Diplomacia económica em alta. Chineses compram Monsanto para erguer floresta de torres de habitação, substituindo com vantagem decadentes espécimes arbóreos ali existentes. Árabes querem o Bom Jesus
Excelentíssimo Embaixador
Honório Vai-Te Embora
Gabinete de Sua Excelência
o Ministro dos Negócios Estrangeiros
Governo de Portugal
Excelência,
Venho comunicar-lhe boas e extraordinárias notícias que fará o favor de transmitir a Sua Excelência o Ministro. É provável que antes do Natal ele passe pelas Necessidades. Nessa quadra festiva estas informações serão para Sua Excelência o Ministro um verdadeiro alento para enfrentar a maçadoria do seminário diplomático.
Deixe-me todavia manifestar-lhe a minha desilusão pelo facto de a contenda Costa-Seguro – segunda versão do naufrágio do Costa Concórdia – ter eclipsado o laborioso guião para a reforma do Estado oferecido há um ano ao país por sua Excelência o Ministro depois de 14 fecundos meses de maturação.
Para qualquer outro, tal eclipse seria o fim. Mas felizmente o treino de Sua Excelência o Ministro em matéria de longas maratonas e larguíssimas limousines, secundado pelo seu profundo enfado quanto a pequenos táxis publicitariamente capazes de transportar todo um partido, lhe permite ir mantendo a saúde física e mental que o distingue, tal como os magníficos nós das suas gravatas e o fantástico bronzeado que exibe em todas as capitais do mundo, publicitando de modo irresistível o “made in Portugal” que já mandou alterar para o muito mais sedutor “sun in Portugal”.
Regressando ao meu relatório, direi que em boa hora me encarregou Sua Excelência desta espinhosa missão nunca antes navegada por outros portugueses. A diplomacia económica é, desde a radiosa hora em que me a confiou até hoje, a minha única preocupação, nela consumindo milhares de horas de voo, igual quantidade de garrafas de champagne e não menos dias de estada em hotéis de luxo espalhados por todo o mundo.
Agora começa a dar frutos: na prioridade que nos demos de tudo fazer para reduzir a dívida pública portuguesa, ergue-se como verdadeiro sol do Oriente uma oportunidade absolutamente única protagonizada por um grupo empresarial chinês que se manifestou interessadíssimo na compra do Parque de Monsanto, conforme ao plano que gizámos no seu gabinete às Necessidades. A aquisição do Parque de Monsanto, seguida do seu intenso loteamento dará origem a uma floresta de torres de habitação, substituindo com vantagem as vetustas e decadentes espécimes arbóreas com que hoje ali nos deparamos e que apenas servem à camuflagem dos negócios de carne e corpo que VEXA conhece. É claro que a operação, em que o grupo chinês se dispõe investir 60 mil milhões de dólares, comporta a atribuição da nacionalidade portuguesa a todos os que adquirirem um lote, andar, cubículo, ou garagem no futuro complexo residencial Moon-San-To, assim como uma enormidade não despicienda de trabalhos para ultrapassar a reaccionária resistência do actual presidente da Câmara de Lisboa sempre desalinhado dos superiores interesses da Nação. Neste campo sugere-se a expropriação total e definitiva, a bem da Nação, do actual Parque de Monsanto que, como é público e notório, para nada serve além dos perversos fins já supra mencionados. Quanto a quem contribuir de modo viril para superar qualquer oposição ao glorioso futuro desenhado para aquele espaço parado no tempo, o grupo chinês reserva uma pequena ilha que detém no Oceano Pacífico e à prova de tsunami.
Deixo-o com estas boas notícias e sugiro que por estes dias mande chamar o embaixador chinês em Lisboa. O chino será em breve posto a par (ou a dólar, não sei bem) do negócio. Por mim sigo para o Dubai onde me encontrarei com o xeque Abdullah Al-Minto a cujo grupo empresarial conto vender o Bom Jesus de Braga.
Inclino-me e retiro-me,
Ricardo Barata de Leão
ricardobarataleao@gmail.com