Desafiando os próprios limites

Desafiando os próprios limites


Durante mais de um século, atletas movidos pelo desejo de superação e conquista pessoal conseguiram feitos notáveis. Os limites fisiológicos foram muito além do que se poderia pensar.


Há precisamente 100 anos nasceu a lenda Johnny Weissmuller. Começou a ter aulas de natação aos nove anos por indicação média para recuperar de uma poliomielite e aumentar a resistência física. A recuperação foi excelente e tornou-se num dos melhores nadadores do mundo. Weissmuller ganhou cinco medalhas de ouro entre Paris 1924 e Amesterdão 1928, estabeleceu 67 recordes mundiais e ganhou 52 campeonatos nacionais, ainda hoje é considerado um dos melhores nadadores de sempre.

Ficou igualmente célebre por interpretar o papel de Tarzan no cinema em 1934. Essa personagem de ficção facilitou-lhe a vida numa viagem a Cuba, quando, juntamente com uns amigos, foi cercado pelos guerrilheiros de Fidel Castro, que tinham a intenção de raptar o grupo. Weissmuller deu o famoso grito de Tarzan, os “barbudos” reconheceram-no, bateram palmas e escoltaram o grupo para uma zona segura.

O atleta negro Jesse Owens ganhou quatro medalhas de ouro nos jogos olímpicos de Berlim 1936 (100 e 200 metros, estafeta 4×100 metros e salto em comprimento) e deitou por terra o mito da supremacia ariana de Adolf Hitler. Foi o primeiro atleta a ganhar quatro medalhas de ouro numa olimpíada para desespero do líder nazi. Mas a história não fica por aqui. Anos mais tarde, Jesse Owens disse que o que mais o magoou não foram as atitudes de Hitler, mas o facto de ter sido ignorado pelo presidente norte-americano “não foi Hitler que me ignorou, quem o fez foi Franklin Roosevelt. O presidente nem sequer me mandou um telegrama”, contou. Quando foi homenageado num dos mais luxuosos hotéis de Nova Iorque pediram-lhe para usar o elevador de serviço…

Aos nove anos, o norte-americano Mark Spitz já tinha 17 recordes nacionais e um recorde mundial na categoria de Sub 10. Em Munique 1972, com 22 anos, entrou na piscina e só de lá saiu com sete medalhas de ouro e sete recordes mundiais, que se juntaram às duas medalhas de ouro e uma de prata conquistadas nos jogos do México 1968. O que Mark Spitz fez ficou na memória das pessoas, mas também é lembrado pelo seu famoso bigode, que considerou ser “um pedaço de sorte”. Os jogos terminaram de forma abrupta para Spitz, que era oriundo de família judia, e foi retirado da Alemanha Ocidental na sequência do ataque à comitiva israelita.

Em Montreal 1976, o mundo parou para ver Nadia Comaneci, de 14 anos, receber a nota 10.00 – desempenho perfeito – nas provas de ginástica por sete vezes! Nunca se tinha visto tamanha perfeição, e como o quadro de resultados só tinha três dígitos apareceu a nota 1.00, o que surpreendeu a atleta. “Sabia que não me tinha saído mal. Claro que não esperava um 10, pensei que valia um 9.00 ou 9.95”, contou alguns anos mais tarde. Talento, equilíbrio, concentração, força e muito treino fizeram da ginasta romena uma lenda. Durante sua carreira ganhou nove medalhas olímpicas, cinco de ouro. Foi descoberta pelo treinador Béla Karolyi quando fazia ginástica no pátio da escola aos seis anos.

Carl Lewis foi outro monstro do atletismo com nove medalhas de ouro, com a particularidade de vencer a mesma categoria em quatro olimpíadas diferentes (de Los Angeles 1984 a Atalanta 1996). Foi a referência do atletismo mundial durante duas décadas. Em Los Angeles 1984, imitou o seu ídolo de infância, Jesse Owens, ao vencer os 100 e 200 metros, salto em comprimento e estafetas de 4×100 metros.

Outro atleta de exceção foi Michael Phelps, o americano foi a Pequim 2008 ganhar oito medalhas de ouro, batendo o recorde do seu compatriota Mark Spitz. Começou a nadar aos sete anos e, ao longo da carreira, conquistou 28 medalhas olímpicas, sendo 23 de ouro, e obteve 37 recordes mundiais. É o atleta mais medalhado da história, justificando o seu lema: “Não devemos colocar limite em nada. Quanto mais sonhamos, mais longe chegamos”. Atualmente, viaja pelo mundo todo para falar da condição mental dos atletas, uma missão “muito mais importante do que ganhar uma medalha de ouro. Quero ajudar pessoas que estão a passar por momentos difíceis”, afirmou o prodígio de Baltimore.

Ainda em Pequim, o velocista jamaicano Usain Bolt voou no estádio olímpico com uma incrível descontração para vencer os 100 metros e estabelecer um novo recorde do mundo com 9,69 s, marca que viria a bater no ano seguinte com 9,58 s – é o homem mais rápido do mundo. É o único atleta na história a ser tricampeão olímpico em 100 e 200 metros de forma consecutiva e bicampeão na estafeta 4×100 metros, e a conquistar oito medalhas de ouro na velocidade. Depois de deixar o atletismo teve uma rápida passagem pelo futebol. Em 2018, Bolt foi contratado pelos australianos do Central Coast Mariners como avançado, e chegou a marcar alguns golos. Viria a abandonar o futebol no ano seguinte sem glória.