Para a maioria dos inquiridos na sondagem da Consulmark2 para o Nascer do SOL/Euronews, Luís Montenegro não tratou corretamente dos assuntos ligados à Spinumviva.
O estudo contém duas questões que permitem perceber como é que os portugueses percecionaram os acontecimento das últimas semanas. Olhando para a forma como responderam, conclui-se que ao dia de hoje os partidos da oposição são penalizados pelo espoletar da crise.
Questionados sobre se concordam ou não com a apresentação de uma moção de censura por parte do Governo, 52,2% dos inquiridos dizem concordar com a iniciativa. Em sentido contrário, 50,7% dizem não concordar com a forma como os partidos da oposição lidaram com esta questão.
Como ponto de partida para uma campanha eleitoral que muitos apostam que vai ser violenta, estes indicadores podem trazer alguma luz às máquinas partidárias e à forma como devem desenhar as estratégias para os próximos tempos. A grande questão é saber que protagonismo deve ter o caso da Spinumviva no debate de campanha e perceber até que ponto é que o tema vai ter influência na hora de votar.
Os dados deste estudo permitem concluir que apesar de não concordarem com a forma como Montenegro geriu o assunto, isso não influi substancialmente na avaliação que fazem do primeiro-ministro. Se vão ou não mudar de opinião até à data das eleições, dependerá em muito de eventuais novos factos que possam surgir, ou de tropeços que possam vir a ser dados por qualquer um dos partidos concorrentes às eleições.
Os discursos dos principais protagonistas políticos nos últimos dias demonstram que também há dúvidas no interior das máquinas partidárias. A verdade é que todos os líderes políticos têm feito declarações públicas a afastar a ideia de virem a fazer campanha à sombra do caso Spinumviva e da atuação de Luís Montenegro. Mas enquanto a campanha eleitoral não começa formalmente, o tema tem sido um exclusivo no debate público, protagonizado por elementos de todos os partidos políticos.
Para já, o eleitorado parece manter-se estável e pouco permeável ao debate político. Isso mesmo é percetível no momento em que se pergunta aos eleitores se já tomaram a sua decisão de voto. Mais de metade do eleitorado (53,2%) diz já ter a sua decisão de voto tomada. Os que dizem ainda não terem decidido ficam nos 46,8%.
São respostas que ajudam a perceber que o comportamento dos eleitores é menos volátil aos acontecimentos do que se poderia supor.
Por outro lado, os resultados confirmam que o eleitorado é conservador, mesmo que as circunstâncias políticas pudessem aconselhar mudanças.



Saúde, Habitação e Educação continuam a ser os maiores problemas para os portugueses
Apesar dos motivos que levaram o país a uma nova crise política, os portugueses questionados pela sondagem da Consulmark2 para o Nascer do SOL/Euronews, dizem estar mais preocupados com o Serviço Nacional de Saúde, a habitação e a educação do que com a crise política, que surge apenas em quarto lugar nas preocupações dos portugueses.
Na lista das 10 maiores preocupações dos portugueses, temas como a imigração e a insegurança, que têm dominado o debate político, surgem no fim da escala, com a insegurança em décimo lugar e a imigração em oitavo.
Os dados da sondagem demonstram que os temas que mais têm gerado polémica e debate nos últimos tempos estão mais relacionados com a agenda de alguns partidos políticos, como o Chega, do que com as reais preocupações do eleitorado.
O tema da saúde e da ausência de respostas do SNS continua a ser a maior preocupação dos portugueses. 36,7% dos inquiridos estão preocupados com este assunto e querem ver respostas por parte do poder político.
Em segundo lugar, entra um outro tema que, nos últimos anos, se tornou uma das maiores preocupações dos eleitores. A habitação, ou a falta dela, preocupa 28,3% dos inquiridos nesta sondagem.
Em terceiro lugar surge a educação, que é um problema para 17,5% dos portugueses.
De acordo com este inquérito, para captar a atenção do eleitorado, os agentes políticos devem deixar para último plano as questões da crise política e do comportamento dos políticos, bem como os temas da imigração e da insegurança.
O trio saúde, habitação, educação, continua, tal como há cinquenta anos a ocupar o primeiro lugar nas preocupações do eleitorado. O que os partidos forem ou não capazes de mostrar que podem fazer de diferente, ou melhor nestas matérias, tem potencial para atrair não só a atenção como o voto dos portugueses.
Daqui até ao dia das eleições ainda muito pode mudar na cena política portuguesa, mas é pouco provável que a lista de preocupações dos portugueses possa ser alterada.

José Constantino Costa: Esta sondagem permite avaliar uma tendência que para já favorece a AD
por Raquel Abecasis
O estudo de opinião que publicamos resulta de 594 entrevistas efetivas. O diretor técnico do estudo explica como devem ser lidos os resultados e que elementos são mais importantes para fazer o retrato do momento atual.
A Consulmark2 foi a empresa de sondagens que nas últimas eleições legislativas mais se aproximou do resultado real das eleições. De facto, os dados publicados pelo Nascer do SOL/Euronews no dia 8 de março de 2024, a sexta feira antes da ida às urnas, não acertaram apenas por décimas. O sucesso do trabalho realizado leva este jornal a manter a aliança com a Consulmark2, no trabalho de procurar perceber as tendências do eleitorado à medida que nos aproximamos de novas eleições.Este é o primeiro de quatro estudos que publicaremos até à véspera das eleições de 18 de maio.
Que leitura é que podemos fazer dos resultados desta sondagem, tendo em conta que ainda estamos a dois meses das eleições?
É mesmo isso, acho que ainda está muito fresco, vamos ver como é que as coisas vão evoluir, mas de qualquer forma acho que há uma tendência que é que de facto a AD, tudo parece indicar que vai continuar a ser a força política mais votada.
E essa conclusão deve-se sobretudo também à pergunta sobre quem é que preferem para primeiro-ministro?
Sim, por essa pergunta e também pela resposta à pergunta sobre quem é que acham que vai ganhar as eleições, que é uma pergunta bastante importante.
Porquê?
Porque é o sentimento que fica. Há três perguntas fundamentais neste tipo de análise. Em primeiro lugar, o próprio resultado, em que as pessoas dizem em quem vão votar. Depois, quem é que acham que tem melhor perfil. E por fim, quem é que acha que vai ganhar. Nós nas sondagens que fizemos para as últimas legislativas, um dos resultados mais interessantes teve exatamente a ver com isso. A pouco e pouco, quando se perguntava quem é que acha que vai ganhar as eleições, o PS no princípio aparecia como sendo o potencial vencedor e com o tempo, com o decorrer das vagas, foi começando a perder, até que na parte final, já era a AD que as pessoas diziam. Não tem nada que ver com o sentido de voto, tem que ver com o sentimento que se tem sobre o que vai acontecer. E aqui até acho que há um outro dado importante, que é a percentagem de pessoas que acham que pode ser com maioria absoluta, quando nada aponta para isso. No estado em que as coisas estão, é um valor que me parece muito importante.
O cruzamento de outras duas perguntas: a da avaliação sobre a apresentação da moção de censura e a da avaliação sobre o comportamento da oposição. Que conclusões é que nos permitem tirar?
Permite perceber qual é a perceção das pessoas sobre os culpados da crise. Há alguém que acaba por ser visto como o causador da situação e que pode ser penalizado pela situação.
A amostra desta sondagem é semelhante à usada na última sondagem?
É exatamente igual, a única diferença é que na última sondagem (antes das eleições de 2024), fizemos oitocentas entrevistas e agora seiscentas.