve de ir para uma incubadora, e vinham alguns irmãos mais velhos e davam-lhe uns estalos e uns pontapés.” Santana estava desesperado, por essa altura.

Foi um desespero semelhante que Mário Centeno revelou ontem na conferência de imprensa do Ministério das Finanças. Infelizmente, Centeno não teve resposta para a pergunta crucial: porque é que o seu ministério, quando foi interrogado expressamente se havia um lapso na lei que isentava os gestores da Caixa Geral de Depósitos de entregarem declarações de rendimentos no Tribunal Constitucional, respondeu: “Não é lapso.”

Embrulhou-se e não deu uma resposta substantiva porque, infelizmente, não é possível dar uma resposta que seja ao mesmo tempo verdadeira e lhe permita continuar ministro das Finanças. Mário Centeno é muito melhor do que aquela personagem que ontem apareceu aos portugueses, Tem muito mais capacidades, conseguiu o défice mais baixo, tem apresentado resultados.

Mas ontem era um bebé a quem os irmãos mais velhos (no caso, a oposição e a comunicação social) dão, alegadamente, pontapés. A dor de Centeno ao explicar que o processo de recapitalização envolvia várias complexidades e tinha sido um sucesso, enquanto agora o estavam a fritar por uma questão menor, era incrivelmente parecida com a de Santana Lopes.

Quando um ministro tem de ir ao Presidente da República pedir a renovação da confiança e quando o primeiro-ministro faz o mesmo e publicita-o, a coisa está preta. Portugal não é a França, Marcelo não manda no governo. A necessidade da caução presidencial mostra que as coisas estão a desmoronar-se para os lados do Terreiro do Paço.