Santana Lopes. O homem eleito para fazer a transição

Santana Lopes. O homem eleito para fazer a transição


Ganhou a Taça de Portugal, acabou com três modalidades e manteve guerra com Pinto da Costa até abandonar, menos de um ano depois.


O Sporting vivia um momento de viragem. A presidência de Sousa Cintra ia chegar ao fim em 1995, depois de seis anos sem qualquer título, e Pedro Santana Lopes era o senhor que se seguia. A 2 de Junho de 1995, há precisamente 20 anos, o então político destacado do PSD venceu as eleições mais fáceis da sua vida, uma vez que não havia qualquer adversário. O discurso da vitória ajudou a marcar desde logo o tom da sua presidência, numa guerra constante de palavras com Pinto da Costa.

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Santana Lopes teve algo que raramente um presidente consegue ter: um título praticamente na primeira semana. Se a sua responsabilidade principal ia ser a temporada 1995/1996, não deixa de ser verdade que os leões regressaram aos troféus a 10 de Junho, oito dias depois da eleição. Frente ao Marítimo, dois golos de Iordanov decidiram uma final em que o antecessor Sousa Cintra foi saudado e viu o mérito ser reconhecido numa conquista que escapava desde 1982. Se para um a tarefa estava terminada, para o outro estava apenas no começo.

O plantel era visto como um dos melhores da história do clube, mas ia sofrer grandes alterações. Figo ia sair para o Barcelona, Balakov para o Estugarda e Peixe para o Sevilha. Era preciso iniciar a reconstrução e o Verão foi pródigo em contratações: chegaram Pedro Barbosa e Pedro Martins do V. Guimarães, Paulo Alves do Marítimo, Afonso Martins do Nancy, Assis e Ouattara do Sion e Domínguez do Birmingham, entre alguns outros.

O constante conflito com Pinto da Costa surgiu logo em Julho, por altura das eleições para a presidência da liga. A 13 de Julho, em entrevista à TVI, o presidente do Sporting criticava todo o processo que terminara com a eleição do presidente do FCPorto para o organismo. Manuel Damásio apoiou o portista e os leões ficaram arredados da órbita do poder. “Preferimos que o Sporting ficasse de fora desta aliança que existiu. Há uma maneira diferente de ver o futebol entre a nova direcção do Sporting e outros elementos desportivos, sobretudo o presidente do FC Porto”, afirmava, criticando também a lógica de Pinto da Costa, que afirmava que só iria revelar o projecto e programa para a liga depois de ser eleito.

Manuel Damásio também não ficou de fora das críticas. Segundo Santana Lopes, o presidente do Benfica tinha recebido a direcção do Sporting em casa para incentivar o líder de Alvalade a candidatar-se. “Os dirigentes disseram expressamente que só eu poderia derrotar Pinto da Costa e que estavam dispostos a apoiar-me”, contou.

A nível interno, Pedro Santana Lopes não teve um início popular. Foi com ele na presidência que foi tomada a decisão de acabar com o hóquei em patins e o voleibol e foi feito um referendo para que os sócios pudessem determinar que secção sobreviveria juntamente com o atletismo: o andebol levou a melhor sobre o basquetebol.

O futebol continuava a ser a grande prioridade do clube, com o campeonato a escapar desde 1982. Carlos Queiroz manteve-se na liderança da equipa e, apesar da derrota no arranque do campeonato – nas Antas com o FC Porto por 1-2 –, chegou ao final da primeira volta no segundo lugar, com 40 pontos e a apenas cinco dos dragões. Nas competições europeias, a Taça das Taças tinha terminado de forma dramática em Viena, com uma derrota no prolongamento frente ao Rapid, numa partida em que as decisões de Carlos Queiroz e a expulsão infantil de Dani – por pontapear a bola para a bancada já depois de esta ter cruzado a linha lateral – foram muito criticadas.

A dupla contratada ao Sion, Ouattara e Assis. © Joao Paulo Trindade/Lusa

As novelas sucederam-se e a maior rábula foi o jogo de Chaves, a contar para a 16.a jornada. A luz falhou durante os descontos e os leões deslocaram-se propositadamente a Trás-os-Montes a 11 de Janeiro para se jogarem os dois minutos que faltavam. O árbitro Juvenal Silvestre apitou para o final com 2’25’’ no cronómetro da RTP, mas nem assim escapou à ironia de Santana Lopes no final do encontro. “Tenho de ir consertar o relógio. Os dois minutos passaram rápido, tenho o relógio avariado. Não passaram um minuto e 50 segundos… nem um e 45. Tenho de ir mandar consertar o relógio”, comentou.

Por esta altura, o trabalho de Carlos Queiroz começou a ser posto em causa. A seguir à partida de Chaves, os leões somaram três derrotas consecutivas – FC Porto e Sp. Braga em casa, Boavista fora – e caíram para a quarta posição, a um ponto do Boavista, três do Benfica e 14 do FC Porto. A época só não estava perdida porque faltava disputar a finalíssima da Supertaça e os leões mantinham-se na Taça de Portugal. Carlos Queiroz, que no início da época era visto como o símbolo de tudo o que a direcção do Sporting procurava “com humildade trazer para o mundo do futebol e para o mundo do desporto”, recebeu guia de marcha pouco tempo depois e foi substituído por Fernando Mendes, que depois deu lugar a Octávio Machado.

A 11 de Abril de 1996, a aventura de Santana Lopes chegou ao fim. O dirigente não resistiu ao chamamento da política e abriu caminho para a entrada de José Roquette, que foi cooptado e assumiu de vez a aplicação do chamado Projecto Roquette, que pretendia renovar o clube. Tal como o antecessor, José Roquette teve a felicidade de conquistar um título nos primeiros dias do mandato, com os leões a vencerem a Supertaça em Paris frente ao FC Porto por 3-0.