O que podemos esperar nos próximos dias, caso a moção de confiança do Governo seja chumbada? O Presidente da República já deu a entender que provavelmente teremos de ir a eleições já em maio…
Vai haver eleições, não há outra solução. A moção vai ser chumbada e o Governo fica sem condições. Se a moção de confiança não passa, a bola fica do lado do Presidente da República que, das duas uma, ou pede à AD para indicar outra solução de Governo ou dissolve o Parlamento. Como Marcelo tem uma certa doutrina de não indicar outro primeiro-ministro do mesmo partido penso que irá dissolver o Parlamento em breve.
E parece-lhe a melhor opção? É a terceira vez, em apenas quatro anos, que o Presidente dissolve Assembleia da República…
Acho que é melhor clarificar tudo. Isto também estava tudo muito de pantanas. Um país não deve ter governos minoritários, deve tentar criar maiorias.
Até serem marcadas novas eleições não ficamos numa situação de instabilidade? Uma espécie de ‘pântano’?
Há países mais desenvolvidos que o nosso que têm muitas eleições e que demoram muito tempo a fazer governos. É o caso da Holanda e da Dinamarca, por exemplo. Não acho que haja drama, sinceramente. As instituições funcionam para além dos governos. E, às vezes, os governos até atrapalham. Esta situação tornou-se realmente muito irrespirável. Tem de haver aqui uma clarificação e acho que a votação é positiva.
Em caso de eleições antecipadas espera que, desta vez, seja eleito um Governo com maioria clara?
Espero que sim para poder governar com estabilidade, porque os tempos não estão para brincadeiras. Temos um louco em Washington, temos uma guerra na Europa, temos ameaças com esta questão da guerra comercial e das tarifas. Há imensas nuvens no horizonte, por isso o país precisa de estabilidade. E Portugal, como tenho defendido, é um porto de abrigo. Sempre que há uma situação de guerra no centro da Europa, Portugal é um porto de abrigo, não só pela posição geográfica, mas pela estabilidade e as condições que tem para atração de investimentos. Portugal não tem atraído só turistas, tem atraído residentes. Não tem atraído só imigrantes do Bangladesh, tem atraído americanos, alemães, do Norte da Europa e muitos jovens. Para aproveitar essa situação geográfica, precisamos de um Governo que governe e que dê estabilidade ao país.
Se formos a votos quem tem maior probabilidade de vencer nas urnas?
Acho que o PS tem muitas probabilidades de ganhar as eleições, mas, sobretudo, é importante ter condições para governar, o que não tem acontecido até agora. Temos andado em situações difíceis nos últimos anos, mas, mesmo assim, Portugal tem crescido acima da Europa. E Espanha também, já agora. Espanha tem um problema brutal a nível de regiões, tem um governo com uma maioria muito periclitante e foi o país que mais cresceu na Europa. E porquê? Não é que o governo seja fantástico. É a situação geográfica. Sempre que há uma crise no centro, as pessoas, o dinheiro, o investimento, vão para onde é mais seguro. E, por acaso, nos Pirineus está-se mais seguro. Se tivéssemos estabilidade, em vez de crescermos 2,5%, talvez crescêssemos 3,5%…
O próprio primeiro-ministro admite que ‘mais vale dois meses’ de instabilidade do que ‘um ano e meio de degradação’…
E bem, a clareza faz sempre bem. Isto estava um “pântano”. Eu próprio tenho de esclarecer as coisas.
Então não vê com maus olhos a opção de haver eleições antecipadas?
Isto é a democracia a funcionar. É saudável. Acho que é dar as mãos aos povo, sinceramente. Até porque a situação que se tem discutido nos últimos dias é muito grave do ponto de vista político. Houve muita imprudência de quem parecia ter muita experiência, mas que foi imprudente na atividade que tinha, empresarial e outras. E, por outro lado, também do ponto de vista ético. Do ponto de vista jurídico, para já não há nada. No futuro se verá. Mas na política o que conta são as perceções, sempre foi assim: ‘À mulher de César não basta ser séria, deve parecer séria’. É cruel, mas é assim. Pode haver uma pessoa muito séria e muito decente, mas se não parece… Não havendo questões jurídicas têm de ser os eleitores a decidir se confiam neste Governo e neste primeiro-ministro ou se querem mudar. É simples e claro.
Não acha que já há um certo cansaço da parte dos portugueses por estarem sempre a ir a eleições?
Como vivi antes do 25 de Abril, as pessoas antes estavam fartas por nunca irem a eleições. Agora queixam-se que é demais. Eu, pessoalmente, prefiro ter a mais do que a menos.