Se dúvidas houvesse em relação à intenção de Gouveia e Melo estar, de facto, a ponderar uma candidatura às presidenciais de 2026, ficaram desfeitas esta semana com a entrevista que o almirante concedeu à RTP. Numa entrevista em que voltou a repetir que «um cidadão não pode ficar limitado nos seus direitos só porque foi militar», o ainda chefe do Estado-Maior da Armada foi vago na resposta quanto à sua disponibilidade para fazer um novo mandato à frente da Marinha e emitiu opiniões precisas sobre a sua visão para o futuro do país. Das ameaças internacionais aos problemas de desenvolvimento económico, desfiou argumentos que se ajustam a um programa eleitoral. Gouveia e Melo não fugiu a nenhuma pergunta, nem sequer na explicação de como os portugueses o reconhecem: «As pessoas têm muito carinho por mim e muitas vezes dizem-me: concorra, concorra que eu voto em si».
O tema das presidenciais está, a par com o Orçamento para 2025, a dominar as atenções políticas e a servir para os potenciais candidatos fazerem prova de vida.
Centeno e Marques Mendes candidatos inevitáveis
Com ou sem Gouveia e Melo na corrida, socialistas e sociais-democratas apostam em candidaturas próprias e os nomes de Mário Centeno pelo PS e de Marques Mendes pelo PSD parecem ser cada vez mais incontornáveis.
Ao empurrar para daqui a alguns meses o resultado da sua reflexão, Marques Mendes ganha tempo para avaliar o cenário dentro do seu próprio partido, mas a saída de cena de Leonor Beleza, que veio prontamente retirar-se da corrida, deixou o caminho mais livre para o comentador televisivo. O nome de Beleza foi lançado por Hugo Soares em público, mas, sabe o Nascer do SOL, era defendido já há alguns meses por outros quadros do partido como uma alternativa às intenções de Mendes para avançar. Sem Beleza na corrida, resta a hipótese de Pedro Passos Coelho poder surgir como candidato, mas essa é uma hipótese considerada cada vez mais remota, e, assim, na ausência de concorrência , a candidatura de Marques Mendes pode mesmo tornar-se inevitável.
Já do lado dos socialistas, o nome mais falado é o de Mário Centeno, que terá essa vontade e, afastadas as hipotéticas candidaturas de Guterres e de Costa, é o candidato com melhores resultados nas sondagens. Terá sido também com essa ideia que, no discurso com que Pedro Nuno Santos marcou a sua reentré política, o nome de Centeno foi citado como um dos principais responsáveis pelos sucessos da governação socialista nos últimos oito anos em matéria de finanças públicas. O líder socialista, que até aproveitou o discurso para fazer algum mea culpa em relação a algumas matérias dos Governos de António Costa, fez questão de salientar também os bons resultados, principalmente aqueles que foram conseguidos com Mário Centeno à frente da pasta das Finanças.
Gouveia e Melo vê vantagem em candidaturas partidárias
Ao contrário de olharem para os candidatos do PS e do PSD como uma ameaça, os apoiantes de Gouveia e Melo consideram que esse facto pode ser vantajoso para o almirante.
«Ao apoiarem candidatos próprios, os partidos deixam para Gouveia e Melo o espaço de uma candidatura suprapartidária», diz-nos uma das pessoas que nos últimos meses tem insistido junto do chefe do Estado-Maior da Armada para que avance com uma candidatura. A mesma fonte diz-nos que o facto de não ser conotado com nenhuma força política em particular e de conseguir apoios à esquerda e à direita do espetro político, é uma das maiores vantagens do almirante que ficou conhecido entre os portugueses pela administração das vacinas durante a pandemia.
Procurar apoios transversais à sociedade, quer do ponto de vista político, quer ao nível da abrangência da sociedade civil, é um dos objetivos essenciais para os que defendem que Gouveia e Melo se candidate e, nesse sentido, a existência de nomes na corrida que representam partidos políticos torna mais fácil o caminho de uma candidatura que se quer afirmar pela abrangência nacional.