Jogos Olímpicos. Paris é uma festa

Jogos Olímpicos. Paris é uma festa


Cem anos depois, Paris volta a ser o centro do olimpismo. Num mundo conturbado e perigoso espera-se que a beleza do desporto vença, indo mais rápido, mais alto e mais forte.


Paris é a casa dos jogos olímpicos da Era Moderna. A capital francesa recebe, pela terceira vez, um dos maiores acontecimentos desportivos do mundo, senão o maior, que se realiza a cada quatro anos. Centremo-nos no que vai acontecer a partir de sexta-feira e até dia 11 de agosto na Cidade Luz para perceber as diferenças face aos jogos de 1924. Há 100 anos participaram 44 países, agora estão representadas 206 nações, o número de atletas foi de 3.089 (2.954 homens e 135 mulheres), este ano vão competir 10.500 (50% são homens e 50% mulheres), havia 17 desportos, agora são 32, o evento foi acompanhado por mil jornalistas, este ano estão acreditados seis mil. Por fim, assistiram aos Jogos Olímpicos de 1924 cerca de 625 mil pessoas, para 2024 foram postos à venda dez milhões de ingressos, com preços que variam entre 24 e 950 euros. Uma fonte do turismo francês afirmou que são esperados 15 milhões de visitantes na região de Paris durante este período. 

Os jogos olímpicos são muito mais do que uma competição desportiva, são a celebração do compromisso, da resiliência e da capacidade de superação, e vão começar de forma inédita. A cerimónia de abertura não se realiza no estádio olímpico, mas sim no rio Sena, entre as 18h30 e as 22h00 (hora portuguesa). Mais de 326 mil pessoas vão assistir à cerimónia – será a maior da história olímpica – em locais de livre acesso, mas foram também vendidos 104 mil ingressos (entre 90 e 2.700 euros) para zonas privilegiadas, onde é possível ver o desfile dos 95 barcos, os famosos Bateaux-Mouches, que vão transportar 10.500 atletas ao longo de um percurso de seis quilómetros, entre a Pont d’Austerlitz e a Pont d’Iena, e que passa por pontos icónicos como Notre-Dame, Louvre, Torre Eiffel e termina no Trocadéro. São esperados 120 chefes de Estado e representantes de governos de todo o mundo.

O momento alto vai ser o hastear da bandeira com os cinco aros coloridos entrelaçados representando a união dos cinco continentes (América, Europa, Ásia, África e Oceânia). Esse símbolo foi criado pelo barão Pierre de Coubertin, o grande impulsionador dos jogos olímpicos da Era Moderna. Terminada a inesquecível e, seguramente, espetacular parada dos atletas ao longo do Sena, o público presente em Paris e os mais de 3,5 mil milhões de telespetadores testemunharão o último atleta a transportar a tocha e a acender a pira olímpica, no Jardin des Tuileries, que abre oficialmente os Jogos Olímpicos Paris 2024. Esta prática vem da antiguidade quando uma chama ardia durante os jogos em homenagem à deusa Héstia. A chama da tocha foi acesa pelos raios de sol em Olímpia, na Grécia, onde foram realizados os primeiros jogos. A chama passou depois de tocha em tocha por um longo percurso internacional até chegar a Paris. Os últimos portadores da tocha são muitas vezes pessoas inspiradoras do mundo do desporto. A ex-campeã olímpica Rosa Mota foi uma das atletas que transportou a tocha, já em Paris.

Elite mundial 

No programa dos jogos estão 28 modalidades olímpicas tradicionais, mais quatro de exibição, e vão ser entregues 329 medalhas. Outra novidade é que os jogos vão ter um lugar único para os atletas receberem as medalhas, isso acontece no pódio gigante designado Parc des Champions, no Trocadéro, onde podem festejar com os milhares de adeptos. 

Em Paris, vão estar os melhores atletas do mundo nas diferentes modalidades em busca da glória e do ouro. O norte-americano Noah Lyles vai querer bater os recordes mundiais dos 100 e 200 metros que pertencem a Usain Bolt. Na competição feminina, Sha’Carri Richardson e Shericka Jackson vão lutar pela medalha de ouro e pelo recorde mundial nos 100 metros. As prova de velocidade promete ser emocionantes. O bicampeão olímpico Eliud Kipchoge tem a oportunidade de ser o primeiro a vencer a maratona olímpica por três vezes consecutivas. Nestes jogos voltamos a ver Simone Biles. A ginasta norte-americana já ganhou quatro medalhas de ouro e está determinada a conquistar novo título individual. É uma referência mundial, que deu o nome a cinco movimentos na ginástica artística. 

Se os Estados Unidos conquistarem a quinta medalha de ouro consecutiva no basquetebol, Kevin Durant torna-se o primeiro atleta masculino a ganhar quatro medalhas de ouro em desportos de equipa. Já a seleção feminina dos EUA procura a oitava medalha de ouro consecutiva, o que seria um recorde olímpico. Poucos dias depois de ter dominado a Volta à França em bicicleta, Tajed Pogacar regressa à estrada para lutar pela medalha de ouro, apesar de ter uma forte concorrência. Novak Djokovic regressa aos jogos olímpicos para conquistar o único título que lhe falta. O tenista nunca disputou uma final olímpica, e vai ter como rivais Rafael Nadal e Carlos Alcaraz. 

Outro aspeto marcante de Paris 2024 é que vão ser as primeiras olimpíadas com paridade total de género, isso é bem visível no atletismo, ciclismo e boxe com 50% de homens e de mulheres. 

Os Jogos Olímpicos de Paris têm um orçamento de nove mil milhões de euros e é esperado um impacto económico de 10,7 mil milhões de euros. O comité organizador garantiu que 96% desse valor é de privados (COI, a parceiros globais, bilhética e direitos televisivos), e 4% de financiamento público. O custo de Paris 2024 parece astronómico, mas fica aquém das olimpíadas do Rio 2016, que custaram 33 mil milhões de euros e foram as mais caras de sempre. 

Segurança militar 

Passados 52 anos do ataque terrorista à delegação israelita nos jogos de Munique, o conflito entre Israel e o Hamas deixa Paris 2024 em sobressalto. Vão estar no terreno mais de 30 mil polícias, 15 mil militares do exército e 22 mil agentes de segurança privada. Foi montado um acampamento para 4.500 militares na capital francesa, o maior desde a Segunda Guerra Mundial. Foram feitas mais de 770 mil investigações e 3.570 pessoas ficaram impedidas de assistir aos jogos, pois foram consideradas uma ameaça ao evento. Os organizadores testaram 700 soluções tecnológicas para garantir a segurança, entre elas soluções que recorrem à Inteligência Artificial nas câmaras de segurança para identificar, em tempo real, movimentos que possam representar situações de risco. A segurança é reforçada com a presença de forças policiais de 45 países, e as delegações têm segurança própria. 

Desde o dia 16 que está montado um perímetro de proteção antiterrorista. Só pessoas e veículos acreditados ou com bilhete têm acessos a essas zonas. As forças policiais tiveram uma formação específica de 300 horas para os jogos olímpicos. “Vamos dar todos os meios para fazer uma grande cerimónia de abertura”, afirmou o presidente francês Emmanuel Macron, que adiantou “temos a noção de que há o risco terrorista”. A organização e o Estado francês estão a permanentemente a monitorizar a situação e, em caso extremo, pode haver mudança de planos “se acharmos que há riscos, temos cenários alternativos. Existe o plano B e até o plano C”, disse Macron.