Poupar. “A manta é o aquecimento universal mais barato que existe”

Poupar. “A manta é o aquecimento universal mais barato que existe”


Muitas casas portuguesas não estão preparadas para temperaturas baixas. Ao mesmo tempo, a esmagadora maioria dos ordenados não permite luxos como ter o ar condicionado ou o aquecedor sempre ligados. Fique a conhecer alguns truques para se aquecer e poupar nos dias mais frios.


Ao contrário do que acontece na Noruega ou na Islândia, a maioria das casas portuguesas não está preparada para o frio, mesmo que moderado. “Lembro-me de, ao longo do meu crescimento, ter ido a várias casas e estabelecimentos com radiadores de ferro nas paredes, mas não tenho recordações de estarem ligados”, conta Clara Antunes. Em pequena, na casa da sua infância, a família tinha uma lareira no piso inferior – onde ficava a sala de estar – e, quando a apagavam para irem dormir, partilhavam um pequeno aquecedor a óleo. “A minha mãe começava no meu quarto, seguia para o do meu irmão e terminava no dela e do meu pai. Deixava-o ligado enquanto víamos televisão junto à lareira garantindo que, ao se deitar, o quarto já estava aquecido”, continua. A casa tinha quatro pisos, por isso era difícil o calor chegar “lá acima”. “Nós saímos de casa, os meus pais mudaram-se e a forma de se aquecerem também. A lareira foi substituída por uma salamandra a pellets, que são mais caras do que a lenha. O meu pai diz ser por ‘uma questão de comodidade’ e, o aquecedor a óleo que partilhávamos agora só tem de aquecer um quarto”, acrescenta.

No entanto, nem todos os portugueses conseguem suportar a despesa que representa aquecer a casa e optam por truques mais ou menos criativos. Ao mesmo tempo, há casas difíceis de aquecer pela forma como foram construídas e seria necessário gastar fortunas para resolver o problema. Por isso, há que conseguir dar a volta.

Manta, chá de camomila e resguardo elétrico

José Pereira trabalha muitas horas sentado em frente ao computador. Como a sua casa é aberta, com mezanino, o calor acaba por se dissipar em todas as direções: “Não consigo aquecer a casa de maneira nenhuma. Os miúdos não têm frio, porque se mexem, brincam… Eu, como passo muitas horas em frente ao computador, chega a uma altura em que me sinto gelado”, confidencia. Um dos seus truques é “aquecer zonas localizadas”. “Ligo o ar condicionado no quarto, por exemplo. Com a porta fechada, o calor mantém-se”, explica. Em dias mais frios e, sobretudo ao fim-de-semana, opta por acender a lareira. “Não aquece muito a casa, mas sempre tenho um ponto de calor onde posso ter algum conforto de vez enquanto”, admite. No entanto, nada é mais eficaz do que a manta. “Não é preciso estar de casaco, gorro e luvas se tivermos uma mantinha! A manta é o aquecimento universal mais barato que existe. E toda a gente tem uma mantinha!”, brinca. Também às refeições recorre a um pequeno truque: “Nalgumas das noites mais frias do inverno, ao jantar, em vez de acompanharmos a comida com bebidas frias, optamos por um chá quente de camomila”, acrescenta. “E acabamos por nos deitar mais cedo. Vivemos mais os ciclos do ano. A minha mulher, como é friorenta, tem um resguardo elétrico que lhe aquece o lugar na cama. Eu não quero, mas às vezes arrependo-me…”.

Sacos de água quente e duas gatas

Fernanda Pinela reconhece ser muito friorenta. Desde que se mudou para uma pequena casa já muito antiga da sua tia em Santiago do Cacém, tem de se preparar para enfrentar os dias mais frios. “Arranjo sempre formas diferentes de me aquecer!”, garante. “Durante o dia deixo o desumidificador ligado para limpar o ar. Durante a noite, evito meter o aquecedor no máximo para não gastar muito”, conta. Faz questão de tomar um banho quente antes de ir para a cama e possui sacos de água quente que coloca não só nos pés ou barriga, como alinhados na beira da parede, para evitar sentir o frio. “São aquelas paredes antigas, geladas. Uma amiga deu-me a ideia de colocar uma placa de esferovite ou de cortiça para me proteger do frio da parede”, adianta. Além disso, dormir com duas gatas coladas a si também ajuda. “Como tenho dores musculares, também uso aquela pomada de cavalo que queima a zona onde a colocamos. Nos momentos de mais frio ajuda muito! Outra coisa importante: não ir com a barriga vazia para a cama. Beber pelo menos um chá. Quando estamos com fome, temos mais frio”, defende. Mas há quem não goste de botijas de água e opte por as elétricas. “Nos dias de mais frio uso pijamas polares, uma botija elétrica e edredom. Quando não tenho tanto frio, uso apenas o edredom com manta polar”, diz por sua vez Isabel Ribeiro.

Várias camadas de roupa

Mariana Martins mora numas águas furtadas. “No verão é muito quente e no inverno é muito frio. Tenho ar condicionado, mas evito ligar para não gastar muito”, revela. Nos dias em que tem mais frio veste leggings ou colãs por debaixo do pijama. “Os pijamas polares são sempre uma boa opção. Tal como as meias. Nos dias mais críticos visto outra camisola por baixo do pijama. Fico super quente e acabo por acordar cheia de calor, mas prefiro isso do que adormecer com frio”, explica. Para Mariana, apostar numa boa manta também é sempre uma excelente opção. “Também uso botijas de água quente. Tenho duas. Já usei aqueles aquecedores super pequeninos que se encontram com facilidade e são super baratos, mas desde que um rebentou, que fiquei com receio”, lembra. Mariana Martins lembra ainda que há pessoas que isolam as janelas de forma improvisada, “com longas tiras de fita cola ou aquela fita em borracha adesiva”. Gosta de acender velas. “Dá-me uma sensação de aconchego e calor. De manhã, meto-me um bocadinho ao sol”, acrescenta.

Segundo os especialistas, deveria haver mais apoios para ajudar os portugueses a aquecer as suas casas. “Considerando a atual capacidade económica da população e as condições do parque habitacional, para muitas famílias seria necessário apoio extra, além daquilo que são as orientações referidas”, defende Ricardo Almendra, professor na universidade de Coimbra e investigador no Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT). “Entre várias medidas que têm vindo a ser testadas e aplicadas, destaco, a médio e a longo prazo, a necessidade melhorar a eficiência energética do edificado, quer pela requalificação, quer, aquando da construção, pelo respeito das boas práticas em termos de gestão energética”, destaca. “No imediato, seria necessário garantir que as famílias conseguem utilizar sistemas de aquecimento adequadamente, destacando-se aqui as barreiras económicas e a necessidade de literacia no que se refere à utilização destes sistemas. Gostaria de referir ainda as vantagens de ter sistemas de alerta e monitorização ajustados e adequados, conjugando as dimensões meteorológica e social”, acrescenta o investigador.

Cuidados a ter

Grupos de risco

  • Adultos acima dos 65 anos e idosos em geral
  • Bebés e crianças até aos cinco anos
  • Pessoas com doenças crónicas
  • Pessoas em situação de sem-abrigo
  • Grávidas
  • Pessoas com doença mental

Manter a temperatura da casa

  • A temperatura da casa deve ser mantida pelo menos a 18ºC, em especial se houver idosos, pessoas com doenças crónicas ou com problemas de mobilidade;
  • No caso das pessoas ativas e saudáveis, as temperaturas interiores abaixo de 18ºC são perfeitamente aceitáveis, desde que se sintam confortáveis;
  • Os bebés devem dormir com uma temperatura ambiente entre 16ºC e 20ºC.

Cuidados a ter em casa

  • Areje e ventile a casa diariamente, para prevenir a condensação e humidade. Aproveite sobretudo o período entre o meio da manhã e o início da tarde, quando a temperatura exterior é mais elevada. Depois dessa hora, feche portas e janelas (verifique se estão bem calafetadas) e previna correntes de ar;
  • Para aquecer a cama, use botijas de água quente ou um cobertor elétrico, mas nunca os dois em simultâneo. Atenção: desligue sempre o cobertor elétrico quando se deitar;
  • Verifique regularmente o bom funcionamento dos equipamentos de aquecimento, elétricos ou a gás, antes de os usar;
  • Se utilizar lareiras, braseiras, salamandras ou equipamentos a gás, assegure se há suficiente ventilação na divisão da casa em que estão a funcionar, para evitar a acumulação de gases nocivos;
  • Não utilize equipamentos de aquecimento de exterior em espaços interiores, nem equipamentos de aquecimento interior no exterior.

Fonte: Hospital da Luz