Rosetta descobre oxigénio molecular no cometa 67P

Rosetta descobre oxigénio molecular no cometa 67P


Oxigénio é um dos elementos mais abundantes no universo, mas a versão molecular é difícil de detectar. É a primeira vez que é vista num cometa


Já tinha sido visto nas luas geladas de Júpiter e Saturno, mas num cometa? Nunca. Embora o oxigénio seja um dos elementos mais abundantes do universo – apenas batido pelo hidrogénio e pelo hélio – a sua versão molecular é raramente encontrada, por ser extremamente difícil de detectar. Por isso, ver O2 ser libertado por um cometa deixou os cientistas de boca aberta.

“Não estávamos à espera de detectar O2 no cometa – e em tamanha abundância.” Kathrin Altwegg, da Universidade de Berna, não esconde a sua surpresa com a descoberta feita pela nave da ESA. A Rosetta – uma sonda lançada em 2004 e que levou dez anos a chegar ao seu destino – já fez história ao largar um módulo, o Philae, na superfície de um cometa, neste caso, o 67P/Churyumov-Gerasimenko, feito inédito para a Humanidade.

Mas voltemos ao oxigénio molecular. “Foi também uma surpresa porque não há muitos exemplos de detecção de O2 interestelar. E assim, apesar de este ter sido incorporado no cometa durante a sua formação, isto não é facilmente explicável pelos actuais modelos de formação do Sistema Solar”, explica Altwegg, a investigadora principal da Rosina, um dos muitos instrumentos da Rosetta.

As explicações

De 2014 para cá têm sido detectados uma série de diferentes gases a sair do núcleo do cometa – vapor de água, monóxido de carbono, dióxido de carbono, gases nobres e um sem fim de substâncias ricas em nitrogénio, enxofre ou carbono. Tudo normal para um cometa.

Mas como explicar o oxigénio molecular? A equipa da ESA, a agência espacial europeia, tem estudado várias hipóteses para conseguir dar resposta a este enigma, embora ainda nenhuma seja definitiva.

No seu comunicado de imprensa, a ESA avança com vários cenários, todos tendo por base a forte relação que parece existir entre a quantidade de oxigénio molecular e a quantidade de água medida – “tudo indica que a sua origem no núcleo e mecanismo de libertação estão relacionadas”, lê-se no comunicado.

“O O2 gasoso teria primeiro sido incorporado na água em gelo, na fase da nebulosa protosolar do nosso Sistema Solar.” Tudo OK segundo o conhecimento que temos da formação do universo. Mas em algum ponto seria preciso um arrefecimento rápido para que se formasse água gelada onde o O2 pudesse ficar preso em grãos de poeira. Os grãos – explica o comunicado – teriam sido depois incorporados no cometa sem que a sua composição fosse alterada. 

“Outras possibilidades incluem a formação do Sistema Solar numa parte estranhamente quente de uma densa nuvem molecular, a temperaturas 10 a 20ºC acima dos típicos –263ºC esperados para este género de nuvens.” Esta segunda explicação é de Ewine van Dishoeck, do Observatório de Leiden e co-autor do artigo.

No meio de tanta incerteza, uma coisa é certa entre os cientistas: este novo pedaço de informação muda a maneira como vemos o sistema solar. “É um resultado intrigante, para quem estuda os cometas, mas também para a restante comunidade, com possíveis implicações para o nosso modelo de evolução do Sistema Solar,” conclui Matt Taylor, um dos  cientistas da ESA envolvido na missão Rosetta.