CFP revê em alta crescimento mas aquém da meta do Governo para 2024

CFP revê em alta crescimento mas aquém da meta do Governo para 2024


Organismo acredita que os excedentes orçamentais deverão manter-se entre 2025 e 2028, mas ‘de menor dimensão do que o projetado em abril, em consequência do impacto das medidas entretanto aprovadas’


Afinal, a economia vai crescer mais este ano do que estava previsto. O Conselho das Finanças  Públicas (CTP) apontou para um ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em volume para 1,8% em 2024 – mais do que os 1,6% que previa em abril, mas aquém dos 2,3% registados no ano passado e da meta estimada pelo Governo, que aponta para um crescimento de 2%. Já para 2025, a entidade liderada por Nazaré da Costa Cabral acena com um crescimento de 2,4% e depois irá abrandar para 2,1% em 2026, «impulsionado pela aceleração do investimento público, especialmente através da execução dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)». 

Perspetivas que não surpreendem o analista da XTB Vítor Madeira, que lembra ao Nascer do SOLque «normalmente Portugal não se encontra no topo do crescimento europeu», daí admitir que é natural ficar abaixo de outros países. «Portugal esteve a crescer mais que a média nos últimos tempos, estando em contraciclo, agora que os outros começam a crescer mais, Portugal poderá ficar atrás. Temos de entender que a economia portuguesa não é tão dinâmica no campo produtivo como outras europeias e que o facto da dívida das empresas e famílias ser alta numa altura de taxas de juro elevadas incapacita o crescimento económico, logo não é de admirar este abrandamento». 

Já em relação aos alertas que apontam para um abrandamento da economia devido à execução do PRR, o responsável não hesita: «As medidas de política com impacto no rendimento disponível das famílias deverão contribuir para o dinamismo do consumo privado em 2025. O término do PRR terá em 2027 um impacto negativo significativo no investimento, em especial na sua componente pública e no próprio consumo público, justificando a desaceleração do crescimento do PIB para 1,6% nesse ano».

Segundo o organismo liderado por Nazaré da Costa Cabral, «no médio prazo, em políticas invariantes, o ritmo de crescimento da economia portuguesa deverá convergir para valores em torno de 2%, suportados pela manutenção de aumentos da produtividade aparente do trabalho elevados numa perspetiva histórica, facilitados por um crescimento do capital disponível por trabalhador no horizonte de projeção».

Para o mercado de trabalho, o Conselho das Finanças Públicas aponta para um maior ritmo de criação de emprego em 2024. No entanto, «as condicionantes demográficas deverão limitar o seu crescimento a médio prazo’, projetando um crescimento nulo do emprego no final do horizonte de projeção, enquanto a taxa de desemprego deverá diminuir de 6,5% em 2024 para cerca de 6% em 2028».

Inflação desacelera

Os dados do Conselho das Finanças Públicas dizem que a taxa de inflação, medida pelo índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC), deverá também desacelerar para 2,7% em 2024 e 2,2% em 2025, estabilizando em torno de 2% a partir de 2027, influenciada pela política monetária do BCE e pela diminuição das pressões inflacionistas associadas aos preços das matérias-primas energéticas e bens alimentares.

Ainda assim, Vítor Madeira diz que o facto de a inflação estar a baixar não significa que os preços estão a cair, antes «significa que os preços sobem mais devagar do que subiram anteriormente». E refere que «para que os preços caíssem tínhamos de ter um cenário de inflação negativa (deflação), algo que não está a acontecer nem se prevê que vá acontecer». 

Face à projeção realizada em abril, o CFP revê em alta o saldo orçamental para 2024 (0,7% do PIB). No entanto, em comparação com o saldo ajustado de efeitos não recorrentes verificado em 2023 (1,7% do PIB), estima-se uma redução em 1 p.p. do PIB. «Esta quebra reflete o impacto das medidas de política económica aprovadas tanto no OE/2024 como já em 2024», salienta. 

Para os anos de 2025 a 2028, o CFP revela que se mantém a perspetiva de excedentes orçamentais (0,4% do PIB no final do horizonte), mas de menor dimensão do que o projetado em abril, em consequência do impacto das medidas entretanto aprovadas. Já o rácio da dívida pública deverá situar-se em 78,3% do PIB em 2028, o que representa um decréscimo de 20,8 p.p. do PIB face ao observado em 2023. 

Mas deixa um recado:«Ao presente cenário macroeconómico do CFP subjazem riscos descendentes em grande medida relacionados com o contexto externo de elevada incerteza, incluindo tensões geopolíticas associadas à fragmentação do comércio mundial e a conflitos armados, o risco de volatilidade nos mercados financeiros, nomeadamente devido à evolução da inflação, e da própria política monetária, bem como, de forma mais gradual, os riscos associados às alterações climáticas e à degradação do capital natural», lê-se na nota.

Já em relação aos riscos ascendentes, aponta para uma variação mais favorável da procura interna, «desde logo do consumo privado, num contexto de maior propensão a consumir por parte das famílias, aliada a taxas de poupança elevadas, diminuições da taxa de juro e medidas de política fiscal com impacto positivo sobre o rendimento».

O organismo diz ainda que, no seu conjunto, «consideram-se os riscos globalmente equilibrados, tanto para o crescimento como para a inflação», mas lembra que para «o cenário orçamental, o principal risco encontra-se associado ao quadro de incerteza assinalado quanto às projeções macroeconómicas. Adicionalmente, assinalam-se fatores que podem afetar a projeção do CFP, designadamente em relação à quantificação das medidas de política económica».