La pepica. Cem anos à volta das paellas aprovadas por Hemingway


Passaram mais de 20 anos, mas  Filipe Morais regressou a um dos mais conceituados restaurantes de Valência, especializado em paellas. E tanto tempo depois parece que nada mudou no La Pepica, incluindo a especialidade da casa, cozinhada à vista de todos e apreciada sobre a praia Ir a Valência quase obriga a comer uma paella…


Passaram mais de 20 anos, mas  Filipe Morais regressou a um dos mais conceituados restaurantes de Valência, especializado em paellas. E tanto tempo depois parece que nada mudou no La Pepica, incluindo a especialidade da casa, cozinhada à vista de todos e apreciada sobre a praia

Ir a Valência quase obriga a comer uma paella tradicional. Não um arroz à valenciana como se faz por aí, mas uma paella à séria, na frigideira própria e com os seus sabores únicos.

Passaram mais de 20 anos, mas ao entrar no La Pepica parecia que nem um mês tinha passado: a decoração, as cores, as mesas com toalha de pano são as mesmas, assim como as boas-vindas dadas por Ernest Hemingway, um dos mais famosos frequentadores do restaurante durante o período em que o escritor viveu em Espanha. No corredor de entrada lá está o cartaz com a figura de Hemingway e um excerto da passagem de “O Verão Perigoso”, em que faz uma referência a um jantar no Pepica.

Em direcção ao terraço passam várias paellas, com o seu tom dourado a criar água na boca e a mostrar que o La Pepica está na mesma. Frequentado pelos reis de Espanha, por Romário ou Pelé, por Ava Gardner, Antonio Banderas, Melanie Griffith, Michael George ou Lauren Bacall, que morreu esta semana, é um restaurante que não reúne unanimidade: os preços não são baixos e é muito concorrido, pelo que às vezes pode ser difícil conseguir mesa. A reserva é aconselhável, mas no nosso caso fomos à aventura e tivemos a sorte de conseguir uma mesa no terraço, quase com os pés na areia branca das praias de Malvarossa.

Valência é conhecida pelas paellas, mas na verdade devia ser conhecida pelos seus mais de 20 pratos de arroz, que são feitos de várias formas. A paella é a mais conhecida e foi à “nascente” que fomos, já que este restaurante é considerado por muitos a casa mãe deste prato. A paella original é feita com frango, coelho, pato e feijão, mas depois surgiram as derivações, com a mistura de marisco e carnes e a versão só de marisco. No Pepica há ainda a versão da casa, que inclui marisco já descascado. As paellas são feitas à frente de todos, porque a cozinha é aberta e fica logo na entrada principal, que mais parece a entrada das traseiras. A maior parte das pessoas acaba por entrar pela entrada da praia, mas que, esta sim, é a secundária.

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Antes da chegada da esperada paella há várias entradas à escolha: saladas, tacos de bacalhau ou ameijoas. Optámos antes por uns “calamares a la romana”, frescos e feitos na hora. Chegada a paella, confirma-se tudo o que esperávamos: arroz malandrinho, cozido no ponto, sabores frescos a confirmar as memórias que havia daquele mesmo espaço.

O La Pepica não é um restaurante barato e os preços são feitos segundo as porções escolhidas. No fim, é fácil levar a refeição a um preço final de cerca de 25 ou 30 euros por pessoa.

O restaurante foi fundado em 1898 por Francisco Balaguer Aranda e Josefa Marqués Sanchís. O rei Afonso XIII permitiu-lhes instalar um barracão de madeira na praia, de apoio a banhistas, que seria destruído por um temporal em 1923. A reconstrução foi feita no local actual, onde o La Pepica é dirigido pelos netos dos fundadores.

O restaurante fica na Avenida Neptuno, n.o 6, e para compensar os preços puxadotes oferece as duas primeiras horas de estacionamento, que é coisa rara naquelas ruas.