Falta de senso, de conhecimento e desperdício de recursos


De acordo com um documento Agência Internacional de Energia, num cenário Net-Zero, seria necessário cerca de um trilhão de dólares por ano durante as próximas duas décadas, para além de 2030.


80 milhões de km de redes!!‼ É a quantidade espantosa de redes elétricas a construir ou substituir para cumprir os objetivos globais em matéria de energia e clima. O que são 80 milhões de km?… o equivalente a dar 200 vezes a volta completa à Terra, para alem dos cerca de 70 milhões já existentes. Isto é o que a Agência Internacional de Energia nos comunica, numa visão ainda muito influenciada pela Energiewende alemã.

De acordo com este documento, num cenário Net-Zero, seriam necessários cerca de 1 trilhão de dólares por ano durante as próximas duas décadas, para além de 2030. É o PIB dos Países Baixos, quatro vezes o PIB do nosso país. Todos os anos. Durante duas décadas.

Segundo eles, a infraestrutura que começámos a construir há séculos, tornar-se-ia um dos mais importantes facilitadores da transição energética global. Com a procura de eletricidade a crescer rapidamente, os centros de procura cada vez mais dispersos e a produção de eletricidade cada vez mais distribuída, há uma necessidade dramática de aumentar as “autoestradas de eletrões” – e de as tornar modernas e digitais.

Esta visão é compartilhada pelos decisores políticos nacionais, onde a proposta da REN, mais modesta, é de aumentar 10 % aos 15 000 km de linhas já existentes.

Para se ver o absurdo deste número, a produção destes cabos (cinco cabos em média) exigiria 9% da produção mundial de energia de um ano. Isto só para os cabos. Acrescentem-se as torres, as bases de betão, as estradas de serviço, os postos de transformação. A agenda net zero, baseada na substituição dos combustíveis fósseis apenas por fontes renováveis (até a Climáximo defende isto) é pura insanidade.

A massa total de metal para 80 milhões de quilómetros de linhas elétricas aéreas com 5 cabos por quilómetro seria de aproximadamente 162 milhões de toneladas métricas de alumínio.

Segundo cálculos elaborados com base nos ratios atuais, iriam necessários aproximadamente 2.300 TWh de energia para produzir as 162 milhões de toneladas métricas de alumínio. Para comparação, o consumo anual total de eletricidade em todo o mundo é de cerca de 25.000 TWh, pelo que isto representa cerca de 9% do consumo anual global de eletricidade. E o mais disparatado é que grande parte desta infraestrutura apenas funcionaria em menos de 30 % do tempo, que corresponde ao fator de capacidade média das energias renováveis intermitentes. Estas, devido à sua baixa densidade energética e intermitência, exigem potências muito elevadas para satisfazer o volume de energia necessário (que terá que ser transportada, armazenada e depois novamente distribuída.

Os que defendem esta visão argumentam com o facto do sol e o vento serem gratuitos. Mas não é gratuita a infraestrutura para a capturar, de que as redes são uma parcela importante, nem o aço, o betão, o vidro, o cobre, e outros materiais críticos (como as terras raras e o cobalto), em que são necessários cerca de 20 vezes mais em volume do que para a mesma unidade de energia produzida pela energia nuclear, com fatores de capacidade usualmente superiores a 90 %.

Felizmente estas evidências estão a conquistar cada vez mais adeptos e perceção pela opinião pública, que vê na fatura energética que paga o custo de todo este experimentalismo, a que hoje se pretendem juntar o eólico offshore e o hidrogénio verde.

Nada disto é necessário, se voltarmos aos básicos: Usar as localizações das centrais a carvão e gás e substituí-las por centrais nucleares. Privilegiar a produção solar junto ao consumo e considerar os SMR (pequenos reatores modelares) para os consumos muito intensivos em energia do futuro, como Data Centers, mineração de criptomoedas.

É urgente fazer um estudo independente e credível sobre as opções, e os respetivos custos, que existem para conseguirmos satisfazer o trilema da política energética: Custos competitivos para a economia e a indústria, baixas emissões para ajudar a combater as alterações climáticas de forma eficiente e eficaz com o mínimo consumo de recursos e o mínimo impacto sobre o ambiente, e aumento da segurança energética, que nos permita ter custos previsíveis e estáveis durante um longo prazo. Infelizmente a revisão do PNEC 2030 segue acriticamente a lógica da proposta inicial do governo anterior e ignora as opções que todo o Mundo está neste momento a considerar, revendo a ilusão que se criou de que poderíamos resolver o problema energético apenas com energias renováveis. Não podemos, embora estas tenham um lugar importante no mix energético ideal. Isto é, continuamos a seguir a mesma lógica da Energiewende alemã, sem medir as trágicas consequências que esta trouxe para a economia, o ambiente e a segurança energética.

Engenheiro e consultor, ex-diretor de Novas Tecnologias de Energia da Comissão Europeia, subscritor do Manifesto

“Por uma democracia de qualidade”

Falta de senso, de conhecimento e desperdício de recursos


De acordo com um documento Agência Internacional de Energia, num cenário Net-Zero, seria necessário cerca de um trilhão de dólares por ano durante as próximas duas décadas, para além de 2030.


80 milhões de km de redes!!‼ É a quantidade espantosa de redes elétricas a construir ou substituir para cumprir os objetivos globais em matéria de energia e clima. O que são 80 milhões de km?… o equivalente a dar 200 vezes a volta completa à Terra, para alem dos cerca de 70 milhões já existentes. Isto é o que a Agência Internacional de Energia nos comunica, numa visão ainda muito influenciada pela Energiewende alemã.

De acordo com este documento, num cenário Net-Zero, seriam necessários cerca de 1 trilhão de dólares por ano durante as próximas duas décadas, para além de 2030. É o PIB dos Países Baixos, quatro vezes o PIB do nosso país. Todos os anos. Durante duas décadas.

Segundo eles, a infraestrutura que começámos a construir há séculos, tornar-se-ia um dos mais importantes facilitadores da transição energética global. Com a procura de eletricidade a crescer rapidamente, os centros de procura cada vez mais dispersos e a produção de eletricidade cada vez mais distribuída, há uma necessidade dramática de aumentar as “autoestradas de eletrões” – e de as tornar modernas e digitais.

Esta visão é compartilhada pelos decisores políticos nacionais, onde a proposta da REN, mais modesta, é de aumentar 10 % aos 15 000 km de linhas já existentes.

Para se ver o absurdo deste número, a produção destes cabos (cinco cabos em média) exigiria 9% da produção mundial de energia de um ano. Isto só para os cabos. Acrescentem-se as torres, as bases de betão, as estradas de serviço, os postos de transformação. A agenda net zero, baseada na substituição dos combustíveis fósseis apenas por fontes renováveis (até a Climáximo defende isto) é pura insanidade.

A massa total de metal para 80 milhões de quilómetros de linhas elétricas aéreas com 5 cabos por quilómetro seria de aproximadamente 162 milhões de toneladas métricas de alumínio.

Segundo cálculos elaborados com base nos ratios atuais, iriam necessários aproximadamente 2.300 TWh de energia para produzir as 162 milhões de toneladas métricas de alumínio. Para comparação, o consumo anual total de eletricidade em todo o mundo é de cerca de 25.000 TWh, pelo que isto representa cerca de 9% do consumo anual global de eletricidade. E o mais disparatado é que grande parte desta infraestrutura apenas funcionaria em menos de 30 % do tempo, que corresponde ao fator de capacidade média das energias renováveis intermitentes. Estas, devido à sua baixa densidade energética e intermitência, exigem potências muito elevadas para satisfazer o volume de energia necessário (que terá que ser transportada, armazenada e depois novamente distribuída.

Os que defendem esta visão argumentam com o facto do sol e o vento serem gratuitos. Mas não é gratuita a infraestrutura para a capturar, de que as redes são uma parcela importante, nem o aço, o betão, o vidro, o cobre, e outros materiais críticos (como as terras raras e o cobalto), em que são necessários cerca de 20 vezes mais em volume do que para a mesma unidade de energia produzida pela energia nuclear, com fatores de capacidade usualmente superiores a 90 %.

Felizmente estas evidências estão a conquistar cada vez mais adeptos e perceção pela opinião pública, que vê na fatura energética que paga o custo de todo este experimentalismo, a que hoje se pretendem juntar o eólico offshore e o hidrogénio verde.

Nada disto é necessário, se voltarmos aos básicos: Usar as localizações das centrais a carvão e gás e substituí-las por centrais nucleares. Privilegiar a produção solar junto ao consumo e considerar os SMR (pequenos reatores modelares) para os consumos muito intensivos em energia do futuro, como Data Centers, mineração de criptomoedas.

É urgente fazer um estudo independente e credível sobre as opções, e os respetivos custos, que existem para conseguirmos satisfazer o trilema da política energética: Custos competitivos para a economia e a indústria, baixas emissões para ajudar a combater as alterações climáticas de forma eficiente e eficaz com o mínimo consumo de recursos e o mínimo impacto sobre o ambiente, e aumento da segurança energética, que nos permita ter custos previsíveis e estáveis durante um longo prazo. Infelizmente a revisão do PNEC 2030 segue acriticamente a lógica da proposta inicial do governo anterior e ignora as opções que todo o Mundo está neste momento a considerar, revendo a ilusão que se criou de que poderíamos resolver o problema energético apenas com energias renováveis. Não podemos, embora estas tenham um lugar importante no mix energético ideal. Isto é, continuamos a seguir a mesma lógica da Energiewende alemã, sem medir as trágicas consequências que esta trouxe para a economia, o ambiente e a segurança energética.

Engenheiro e consultor, ex-diretor de Novas Tecnologias de Energia da Comissão Europeia, subscritor do Manifesto

“Por uma democracia de qualidade”