Julen Lopetegui. A escolha na cultura e na identidade


Sessenta e três anos. Eis o que separa a primeira aposta do FC Porto num treinador espanhol desta última. Luis Pasarín foi o primeiro a sentar-se no banco da cidade Invicta. Depois de passar pela selecção espanhola, Valencia e Celta, Pasarín chegou ao FCP em 1951/52, mas não deixaria muitas saudades, pois ficaria ligado à…


Sessenta e três anos. Eis o que separa a primeira aposta do FC Porto num treinador espanhol desta última. Luis Pasarín foi o primeiro a sentar-se no banco da cidade Invicta. Depois de passar pela selecção espanhola, Valencia e Celta, Pasarín chegou ao FCP em 1951/52, mas não deixaria muitas saudades, pois ficaria ligado à derrota humilhante contra o Benfica (2-8) na inauguração do Estádio da Antas. A carreira do espanhol ainda teria passagens por Málaga, Oviedo, Vigo (Celta) e Oviedo novamente. Entre o galego Pasarín e Julen Lopetegui, Pinto da Costa voltaria a confiar a equipa técnica a outro espanhol, Víctor Fernández de seu nome. Lembra-se? Um homem pacato que sabia estar e que até deixou a sua marca ao vencer a Supertaça (1-0 vs. Benfica) e a Taça Intercontinental (Once Caldas nos penáltis) em 2004/05. No entanto, apenas 34 pontos (nove vitórias, sete empates e três derrotas) em 19 jogos na Liga levaram Pinto da Costa a substitui-lo por José Couceiro.

Terça-feira, 6 de Maio de 2014. Eis a data da apresentação do terceiro treinador espanhol da história do FCP. Esta aposta tem muito que se lhe diga. Este homem fez nome a conduzir miúdos à glória e a elevar o bom nome do futebol colectivo que é já imagem de marca de Espanha. No Verão de 2012, conduziu os sub-19 à vitória no Europeu vs. Grécia (1-0). Jesé (Real) e Oliver (Atlético) foram os destaques. Lopetegui assumiria La Rojita (sub-21) em Agosto de 2012, depois de esta ter sido uma desilusão nos Jogos Olímpicos de Londres. Luis Milla não conseguiu ultrapassar a primeira fase. Pior: não marcaram qualquer golo, o que era inadmissível numa equipa com Alba, Mata, Koke, Isco, Tello, Rodrigo e Muniain.

No Europeu sub-21 em 2013, a Espanha de Lopetegui passeou-se no Grupo B – Rússia (1-0), Alemanha (1-0), Holanda (3-0) – e na meia-final frente à Noruega (3-0). A final contra a Itália foi um chocolate de alto gabarito: 4-2, cortesia de Thiago (hat-trick) e Isco. O médio ex-Barcelona assinou uma exibição de sonho.

cultura Espanhola Quando uma equipa como o Bayern Munique contrata Pep Guardiola, conhece o produto, sabe o que esperar, da liderança e do estilo de jogo. É de estranhar por isso as criticas de Beckenbauer à equipa. Quando vamos ao supermercado e compramos pimentos, não é suposto esperarmos que saibam a morangos, certo? Pois bem, o FCP acabou de definir um caminho. Mais do que esperar vencer tudo no próximo ano, o FCP escolheu uma identidade. Definiu a estratégia para os próximos três anos para voltar a agitar o Estádio do Dragão e encher de orgulho as suas gentes. Lopetegui não traz apenas dois Campeonatos da Europa no bolso, Lopetegui respira a cultura espanhola, aquela do passe e vai, a da posse de bola, a do jogar bonito. O treinador basco quer controlar os jogos e que os seus jogadores assumam o protagonismo, lembrando um pouco o que Guardiola disse quando foi apresentado no Barça em 2008.

“Queremos ter a bola, ter a iniciativa e ser protagonistas”, disse nas vésperas do Euro sub-21 no ano passado. Na altura, garantiu que a equipa tinha o mesmo ADN da selecção principal, mas explicou que as diferentes características dos seus jogadores levariam a algumas variantes. Segundo o diário espanhol “El Confidencial”, no último Verão, o ex-guarda-redes do Barcelona e Real Madrid estava bem colocado para suceder a Del Bosque após a Copa no Brasil, pois acumulava então 28 jogos sem perder e dois títulos. Apesar do vento a favor e da alta cotação, Lopetegui decidiu abandonar o cargo e despediu-se com uma mensagem emotiva há quase uma semana. “Agora abre-se um novo périplo profissional e pessoal na minha vida, mas estou seguro de que continuaremos a desfrutar das alegrias que nos vão dar os mais jovens.” A sua relação e sucesso junto dos jovens terá sido um factor decisivo na escolha de Pinto da Costa, um presidente que já contratou 14 treinadores desde 2000-01 (Benfica-11 e Sporting-17).

Ontem, na apresentação como treinador dos dragões, voltou a vincar a sua cultura espanhola. “Temos uma ideia de jogo, uma filosofia, mas também tenho de ver o contexto dos jogadores que vamos encontrar. Precisamos de total compromisso e queremos ser protagonistas em todas as competições em que vamos participar. Queremos jogadores que querem ser protagonistas.” Já Pinto da Costa elogiou o futebol espanhol e o trajecto recente de Lopetegui nas selecções jovens de Espanha. “É a minha primeira, segunda e terceira opção”, garantiu.