Crise nas urgências leva à demissão do diretor do São Francisco Xavier

Crise nas urgências leva à demissão do diretor do São Francisco Xavier


O pedido de demissão será efetivo no próximo mês.


João Carlos Furtado, diretor da urgência do Hospital São Francisco Xavier, apresentou o pedido de demissão, que será efetivo no próximo mês. O médico, que também gere as urgências dos hospitais Santa Cruz e Egas Moniz, integrados na Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental, trabalha na instituição há duas décadas.

Embora as razões formais para a demissão não tenham sido divulgadas, a RTP avança que Furtado estaria em desacordo com a organização da unidade. Em resposta, a Unidade Local de Saúde iniciou o processo de substituição do cargo.

A decisão de João Carlos Furtado ocorre num contexto de desgaste crescente entre profissionais da urgência do São Francisco Xavier. A título de exemplo, em abril de 2023, 16 chefes de equipa do serviço de urgência de Medicina Interna apresentaram a demissão, alegando falta de soluções estruturais. Segundo os médicos, a escassez de assistentes hospitalares, o excesso de turnos extraordinários e a ausência de mudanças concretas contribuíram para a saturação das equipas, após dois anos e meio de elevada pressão devido à pandemia.

Na altura, Rita Perez, presidente do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO), reconheceu o cansaço dos profissionais e considerou a situação “absolutamente compreensível”. Apesar dos pedidos de demissão, os médicos continuaram em funções enquanto o Conselho de Administração tentava implementar medidas para assegurar o funcionamento do serviço.

À época, o CHLO contava com 43 especialistas em Medicina Interna, mas muitos já não realizavam urgências devido à idade. Apenas nove internistas estavam alocados ao serviço de urgência em horário diurno durante a semana, tornando difícil manter a carga horária de 40 horas semanais.

Para aliviar a sobrecarga, o hospital criou um sistema de atendimento diferenciado para casos não urgentes, reduzindo a pressão sobre a Urgência Geral. Além disso, foram autorizadas contratações de oito novos especialistas que terminaram a formação, embora ainda haja dependência de médicos tarefeiros, que cobrem 518 horas semanais.

A direção do hospital afirmou estar empenhada em implementar alterações para melhorar o funcionamento do serviço, mas admitiu que mudanças estruturais levam tempo e enfrentam desafios significativos.