A cerimónia de abertura vai ser um evento único e, por certo, inesquecível na história dos Jogos Olímpicos. Pela primeira vez desde 1896, o desfile dos atletas olímpicos não é dentro de um estádio, mas sim no famoso rio Sena, com uma monumental parada náutica, na qual vão participar 160 embarcações. A delegação da Grécia abre o desfile por ser o berço do olimpismo e a França, na qualidade de país anfitrião, encerra a cerimónia, que vai decorrer entre as 18h30 e as 22h00 (hora portuguesa). Os Estados Unidos têm a comitiva mais numerosa, com 653 atletas, e a França aparece logo a seguir, com 622 participantes.
O percurso de seis quilómetros a céu aberto começa na Pont d’Austerlitz, passa por locais icónicos, como Notre-Dame, Louvre e Torre Eiffel, e termina no Trocadéro. O desfile dos atletas nos bem conhecidos Bateaux-Mouches foi cuidadosamente preparado e ensaiado durante três dias pelas mesmas empresas que transportam nove milhões de turistas durante o ano. Cerca de 326 mil pessoas vão assistir à cerimónia em diferentes locais de livre acesso, mas também houve quem tivesse desembolsado entre 90 e 2.700 euros para ver o desfile em zonas privilegiadas. Toda a dinâmica da cerimónia pode ser acompanhada nos ecrãs colocados ao longo do percurso, já que os barcos estão equipados com câmaras que permitem seguir de perto os atletas. A audiência televisiva aponta para que 3,5 mil milhões assistam a este megaespectáculo pela televisão.
Terminado o desfile, segue-se o hastear da bandeira olímpica e o acender da pira, que abre oficialmente os Jogos Olímpicos Paris 2024. A pira fica acesa no emblemático jardim Tuileries até 11 de agosto, altura em que Paris passa o testemunho a Los Angeles (EUA), que vai organizar os jogos de 2028. A chama foi acesa pelos raios de sol em Olímpia, na Grécia, onde se realizaram os primeiros Jogos, e passou de tocha em tocha ao longo de um percurso internacional. A portuguesa ex-campeã olímpica da maratona Rosa Mota foi uma das atletas que transportou a tocha no centro de Paris. Outra inovação é o gigantesco pódio denominado Parque dos Campeões, onde vão ser entregues 329 medalhas. Está localizado no Trocadéro e permite aos atletas festejar com milhares de fãs.
Muitas modalidades olímpicas vão disputar-se em lugares históricos de Paris. O vólei de praia joga-se em frente à Torre Eiffel, as provas de skate, breaking, basquetebol 3×3 e BMX realizam-se na Place Concorde, o Grand Palais recebe os torneios de esgrima e taekwondo, nos Invalides disputa-se o tiro com arco, o rio Sena serve para as provas de águas abertas e natação (triatlo) e na zona do palácio de Versailles disputam-se as competições equestres e o pentatlo moderno. Os torneios de futebol masculino e feminino realizam-se em outras cidades e as provas de vela disputam-se ao largo de Marselha. Na praia de Teahupo’o, no Taiti, tem lugar a competição de surf, com ondas tubulares de quatro metros de altura. A escolha da maior ilha da Polinésia foi uma jogada geopolítica para envolver as colónias francesas nesta edição dos jogos.
À procura da glória
Os Jogos de Paris vão ter 28 desportos olímpicos tradicionais e quatro modalidades de demonstração: breaking, caiaque crosse, escala desportiva e skate. A presença destas modalidades tem por objetivo despertar o interesse pelos Jogos Olímpicos junto de diferentes públicos, especialmente dos mais jovens. Nesse sentido, sabe-se já que o basebol, o críquete, o flag football, o squash e o lacrosse vão estar em Los Angeles 2028, e que o padel chega aos jogos olímpicos em Brisbane 2032 (Austrália). Estas são também as primeiras olimpíadas com paridade de género. O atletismo, o ciclismo e o boxe são as modalidades onde existe total paridade (50% homens e 50% mulheres).
Em Paris, vão estar os melhores atletas do mundo nas diferentes modalidades, alguns dos quais portugueses, que vão lutar pela glória e ouro.
O atletismo de velocidade promete corridas fantásticas. Considerado o homem mais rápido do mundo, o norte-americano Noah Lyles está determinado a bater os recordes mundiais dos 100 e 200 metros que pertencem a Usain Bolt. Sha’Carri Richardson, Shelly-Ann Fraser-Pryce e Shericka Jackson são consideradas das melhores velocistas de sempre e querem bater o recorde mundial dos 100 metros que pertence a Florence Griffith. O luso-cubano Pedro Pichardo vai saltar para renovar o título olímpico no triplo salto. Liliana Cá, no lançamento do disco, e Agate de Sousa, no salto em comprimento, podem causar surpresa e chegar ao pódio. O bicampeão olímpico Eliud Kipchoge tem a oportunidade de ser o primeiro a vencer a maratona olímpica por três vezes consecutivas.
Campeã olímpica por quatro vezes, Simone Biles regressa aos jogos olímpicos determinada a demonstrar sua resiliência e conquistar novo título individual. Biles já conquistou 30 medalhas em campeonatos mundiais e deu o seu nome a cinco movimentos da ginástica artística.
Kevin Durant pode ser o primeiro atleta masculino a ganhar quatro medalhas de ouro em desportos de equipa caso os Estados Unidos conquistem a quinta medalha de ouro consecutiva no basquetebol.
Já a seleção feminina dos EUA pode estabelecer um novo recorde olímpico se conquistar a oitava medalha de ouro consecutiva.
Fernando Pimenta na canoagem (K1 1000), Diogo Ribeiro na natação (50 e 100 metros mariposa) e Jorge Fonseca e Catarina Costa (- 48 kg) no judo (- 100 kg) têm capacidade para conquistar uma medalha nestes jogos. No ciclismo, espera-se um grande desempenho do campeão mundial Iúri Leitão nas provas de Omnium e Madison.
O recente vencedor da Volta à França, Tajed Pogacar, vai participar na competição de estrada à procura do ouro.
Novak Djokovic quer conquistar o único título que lhe falta. O tenista venceu 24 torneios do Grand Slam, mas nunca disputou uma final olímpica, e, em Roland Garros, vai ter Rafael Nadal e Carlos Alcaraz como adversários.
Os Jogos Olímpicos de Paris têm um custo de nove mil milhões de euros, e é esperado um impacto económico de 10,7 mil milhões. Cerca de 96% desse valor é suportado pelos privados (COI, parceiros globais, bilhética e direitos televisivos), e os restantes 4% são de financiamento público. Pode parecer um custo exagerado, mas fica muito aquém das olimpíadas do Rio 2016, as mais caras de sempre com um valor de 33 mil milhões de euros.
Segurança reforçada
O ambiente tenso que se vive a nível internacional devido à invasão da Ucrânia e ao conflito entre Israel e o Hamas deixa Paris em sobressalto. Ninguém esquece o ataque terrorista contra a delegação israelita levado a cabo pelo grupo palestiniano Setembro Negro, em Munique 1972. «Temos a noção de que há o risco terrorista», reconheceu o Presidente francês, Emmanuel Macron.
O Governo francês, em colaboração com as forças policiais de 45 países, está a monitorizar permanentemente a situação. Vão estar no terreno mais de 45 mil polícias, 10 mil militares e três mil agentes de segurança privada. Além disso, foi montado um acampamento para 4.500 militares na capital francesa, o maior desde a Segunda Guerra Mundial. O controlo já começou e as autoridades francesas impediram 3.570 pessoas de assistir aos Jogos por serem consideradas uma ameaça. Entre as várias tecnologias usadas para garantir a segurança está a Inteligência Artificial, bem como sistemas de alerta com geolocalização, monitorização do espaço aéreo e defesa anti-drone. Foi também montado um perímetro de proteção antiterrorista, onde só entram pessoas e veículos acreditados ou com bilhete.