Os Maldini. Cesare mostrou o caminho, Paolo melhorou-o

Os Maldini. Cesare mostrou o caminho, Paolo melhorou-o


As botas do pai eram difíceis de calçar porque a carreira tinha tido muito sucesso. Mas o filho teve ainda mais êxitos.


“The Class of 92” é um documentário com um selo de qualidade impressionante. Conta a história do sucesso da geração júnior do Manchester United e a forma como a fornada composta por Ryan Giggs, David Beckham, Gary Neville, Phillip Neville, Nicky Butt e Paul Scholes serviu de base para uma das maiores hegemonias do futebol europeu. A certa altura, um antigo treinador destaca a importância da proximidade entre os seis, que os levou a incorporar um espírito de constante superação. Se um estava a fazer, os outros não ficavam atrás. Era sobretudo uma questão de motivação, que não existiria se estivessem sozinhos em seis clubes diferentes.

A importância de haver uma fasquia é forte e Cesare Maldini teve uma carreira suficientemente gloriosa para “motivar” o filho Paolo. Nascido na década de 30 no norte de Itália, filho de pais eslovenos, Cesare fez do Milan a sua grande casa. É certo que começou a carreira no Triestina e terminou no Torino, mas foi nos rossoneri que deixou uma marca durante 12 épocas: entre 1954 e 1966.

Cesare Maldini levanta a Taça dos Campeões em 1963, derrontando Benfica. © Getty Images

Cesare era um defesa. Jogava no meio, mas também era utilizado na lateral do lado direito. Não era um jogador espectacular, não decidia campeonatos, mas tornou-se uma referência do clube numa era dourada em que conquistou quatro campeonatos (1955, 1957, 1959 e 1962) e integrou a primeira equipa italiana a vencer a Taça dos Campeões Europeus. A 22 de Maio de 1963, emWembley, com Maldini no onze com a braçadeira de capitão, o Milan de Trapattoni, Rivera e Altafini bateu o Benfica de Coluna, Torres, José Augusto, Simões e Eusébio por 2-1:Altafini deu a volta depois de o Pantera Negra ter inaugurado o marcador. Foi a primeira aventura europeia de glória do clube.

Paolo Maldini ainda não existia, estava a cinco anos de nascer. E quando isso aconteceu, já não viu o pai jogar futebol, uma vez que este terminara a carreira um ano antes, em 1967, com 35 anos. Pelo meio, Cesare fez parte da selecção italiana que disputou o Mundial do Chile em 1962, numa edição em que a squadra azzurra foi eliminada logo na fase de grupos, atrás da RFA e do Chile e à frente da Suíça.

Passagem de testemunho Paolo nasceu em Milão a 26 de Junho de 1968. À imagem do pai, estava destinado a destacar--se na modalidade. Ao contrário do pai, nasceu canhoto.Mas nem por isso viu a carreira dar para o torto.
O Milan foi a sua casa do início ao fim da carreira. Com cinco anos já tinha capacidade suficiente para perceber que o pai era o treinador da equipa sénior. Mas ele ainda estava muito longe de chegar lá. Aos dez anos começou nos escalões de formação e, com 16 anos, na época em que se sagrou campeão júnior, jogou pela primeira vez pela equipa principal, promovido pelo sueco Nils Liedholm, colega do pai durante sete temporadas.

Maldini tornou-se um sinónimo de Milan. E de Milão. Paolo fez 27 jogos em 1985/86, temporada que disputou sempre com 17 anos e, até terminar a carreira em 2008/09, só por quatro vezes fez menos de 20 jogos:2002, 2006, 2007 e 2008. Pelo caminho, venceu tudo o que tinha para ganhar e fez parte de muitas das melhores equipas da história.
O palmarés chega a parecer inacreditável. Se Cesare venceu quatro campeonatos, Paolo quase o duplicou, com sete(1988, 1992, 1993, 1994, 1996, 1999 e 2004). Se Cesare venceu uma Taça dos Campeões Europeus, Paolo ganhou cinco. Ou, melhor dizendo, ganhou duas Taças dos Campeões Europeus (1989 e 1990, esta última contra o Benfica, tal como o pai) e três Ligas dos Campeões (1994, 2003 e 2007). Nas últimas duas, era o capitão e fez história ao erguer o troféu. E ainda esteve em mais três finais, perdidas para Marselha em 1993, Ajax em 1995 e Liverpool em 1995.

Paolo teve colegas de equipa para todos os gostos e feitios. Desde a era dos holandeses com Van Basten, Gullit e Rijkaard, à dos brasileiros com Kaká, Cafú e Ronaldinho Gaúcho. Pelo meio jogou ao lado de figuras como Baresi, Ancelotti (por quem depois foi orientado nas Ligas dos Campeões ganhas em 2003 e 2007), Albertini, Boban, Desailly, Savicevic, Papin, Nesta, Pirlo, Rui Costa, Rivaldo, Shevchenko e Seedorf. Entre muitos outros, claro.

Os anos passaram pelo Milan e Maldini tornou-se o denominador comum. De Liedholm (1985) a Ancelotti (2009), foi ainda treinado por Fabio Capello, Arrigo Sacchi, Óscar Tabárez, Alberto Zaccheroni, Fatih Terim e… Cesare Maldini. Sim, pai e filho estiveram juntos no Milan durante um pequeno período em 2001, logo após o despedimento de Zaccheroni. Na altura, Cesare desempenhou a função de director-técnico, dividindo responsabilidades com Mauro Tassotti. A dupla esteve apenas em acção nos últimos 12 jogos da temporada.

A ligação entre Paolo e Cesare a nível profissional foi maior nas selecções. Primeiro nos sub-21 entre 1986 e 1988, período em que a Itália foi vice-campeã europeia, e depois na selecção A, exactamente dez anos depois, entre 1996 e 1998. Basicamente, foi a qualificação e fase final do Mundial-1998, competição em que a Itália foi afastada nos quartos-de-final, nos penáltis, frente à futura campeã França.

A carreira a nível de selecções foi muito melhor para Paolo (vice-campeão mundial em 1994 e terceiro em 1990) mas, tal como o pai, nunca conseguiu um título. O adeus ao futebol deu-se em 2009, com um recorde de 902 jogos pelo Milan. Foi também o italiano mais vezes internacional (126, entre 1988 e 2002) até ser superado por Cannavaro e Buffon.

A pressão cai agora na terceira geração Maldini. Christian, 18 anos, é lateral esquerdo como o pai e actua nos juniores. Daniel, 13 anos, também está nos escalões de formação. O ditado diz que não há duas sem três, mas a fasquia está lá em cima.