Corria o ano de 1967. Lynch, então estudante avançado de Pintura na Pennsylvania Academy of the Fine Arts (PAFA), assinou um trabalho híbrido, combinando as potencialidades da tela com a escultura, o som, o filme e a instalação. “Six Men Getting Sick”, ou “Seis Homens a Adoecer”, terá aberto as portas da realização a David, que, apesar da longa carreira na sétima arte, nunca abandonou por completo as investidas nas artes visuais. Por essa altura, o então aluno promissor, que certa noite se dedicava à pintura de um jardim, recorda-se de imaginar as plantas a mexer. “Oh, uma imagem em movimento”, recordaria anos mais tarde sobre essa espécie de epifania que alterou decisivamente o seu percurso.
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Lynch manteve a prática de ateliê, produzindo um corpo de desenhos, pinturas, impressões e fotografias, unificados num campo de conceitos e preocupações, intensificados até depois de lançar “Inland Empire” (2006). Daí o título da exposição, a maior do género dedicada ao artista no território norte-americano: “David Lynch: The Unified Field”, organizada em estreita colaboração com o nome por detrás de “Eraserhead” (1977), “Blue Velvet” (1986) “Wild at Heart” (1990) ou da série “Twin Peaks” (1990-91).
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A exposição passa em revista 90 obras, que recuam a 1965 e nos trazem até aos nossos dias. Boa parte da visita passa pelo contacto com alguns dos primeiros ensaios artísticos de Lynch, muitos deles revelados pela primeira vez ao grande público. A seminal “Six Men Getting Sick”, por exemplo, será resgatada e apresentada com desenhos de apoio. Da mesma forma, vários pequenos filmes dos primórdios da sua actividade, feitos em Filadélfia, serão partilhados.
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“Será o David Lynch dos desenhos tão refinado como o dos filmes?”, interroga-se o “The New York Times”. A resposta, dizem, é não. Muitos dos temas que povoam o seu universo no ecrã, para não falar do característico estilo lynchiano, escapam desta toada artística. Encontramos os tópicos do sexo, da violência e do trauma, mas não é com a profundidade a que nos habituou que são tratadas as narrativas nada rectilíneas, as mudanças abruptas entre o noir e o surrealismo alucinatório, o erotismo e a atmosfera de suspense com a batalha entre a inocência e o mal em pano de fundo. Os temas recorrentes na mostra incluem o encontro do corpo humano com fenómenos orgânicos, a casa enquanto depositório das memórias de infância, pesadelos, paixão e muitos flashbacks. A intensidade das questões é reforçada por texturas e outros efeitos de superfície. O mistério, uma das suas marcas mais evidentes, habita todas elas.
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