Aeroporto: Sismos no Seixal fazem tremer localização de Alcochete

Aeroporto: Sismos no Seixal fazem tremer localização de Alcochete


Investigadora do Técnico diz que localização ‘apresenta moderada perigosidade sísmica’, mas Henrique Chaves, num artigo de opinião, de 20121, no Nascer do SOL, admitiu que ‘colocar o aeroporto principal do país no olho do furacão, na zona de maior gravidade e probabilidade sísmica, só se pode conceber num país de loucos e irresponsáveis’.


A zona do Seixal voltou a tremer. Ocorreram vários sismos no espaço de 24 horas. Um deles foi mais sentido e decorreu na segunda-feira, com magnitude 4,7 e a ocorrência destes eventos faz soar alarmes em relação ao futuro aeroporto de Lisboa. Um deles diz respeito ao facto de Alcochete estar localizado numa zona de maior risco sísmico. 

Henrique Chaves, antigo ministro de Santana Lopes e um dos fundadores do PSD, num artigo de opinião publicado pelo Nascer do SOL, em março de 2021, defendia que «colocar o aeroporto principal do país no olho do furacão, na zona de maior gravidade e probabilidade sísmica, só se pode conceber num país de loucos e irresponsáveis». 

Ao nosso jornal, Mónica Amaral Ferreira, investigadora do Instituto Superior Técnico (Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade – CERIS), afirma que, de acordo com a regulamentação para os projetos de estruturas, a zona do Campo de Tiro de Alcochete apresenta moderada perigosidade sísmica. «Inclui-se na zona 1.3 (sismo distante, de maior magnitude) e na zona 2.3 (sismo próximo de magnitude moderada) do Eurocódigo 8. São as mesmas zonas em que se insere, por exemplo, toda a região de Lisboa. Das localizações estudadas, Santarém é a única que está fora da zona 1.3, mas que está próxima da pior zona geradora de sismos próximos», salienta. 

E lembra que o risco sísmico depende da conjugação de três fatores: «Perigosidade – exprime-se pela possibilidade de ocorrência de vibrações sísmicas com determinada severidade, nesse local. Vulnerabilidade – característica que um elemento (estrutural ou outro) quando exposto ao perigo tem para sofrer determinado impacto ou dano (por incapacidade de responder à ação imposta) e exposição – está relacionada com os elementos físicos que estão localizados em áreas de perigosidade, como sejam população, urbanização e todos os recursos relacionados com o desenvolvimento económico». Ainda assim, admite que o risco diminui quando as construções mais vulneráveis e não-resistentes são reforçadas ou substituídas por novas construções.

Sismos vão ser mais frequentes?

Para Filipe Rosas, geólogo e diretor do Instituto Dom Luiz da Universidade de Lisboa, não há nenhuma base científica para dizer que vamos ter cada vez mais sismos. Ao Nascer do SOL garante que prever isso «é pura especulação, sem nenhum suporte científico», afirmando que o que se pode garantir é que no espaço de seis meses houve dois sismos que foram sentidos. «Há muitos sismos de magnitude um bocadinho mais elevado e outros um bocadinho mais baixos e podem ocorrer em todo o mundo uns dez sismos por dia. O que acontece é que, na generalidade dos casos, por serem sismos de baixa magnitude não se fazem sentir e, por outro lado, há uns que estão mais próximos dos sítios onde estamos e, como tal, fazem-se sentir mais».

Ainda assim, o investigador admite que, por estarmos numa zona de risco de sismo considerável devemos estar preparados, quer do ponto de vista da formação cívica da população, quer do ponto de vista da construção, para um sismo de maior magnitude, uma vez entender que «a probabilidade de ocorrer é bastante grande». No entanto, lembra que os de maior magnitude, como o que ocorreu em 1755 e em 1969, ocorrem mais longe do nosso território. «Estes sismos que têm ocorrido atualmente não são desta categoria. E acontecem ao longo de falhas que, muitas vezes, se formaram durante uma evolução geológica muito anterior, muito antiga, é como se fossem zonas fraturadas, zonas que ‘racharam’, às vezes, há centenas de milhões de anos».

O nosso território «tem a particularidade de pegar nestas fraturas antigas, nestas falhas antigas que se formaram em contextos muito diferentes no passado geológico e reativá-las».

De acordo com o geólogo, apesar de as causas que estão por detrás destas ocorrências não serem novas, estes sismos que foram sentidos devem servir para pressionar o Governo, não no sentido de questionar a legislação, uma vez que entende que tem sido atualizada dentro do quadro das diretivas europeias, mas sobretudo na fiscalização relativamente à qualidade de construção, em particular no que diz respeito às infraestruturas fundamentais como hospitais, escolas, viadutos, etc.

Também Mónica Amaral Ferreira acredita que «vamos ter, com certeza, no futuro outros sismos, com maior e menor magnitudes», mas também diz que «o importante é fazer chegar o conhecimento e informação à população de que vivemos num país com risco sísmico, que podemos impedir o aumento do risco com intervenções de reabilitação de edifícios adequadas, que se deve contemplar a legislação e exigir mais fiscalização das estruturas».

E não hesita: «É preciso estar consciente de que determinadas obras de alteração ou ampliação de edifícios, intervenções onde muitas vezes se faz a demolição de paredes (elementos estruturais), se não forem devidamente acompanhadas e avaliadas por engenheiros da área da segurança estrutural e sísmica, podem fragilizar o edifício e comprometer a segurança de pessoas e bens, ou seja, aumentam o risco sísmico em termos humanos e económicos».

Edifícios mais antigos são mais perigosos

De acordo com Mónica Amaral Ferreira, os edifícios mais antigos, anteriores à década de 90, «cujos regulamentos não contemplam o mesmo grau de segurança sísmica que o atual, poderão apresentar maior risco sísmico e, consequentemente mais danos». E perante este cenário defende que «ao saber-se isso é necessário que os decisores políticos definam as estratégias e medidas de avaliação e mitigação do risco para estas construções, para os territórios, de forma a melhorar a segurança e reduzir o risco de vítimas, feridos, e diminuir as perdas de bens, serviços e património».