O crime foi planeado, mas tinha tudo para correr mal. Quando Líbano Martins decidiu vingar-se de um empresário da ilha do Porto Santo, na Madeira, contratou três homens para o ajudar. Em Maio de 2009, prometeu 50 mil euros a Marco Paulo, Lino e José, empregados na construção civil, para “limparem” Guilherme Alves.
O pagamento aconteceria depois de o “serviço” estar feito e Marco Paulo ficou incumbido da primeira tarefa: comprar uma arma. Líbano Martins – conhecido no Funchal só por “Martins” – entregou-lhe 200 euros, mas Marco gastou o dinheiro em droga e não chegou a comprar a arma. Duas semanas depois, aparecia num barranco perto do Cabo Girão espancado, com um tiro na cabeça e outro no abdómen. Mas sobreviveu.
Com a Polícia Judiciária (PJ) a investigar a tentativa de homicídio, Líbano Martins não desistiu do plano de “eliminar” o empresário do Porto Santo, com quem teria tido desentendimentos relacionados com dívidas. E, dois meses e meio depois, em Julho de 2009, criou uma armadilha para atrair Guilherme Alves à ilha da Madeira, com a ajuda de José e de um irmão deste, Valdir. Coube a José telefonar ao empresário, fazendo-se passar por um investidor espanhol interessado em construir um empreendimento relacionado com Cristiano Ronaldo no Porto Santo.
Atraído pela oportunidade negócio, Guilherme Alves, com 78 anos, voou do Porto Santo ao Funchal e foi recebido no aeroporto por José – que o levou, de carro, para um estaleiro na Achadinha, nos arredores da Camacha. Valdir já lá estava e Líbano foi lá ter. Amarraram o empresário, arrastaram-no para dentro de um armazém, puseram-lhe fita adesiva na boca, cortaram-lhe a roupa, tiraram-lhe o telemóvel e telefonaram a um genro. Numa primeira chamada, às 18h12, anunciaram o rapto do sogro e pediram um resgate de 500 mil euros. O contacto foi repetido, segundo se lê no acórdão do Tribunal de Santa Cruz a que o i teve acesso, às 18h14, às 18h18 e às 18h20. Na última chamada, José avisou o genro: “Ou arranjas o dinheiro ou o próximo és tu”.
O resgate não foi pago e o trio decidiu matar o empresário. Começaram por lhe dar três pancadas na cabeça com um barrote de madeira e atiraram-no para dentro de um poço com sete metros de profundidade com um lancil de cimento amarrado à cintura.
Ainda nessa noite, os inspectores da PJlocalizavam Guilherme Alves através do sinal do telemóvel e vigiaram o estaleiro – de onde ainda viram sair o trio, por volta das 21h30. Só depois entraram no armazém, mas não encontraram nada de anormal, só o chão molhado. José, Líbano e Valdir foram detidos de madrugada, mas como não tinha sido encontrado o cadáver e negaram o homicídio, foram libertados, ainda que constituídos arguidos. No dia seguinte, nas cassetes da videovigilância do aeroporto do Funchal, a PJ viu Guilherme Alves a entrar num carro com José – que acabou levar os inspectores ao poço onde estava o corpo. Nessa altura, já o cabecilha do grupo, Líbano Martins, tinha fugido para o Brasil.
O caso foi julgado no Tribunal de Santa Cruz sem que estivesse presente – apesar de ter enviado um representante para o defender – e, em Março de 2011, foi condenado 25 anos de prisão por homicídio qualificado, tentativa de homicídio qualificado, rapto e profanação de cadáver. Quanto a Lino, apanhou oito anos por ter tentado matar Marco Paulo. E José e o irmão, Valdir, também apanharam a pena máxima.
Há duas semanas, a Polícia Federal do Brasil anunciou a detenção de Líbano Martins, procurado pela Interpol nos últimos seis anos, em São João da Baliza, uma vila do estado menos populoso do Brasil, Roraima. Nos últimos seis anos, contam as autoridades, passou por vários estados brasileiros, abriu um negócio agrícola e investiu na compra e venda de casas e carros. Agora aguarda extradição para Portugal, para cumprir os 25 anos de cadeia.