A grande herdeira espanhola

A grande herdeira espanhola


Acreditam que limpará a imagem da família e reconquistará a credibilidade da monarquia espanhola. Parece dedicada nas suas funções. Acabou recentemente o 1º ano do serviço militar e está hoje em Portugal. Será a próxima rainha de Espanha, mas procura cada vez mais a normalidade.


Tem um ar angelical, olhos verde esmeralda, uns longos cabelos loiros, lábios carnudos e utiliza um aparelho discreto nos dentes. Dizem que é bastante séria e formal, que gosta de observar tudo com grande atenção e que se preocupa muito com a sua irmã mais nova, a infanta Sofia, um ano mais nova. Segundo os jornalistas responsáveis por acompanhar a família real, a relação entre as irmãs é quase umbilical – são confidentes e falam várias vezes ao dia quando estão distantes. Na intimidade é mais inquieta, faladora e criativa. Fala espanhol,  inglês, francês, catalão, galego e basco e interessa-se por história de arte. Sendo a primogénita da Rainha Letizia e do Rei Felipe VI, Leonor está prestes a tornar-se a primeira rainha espanhola desde Isabella II (1833-1868).

Recorde-se que a família real passou por uma série de polémicas nos últimos anos, que acabaram por colocar em xeque a confiança na monarquia. Há quatro anos, o então rei, Juan Carlos, abandonou o país depois de uma investigação das autoridades fiscais da Suíça e Espanha sobre as suas contas no exterior, diante de fraude, lavagem de dinheiro e corrupção. Depois disso, acabou por passar a coroa a Felipe, o seu filho. Com isso, o sentimento republicano cresceu no país e a princesa é vista como a pessoa que poderá voltar curar a popularidade da família e reconquistar a credibilidade. Em 2014, quando Juan Carlos I de Borbón apresentou a sua abdicação, a sua neta assumiu vários títulos além de Princesa das Astúrias. A jovem de 18 anos é também princesa de Girona e Viana, duquesa de Montblanc, condessa de Cervera e senhora de Balaguer.

Compromissos de verão

Tal como a Luz já havia noticiado, Leonor será recebida esta sexta-feira, 12 de julho, por Marcelo Rebelo de Sousa. A agenda deste dia simbólico vai estar focada na «proteção do meio ambiente e na conservação dos oceanos». A herdeira viaja acompanhada pelo ministro dos Assuntos Exteriores, União Europeia e Cooperação, José Manuel Albares. Já em Lisboa junta-se à comitiva o homólogo português, Paulo Rangel. Segundo o comunicado publicado tanto no site da Presidência da República, como no site do equivalente ao ministério dos negócios estrangeiros espanhol, a escolha de Portugal como destino da sua primeira deslocação oficial ao estrangeiro «reflete e fortalece os laços de fraternidade e proximidade que unem os dois países».

Há três dias, Leonor e Sofia estiveram na Catalunha a propósito do Prémio Princesa de Girona. As duas irmãs fizeram uma visita ao atelier do escultor Jaume Plensa, em Barcelona, sem os pais. No dia seguinte, a família real participou na cerimónia de entrega dos prémios Princesa de Girona 2024, celebrando também os 15 anos da fundação «que trabalha para acompanhar os jovens no seu desenvolvimento de competências, o seu impulso profissional e no bem estar emocional», lê-se no site da instituição. A celebração de 10 de julho teve lugar no Palácio do Congressos Costa Brava de Lloret de Mar. Depois da passagem por Portugal, Leonor segue com os seus pais para Marín, na Galiza, para a entrega dos diplomas aos alunos da Escola Naval Militar, onde também esta vai ingressar no final de agosto. No final do mês os reis deverão assistir à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos em Paris. De acordo com o El País, é possível que a princesa os acompanhe. Além disso, a família terá a inauguração da Copa del Rey Mapfre em Palma de Maiorca – competição de vela – e em agosto gozarão férias. Mas parece que Leonor tem ainda outros planos… Mas afinal quem é esta jovem? Onde estudou? Que causas apoia? O que podemos esperar dela?

Educação e Estudos

Nascida a 31 de outubro de 2005, de cesariana, no Hospital Ruber International de Madrid, a filha mais velha de Felipe e Letizia tornou-se herdeira ao trono de Espanha quando o pai foi proclamado rei, ganhando novas responsabilidades de ano para ano. Leonor cresceu no Palácio da Zarzuela, em Madrid, e segundo o ZNAKI, apesar da sua condição real, os pais tentaram proteger ao máximo a sua privacidade. Ao contrário de outras famílias reais, a mãe sempre fez questão de dar o pequeno-almoço às filhas. Durante a semana, proibia o uso de tablets e consolas. Além disso, as princesas tinham de ler na cama, todos os dias, antes de adormecerem.

Leonor frequentou a prestigiada escola Santa María de los Rosales, também na capital espanhola. Em 2018, foi anunciado que iria fazer o ensino médio no UWC Atlantic College, no País de Gales, conhecido pelo seu foco no internacionalismo, multiculturalismo e serviço comunitário.«A decisão foi vista como parte de uma preparação mais ampla para o seu futuro papel como Rainha de Espanha», escreve o site espanhol. Talvez pelo impulso de Letizia, a princesa sempre gostou de ler e aprender sobre diferentes culturas. Além disso, é uma apaixonada por pintura. O seu amor pela literatura e pelas histórias faz com que esta seja uma defensora da alfabetização e da educação. Esta participa ainda em diversas iniciativas de promoção da arte, cultura e património espanhol. Ou seja, assiste à abertura de exposições, concertos e representações teatrais. Atua ainda como embaixadora cultural, destacando a importância da expressão artística na sociedade.

Futura Militar e boa oradora

A princesa das Astúrias iniciou a sua formação militar no verão do ano passado e, no dia 3 de julho – ao fim de dez meses na capital aragonesa –,  terminou a primeira etapa com a cerimónia de entrega das ordens reais na Academia Geral Militar de Saragoça. A herdeira do trono recebeu do seu pai a nomeação como alferes cadete e a atribuição da Grã-Cruz do Mérito Militar, diante do olhar orgulhoso da sua mãe e da sua irmã mais nova. A cerimónia começou com um desfile militar, o hino nacional e uma salva de 21 tiros de canhão. Teve a presença de figuras importantes como a ministra da Defesa, Margarita Robles, o presidente do Governo de Aragão, Jorge Azcón, e o chefe do Estado-Maior do Exército Espanhol, tenente-General Amador Enseñat e Berfeas. Segundo os meios de comunicação espanhóis, depois das tradicionais férias em Palma de Maiorca, começará a próxima etapa da sua formação que a levará para a Marinha – um percurso que incluirá uma viagem à volta do mundo a bordo do navio-escola Juan Sebastián Elcano.

No dia 21 de maio, ao receber o título de Filha Adotiva de Saragoça, a princesa herdeira afirmou que a sua passagem pela Academia Militar de Saragoça «foi muito especial»: «Posso dizer-vos que o que vivi aqui ultrapassa em muito o que pensava há dez meses. Em Saragoça, em Aragão, senti-me em casa, acolhida e acompanhada numa terra que fará sempre parte da minha vida». Esta foi mais uma ocasião em que Leonor demonstrou as suas habilidades como oradora. Em outubro de 2019, durante a cerimónia de entrega dos Prémios da Fundação Princesa de Girona, fez o seu primeiro discurso público. Pela confiança com que falou, o seu discurso foi muito elogiado e muitos consideraram isso um sinal da sua preparação para o seu futuro papel. Com o passar do tempo, a jovem tem-se mostrado cada vez mais confortável a falar publicamente: já proferiu várias palestras em ocasiões importantes demonstrando assim, mais uma vez, o seu comprometimento com a sua função e a sua capacidade de relacionamento com o público. Além dos deveres cerimoniais e aparições públicas, está ativamente envolvida em trabalhos de caridade e iniciativas culturais, apoiando diversas causas, desde a educação e formação de jovens até a conservação ambiental. Por exemplo, durante o confinamento devido à Covid-19, tanto Leonor como a sua irmã Sofia estrearam-se na leitura de Dom Quixote que se organiza anualmente no Círculo de Bellas Artes de Madrid; em 2022, visitou uma escola em Leganés para falar com alguns jovens sobre a cibersegurança.

No dia 31 de outubro de 2023, e por ocasião do seu 18º aniversário, a princesa assistiu a um dos acontecimentos mais importantes da sua vida: a tomada de posse da Constituição. O evento teve lugar no Congresso dos deputados, onde Leonor se comprometeu com os seus deveres constitucionais, jurando lealdade e respeito. O evento foi acompanhado por um grande desfile militar que a guiou até ao seu destino final. Terminada a tomada de posse, a futura rainha dirigiu-se à sala dos ministros onde assinou o Livro de Honra do Congresso.

Procura por normalidade

Apesar do seu percurso estar a ser exímio, parece que Leonor tem mostrado cada vez mais vontade de independência e normalidade. Fez muitos amigos na Academia e, segundo a imprensa espanhola, o grupo planeou uma grande viagem de celebração do final de curso para este mês. Os amigos ainda estão a considerar três opções: Rota, na Andaluzia, Barrosa, em Cádiz, e Cabo de Palos, em Cartagena. Leonor já tinha viajado sozinha para Manhattan, em Nova Iorque, no domingo de Páscoa. Na viagem, reencontrou um dos seus melhores amigos, Gabriel Giacomelli, que estuda na Universidade de Nova Iorque.

No mês passado, segundo o El Nacional, a princesa ficou uns dias em Saragoça a divertir-se com os seus amigos. Nessa altura, ficou a perceber-se que a vida social da filha mais velha é uma das grandes preocupações de Letizia. Leonor já foi vista à noite a beber álcool e a fumar cigarros eletrónicos. A mulher de Felipe VI quis mesmo viajar até Saragoça para pedir explicações à filha. Porém, foi impedida pelo palácio da Zarzuela, que não quer que Leonor fique com a imagem de «mal comportada».

Além disso, a herdeira ao trono também já demonstrou ser mais «rebelde» no seu estilo, apesar de muito subtilmente. Em abril, quando visitou a escola Júlio Verne, em Leganés, revelou um brinco na cartilagem da orelha que depois de muita investigação se descobriu que não era um piercing, mas sim um ear cuff – para este acessório não é necessário furar a orelha. Durante a sua visita a Cadavedo, durante os Prémios Princesa das Astúrias 2022, o rabo de cavalo alto que utilizou, permitiu ver o seu verdadeiro piercing no lóbulo da orelha. É pequeno e discreto. 

Euro 2024. A inevitável dor azul de Portugal

A França atirou-nos pela borda fora deste Europeu com naturalidade. Continuamos a ser uma seleção pequenina e de futebol redondinho, sem laivos de classe que façam a diferença, dependurada pelos suspensórios da universalidade de um Ronaldo que se extingue a pouco e pouco como a chama e uma vela.

MUNIQUE – Falava de Paris, esse poema de Manuel Alegre, em O Canto e as Armas: «Fecha os teus olhos que me fazem mal./Que por vê-los me nasce aquela mágoa/Feita de sal e mar que não é água/senão a dor azul de Portugal./Que por vêlos as pérolas de sal/dos teus olhos são lágrimas que provo/que por vê-los eu vi chorar o meu povo/as lágrimas azuis de Portugal./Fecha os teus olhos que em Paris não cabe/todo o luar que tem essa tristeza/que nos teus olhos voa e não é ave/nem vento ou flor. Só lágrimas de sal./Que são frutos da terra portuguesa/teus olhos: lágrimas de Portugal». Paris onde, numa noite quente de Julho, por uma vez sem exemplo, os deuses do futebol olharam para nós e deixaram cair lá do céu aos trambolhões um pingo de felicidade no pontapé mágico de um Éder que, apenas dias antes, era motivo de troça por parte de quase todos os adeptos portugueses. No jogo dos ingleses, é a França, a dor azul de Portugal. E também foi a Grécia, no dia 4 de Julho de 2004. Os milagres não se repetem. Em Frankfurt, voltámos a ser atirados pela borda fora de um Europeu pela inevitável França. Saímos de cabeça erguida, mas não deixámos saudades. Ninguém mais falou de Portugal na Alemanha que não os portugueses. Somos dispensáveis. O único indispensável é_Ronaldo, nem que seja para que os jornalistas que ainda aqui estão possam dizer mal dele. Os outros são tratados com um encolher de ombros.

Tenho dificuldade em aceitar o histerismo que toma conta da nossa imprensa, e se estende como fogo em seara seca num dia de sol pelos nossos adeptos, de cada vez que vamos para a fase final de um Campeonato da Europa ou do Mundo. Com um descaramento divino, digno do Eça, pomo-nos em bicos dos pés e colocamo-nos na restrita lista de favoritos. Porquê?_Não sei, é um fenómeno que não entendo nem consigo explicar. Igualamo-nos à Alemanha, à França, à Espanha ou à Itália, desprezamos os que, como nós, ganharam um Europeu, como a Holanda (que por seu lado tem três finais de Mundiais), a Checoslováquia (que esteve em duas) ou a Dinamarca, por exemplo, porque sentimos incompreensivelmente que é fácil passar-lhes por cima só porque sim. Tecemos textos laudatórios a jogadores de categoria discutível que nunca ganharam nada na vida, acreditamos mais uma vez em Ronaldo e na sua dimensão universal que transportamos para uma seleção que sem ele não te qualquer dimensão e, depois da queda, vamos com as adagas afiadas em busca de culpados como se a culpa não fosse coletiva e não houvesse que entendê-la como um acumular de fragilidades individuais, tão evidentes, valha-nos Deus, tão claras e límpidas como os olhos da Michelle Pfeiffer.

Portugal regressou a casa sem brilho, sem glória e sem desculpas. Apresentou um futebol redondinho, sem arestas, que afaga os adversários mas não os magoa. Ganhámos dois jogos em cinco, um de aflitos, ou outro com uma ajuda amiga do adversário turco. Depois, frente à Geórgia, naquele momento de todos os suplentes, frente à Eslovénia e frente à França não fomos capazes de um golinho sequer para amostra. A pergunta tem de ser feita: que estávamos aqui a fazer? A perder o nosso tempo e o dos espectadores que vão aos estádios à procura de espetáculos que os mantenham presos às cadeira e não a bocejos de passes e repasses sem objetivos visíveis que não seja o de ficar com a bola porque tendo-a o opositor não a tem e não pode, por isso, fazer-nos mal. A posse de bola de Portugal passou a ser um método de defesa e não uma alavanca para o ataque. Pobre filosofia do medo.

A maior falácia do futebol  português

Ignorar o passado pode justificar-se por excessos de juventude, infelizmente demasiado comparada ao desconhecimento. Convencionou-se, vá lá perceber-se quando e onde, chamar a esta a melhor geração do futebol português. É uma opinião, não de todo respeitável porque se confunde com insulto a tantos jogadores que vestiram a camisola dos cinco escudos azuis. Mas enfim, é opinião, embora nunca a visse decentemente explicada por quem quer que seja. A tida como melhor geração do futebol português teve como melhor central um jogador com 41 anos. Nenhum dos outros possui, se o jogo das comparações faz sentido, a categoria de Ricardo Carvalho, de Jorge_Andrade, de Jorge Costa, de_Fernando Couto, ou se quisermos ir um pouco mais atrás, de Humberto Coelho. Já nem me atrevo a falar de_Germano ou de Alexandre_Baptista. Não há, na melhor geração do futebol, um jogador com a noção do campo como a de Rui Costa, ou antes dele António_Oliveira e João Alves, não possui um ponta-de-lança que consiga substituir decentemente Cristiano Ronaldo, agora que ele se fixou nessa função, não há Pauleta nem Nuno Gomes nem Postiga, não há Jordão nem Nené nem Fernando Gomes. Luís Figo, nesta equipa, seria um luxo indescritível, e Simão era melhor do que qualquer dos pontas de que dispomos. Falar da arte maravilhosa de Chalana e ver Conceição jogar no seu lugar pode ser risível. Saudades e Quaresma! Até que ponto queremos ser cegos e não perceber que sempre que Roberto Martínez fez uma substituição Portugal piorou e dou de barato os três últimos minutos histéricos frente à Chéquia porque soluções de três minutos (os que entraram quando obrigados a jogar mais tempo foram inconsequente e irritantemente individualistas) não são soluções válidas. Olhamos para o banco da seleção nacional e quem tem personalidade para assumir a titularidade?

É natural que quem nasceu neste tempo em que a internet é o centro da nossa vida e no qual os sites, blogues, twitters, Facebook e Instagram nos baralham a espuma dos dias, não faça ideia do que foi Eusébio para um Portugal bisonho e pacóvio, fechado na escuridão de uma ditadura mazomba que se orgulhava da solidão, facho a arder por todo o mundo que teve oportunidade de o ver, no seu auge maior do que o país, mais ainda do que Ronaldo é hoje maior do que as três sílabas de O’Neill que não serão mais de plástico, para ser mais barato, porque o plástico passou a ser um inimigo público, mas vá lá de esferovite ou algo que o valha. Fascinámo-nos, embasbacados, com uma baba bovina a cair-nos do lábio inferior, como os personagens de Nelson Rodrigues, pelo entusiasmo com que, de um momento para o outro, gente de todo o planeta, do sopé das montanhas do_Pamir às alturas vetustas de Machu Picchu, viam a seleção nacional, vestindo a sua camisola nos grandes torneios, todas com o número 7, imagine-se. Embevecemo-nos pelo interesse da imprensa internacional que nos segue ainda a par e passo com os seus fotógrafos e repórteres, mas essa é uma realidade que já se vivia quando Figo, Rui_Costa, Paulo Sousa, João Pinto e Sérgio Conceição sentiram a dor azul da França no Euro-2000. Estamos cegos se julgamos que, após o abandono de Ronaldo, ainda seremos vistos da mesma forma. Estamos cegos quando não percebemos que o título de 2016 nos caiu no colo sem que verdadeiramente o justificássemos. Continuaremos cegos se não percebermos que, se com equipas com muito mais classe do que esta não ganhámos, não serão estes, os tais melhores dos melhores, a ganhar alguma coisa. Não é preciso ser Nostradamus para adivinhar que o futuro não promete nada de especialmente bom.