Sagres Surf Culture. Ithaka is also “mad”


Vive no meio do mato e é lá que encontra a sua inspiração para surfar, fazer as suas esculturas, fotografar e compor a sua música. Faltará alguma coisa a Ithaka para terminar a vida em grande? O artista conta-nos que ainda quer apostar no cinema, mas vamos com calma. Acabado de chegar a Sagres, aproveitámos…


Vive no meio do mato e é lá que encontra a sua inspiração para surfar, fazer as suas esculturas, fotografar e compor a sua música. Faltará alguma coisa a Ithaka para terminar a vida em grande? O artista conta-nos que ainda quer apostar no cinema, mas vamos com calma. Acabado de chegar a Sagres, aproveitámos para conhecer um pouco melhor este autodidacta multifacetado. Com o tempo apertado, convida-nos para almoçar, e é aqui que começa a contar a sua história.

Natural da Califórnia, Ithaka começou muito cedo com todos os seus projectos. “Desde os cinco anos que fazia fotografia porque o meu pai era amante da fotografia e as minhas primeiras actividades criativas foram nesta área. Depois, com 17, 18 anos, comecei a fazer outras experiências visuais com materiais alternativos, como prateleiras e portas”, conta–nos. Foi aqui que nasceram as pranchas reencarnadas, e são algumas destas que podemos ver em exposição no Sagres Surf Culture, a decorrer onde o próprio nome indica até domingo. Com mais de 300 peças feitas, Ithaka vai buscá-las ao lixo ou apanha-as partidas à beira-mar. “Tinha uma prancha partida no meu apartamento em Hollywood e um dia dei por mim sem nada para pintar, sem uma tela, sem uma porta. Peguei na prancha partida e vi-a de outra maneira. Nos primeiros anos em que trabalhei nelas mudei as linhas originais e dei uns tons dourados, que acabei por ir modificando com o tempo”, explica-nos.

A paixão pelo surf apareceu no meio de tudo isto e hoje o californiano, que se iniciou com o bodyboard, viaja regularmente à procura de ondas boas. “Não vivi perto da praia, mas já tinha interesse pelo surf porque o mercado ao lado de casa vendia revistas de surf e as capas chamavam-me a atenção.” Começou a surfar aos 12 anos, depois de uma viagem que o marcou para sempre. “Tinha um amigo na escola. O pai dele era arquitecto e na época, como a minha família não tinha dinheiro para fazer férias e o pai do meu amigo estava a construir um hotel na ilha de Maui, no Havai, convidaram-me para passar uma semana lá. Durante esta viagem alugámos um barco para pescar e chegamos à baía de Honolua, onde existem as melhores ondas do mundo. Tinham quase 2 metros e vi pela primeira vez na vida ondas sobre o coral e gajos a surfarem-nas. Foi nesta viagem que comecei a surfar.” Mas o dinheiro era pouco e as pranchas muito caras. “Na época vendi a bateria que tinha em casa para comprar uma prancha”, revelou.  Porém, mesmo sem bateria, a música não ficou por aqui.

DA COSTA AO INTERIOR Apesar de ter escolhido o mato no litoral sul do estado de São Paulo, no Brasil, para viver, Ithaka não pára quieto e é nas suas viagens que se baseia para transmitir ao mundo o que sente através das diferentes artes. Se na Grécia procurou as suas origens, foi no Japão que meteu na cabeça que queria vir até Portugal e conhecer o que o pequeno canto do continente mais antigo do mundo tem para oferecer. Questionado sobre escolha, o surfista explica que “estava cansando do sonho americano e da ilusão dos Estados Unidos como centro do universo”. “Eu sempre lutei contra isso e fui viajando. Passei pela Grécia, estive um ano no Japão e já tinha Portugal em mente. Não sei se criei esta ilusão, mas sentia que este país estava a chamar-me.” Nada acontece por acaso. “Um dia, a andar na calçada em Tóquio, estava a pensar num futuro em Portugal e vi um pedaço de cortiça na água. Pisei, apanhei e vi escrito: fabricado em Portugal. Fiquei com aquilo na cabeça.”
Com o trabalho fotográfico sempre presente e a viver no Bairro Alto, foi aqui que a música se apurou. “Tudo começou com uma rubrica na Rádio Comercial, em que falava de música americana. Mas um dia acabou e, como já escrevia uns poemas, a produção achou boa ideia ler as letras que tinha escrito com o som de hip hop de fundo e foi lá que encontrei o DJ Vibe. Depois disto convidaram-me para fazer uma participação com a música “So Get up”, que foi a minha primeira canção. Depois lancei o meu primeiro álbum”, conta.

“SEABRA IS MAD” Para quem não conhece, José Seabra é actualmente director de marketing da Quiksilver em Portugal. Mas antes disso aproveitou bem a sua época para apanhar ondas e foi neste palco que Ithaka o conheceu. “Há muito tempo, numa viagem na ilha da Madeira, surfámos no Jardim do Mar. Eu e ele dentro de água. E foi impressionante a coragem dele. Não era como no Havai, onde já havia salva-vidas, helicópteros. Éramos apenas nós e o João Valente na areia a filmar. Ele [José Seabra] é louco de uma maneira calma.” Ithaka também, e é sobre esta surfada que fala a canção.