Com uma situação financeira invejável, os principais clubes sauditas seguiram o caminho mais fácil que foi contratar jogadores experientes e, nalguns casos, em final de carreira. A aposta nas camadas jovens, o desenvolvimento sustentado do futebol e a criação de infraestruturas ficam para segundo plano. Nem todos se deixam levar pelo “eldorado” saudita, mas são cada vez mais os nomes sonantes que trocam as grandes competições europeias por uma conta bancária com muitos zeros. Com a janela de transferências aberta até 20 de setembro, e com as propostas milionárias a voarem para a Europa, pode haver mais surpresas nas próximas semanas.
A liga saudita ganhou grande mediatismo com a chegada de Cristiano Ronaldo ao Al-Nassr em janeiro. Desde então, os holofotes mantêm-se ligados por conta das contratações milionárias que vão mudar o cenário da 48.ª edição da liga de futebol profissional, que se inicia a 11 de agosto. Além de CR7, a competição vai ter outras estrelas como Karim Benzema, Roberto Firmino, N’golo Kanté e Brozovic. Cada um com a sua justificação, o certo é que todos se renderam às propostas financeiras e aos prazeres do Médio Oriente.
Aquilo que durante muito tempo foi um simples campeonato regional começou a ganhar importância a partir do momento em que as autoridades sauditas viram no futebol uma forma de passar uma imagem positiva do país para o exterior. Com os petrodólares a jorrar, o centro do mundo do futebol começou a mudar. De uma forma metódica e programada – com os europeus a indignarem-se, mas pouco – os sauditas pagaram para ter as Supertaças de Itália e Espanha, obrigando inclusivamente a mudar o formato das competições, depois compraram o Newcastle, a seguir pagaram milhões a Lionel Messi para ser o embaixador do turismo e subiram de nível com a contratação de Cristiano Ronaldo. O objetivo é continuar a injetar dinheiro no futebol e dar maior projeção à Saudi Pro League.
Pouco depois de aterrar em Riade, Cristiano Ronaldo afirmou que a Arábia Saudita terá uma das cinco melhores ligas do mundo dentro de alguns anos. A declaração parecia encomendada e algo descabida, mas agora começa a fazer pensar e a preocupar muita gente ligada ao futebol. A ideia inicial de que só iam para o Médio Oriente estrelas do futebol com 30 ou mais anos e em final de carreira começa a cair por terra. A idade média do atual campeão saudita, o Al Ittihad, é de 29,2 anos e o Al Nassr, onde joga Ronaldo, tem um plantel com uma média de idade de 27,5 anos.
A liga saudita não desvia apenas jogadores, há também treinadores de renome que se mudaram para a Arábia. Steven Gerrard, glória do Liverpool, é o novo técnico do Ettifaq Club e vai receber 17,7 milhões de euros – é o quarto treinador mais bem pago do mundo.
Ao ataque Recentemente, o fundo de investimento estatal designado Public Investment Fund adquiriu 75% dos quatro principais clubes (Al Hilal, Al Nassr, Al Ahli e Al Ittihad), os restantes 25% pertencerão a investidores privados. O fundo sugere que estes clubes tenham CEO europeus, com experiência em clubes da Premier League ou na Liga dos Campeões. O Governo vai criar também um plano para reativar e privatizar os outros clubes.
A aposta das autoridades sauditas no futebol pode-se avaliar também pelos prémios. Não se sabe ao certo os valores para a temporada 2023/24, mas é público que o Al Ittihad recebeu 1.220 milhões de euros por vencer a liga na época passada.
O campeão em título tem adeptos fervorosos, essa paixão é transmitida de geração em geração e entre amigos; é conhecido como o clube do povo. Após um interregno de 14 anos, Nuno Espírito Santo levou a equipa à conquista do título e tornou-se um “Deus” entre os seus. O Al Hilal de Jorge Jesus é o que tem mais títulos (18). A rivalidade entre as duas equipas de Riade é enorme, vai ser curioso assistir aos duelos entre Espírito Santo e Jesus.
O Al Ittihad trabalhou bem e contratou a custo zero Karim Benzema (ex-Real Madrid) e N’golo Kanté (ex-Chelsea), reforços de luxo para o técnico português. O francês vai ganhar 25 milhões de euros por temporada. O Al Nassr, segundo classificado em 2022/23, reforçou-se com Marcelo Brozovic (ex-Inter de Milão). O clube pagou 18 milhões para ter o médio croata a jogar com Cristiano Ronaldo. Os dois clubes vão-se encontrar na última jornada, jogo que pode ser decisivo na luta pelo título. Roberto Firmino (ex-Liverpool) vai reforçar o Al Ahli e receber 20 milhões de euros por temporada. A equipa da cidade de Jeddah, junto ao mar Vermelho, contratou também o guarda-redes Edouard Mendy (ex-Chelsea), com um salário anual de 17 milhões.
O Al Hilal contratou Kalidou Koulibaly (ex-Chelsea) por 23 milhões de euros. O defesa senegalês vai receber 20 milhões de euros por época, e afirmou: “Com este dinheiro poderei ajudar a minha família a viver bem. Também poderei investir nas atividades da minha associação ‘Capitaine du Coeur’. Começámos a construir uma clínica na cidade dos meus pais e tenho muitos projetos para ajudar os jovens”, disse Koulibaly.
Portugal em destaque Cristiano Ronaldo chegou ao campeonato saudita a custo zero, mas são dois portugueses que lideram as transferências mais caras: O Al Hilal contratou Rúben Neves ao Wolverhampton por 55 milhões de euros e Jota trocou o Celtic de Glasgow pelo Al Ittihad a troco de 29,1 milhões. O médio defensivo vai reforçar o Al Hilal e o extremo esquerdo vai para o Al Ittihad. Os outros portugueses presentes nesta liga são Pedro Amaral, Ivo Rodrigues, Fábio Martins e Pedro Rebocho, que integram o plantel do Khaleeh.
A qualidade dos treinadores portugueses há muito que é reconhecida na Arábia Saudita. Na próxima época há seis técnicos na liga principal: Nuno Espírito Santo, Jorge Jesus, regressa ao Al Hilal onde esteve em 2018/19, Luís Castro, que vai treinar Cristiano Ronaldo, foi o craque português que aconselhou a contratação do ex-treinador do Botafogo, Pedro Emanuel continua como treinador do Al Khaleej, Filipe Gouveia é o técnico do Al Hazem e Jorge Mendonça orienta o Al Okhdood.