Cobertura vacinal “aquém do desejável”

Cobertura vacinal “aquém do desejável”


A cobertura vacinal é mais elevada nos maiores de 80 anos e mais reduzida nas faixas etárias que se seguem. Manuel Carmo Gomes frisa a ‘evidência de que este reforço dá uma proteção bastante razoável’.


Apesar de grande parte dos portugueses já ter sido inoculado com as doses recomendadas da vacina contra o novo coronavírus, a verdade é que as percentagens atuais de cobertura vacinal parecem não agradar totalmente os especialistas. Até 22 de janeiro, o reforço com a vacina bivalente (que começou a ser dado a 7 de setembro) encontrava-se nos 75% de cobertura vacinal para os maiores de 80 anos, 77% para aqueles que têm entre 70 e 79 anos, 64% para quem está entre os 60 e os 69 anos e 43% para quem tem entre 50 e 59 anos.

«A disponibilização dos 18 aos 49 anos foi homologada a 12 de janeiro e nas últimas duas semanas cerca de 7 mil pessoas dessas idades já se vacinaram. As coberturas vacinais contudo ainda são baixas (7% nos 40-49 anos). Gostaria que fossem mais altas porque tivemos valores muito mais elevados no passado recente», começa por explicar ao Nascer do SOL Manuel Carmo Gomes, membro da Comissão Técnica de Vacinação para a covid-19 e Professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

«Por exemplo, quando fizemos a terceira dose, o primeiro reforço, em outubro de 2021, ultrapassávamos os 90% para maiores de 70 anos. E Agora conseguimos os 75-77% e ficamos aquém daquilo que é desejável», adianta o especialista, lembrando que, em maio do ano passado, a quarta dose da vacina da covid-19, ou segundo reforço, começou a ser administrada nos lares e todos os idosos com mais de 80 anos foram convocados para a vacina mais cedo do que estava previsto. Esta decisão de antecipar a vacina para os mais velhos na primavera, até ali planeada para o final do verão, foi comunicada pela Direção Geral de Saúde (DGS), após um pico de ocupação hospitalar associado à subvariante BA.1 da Omicron e acompanhando a chegada da subvariante BA.5, o qual teve repercussões na mortalidade, com previsões de um agravamento da situação nas semanas seguintes tendo em conta a subida dos diagnósticos em todas as faixas etárias.

«Nessa altura, só chegámos aos 65%. Agora é melhor, mas não tão bom como aquando do primeiro reforço. «Estudos muito recentes da efectividade no terreno (e não só no laboratório) mostram que o reforço com a vacina bivalente dá uma proteção bastante razoável mesmo contra apenas infeção, limitada no tempo, é certo, mas muito elevada contra doença severa», sublinha Carmo Gomes. «Mas compreendo que as pessoas estejam com alguma saturação. Por exemplo, aquelas que têm mais de 80 anos já vão na quinta dose. Esta vacinação, combinada com o facto de muitas pessoas já terem sido infetadas, originou uma barreira imunitária protetora na população portuguesa, a qual por sua vez permitiu uma situação relativamente tranquila em termos de COVID este inverno. E agora temos de pensar no futuro», conclui, tal como frisou na entrevista que concedeu ao i no início do mês.

Artigo atualizado a 1 de fevereiro de 2023 (com informação rececionada pelo Ministério da Saúde após o fecho da edição de 26 de janeiro do Nascer do SOL):

«A campanha de vacinação sazonal da COVID-19 arrancou em setembro de 2022, tendo sido administradas mais de 3 milhões de doses da vacina, a maioria doses de reforço da população elegível, inicialmente maiores de 60 anos e, posteriormente, a faixa etária acima dos 50 anos. Atualmente a dose de reforço está também disponível para os cidadãos dos 18 aos 49 anos que tenham completado o esquema vacinal primário contra a covid-19 e que não tenham sido infetados há menos de 90 dias, tendo oportunidade de fazer uma primeira ou segunda dose de reforço.

No final de dezembro de 2022, verificava-se uma adesão de 61,5% à dose de reforço de outono na população com mais de 50 anos, superior na população mais velha e com maior risco, que foi prioritária na vacinação. Na população acima dos 80 anos, atingiu-se uma cobertura de 76%; na população entre os 70 e 79 anos foi atingida uma cobertura de 78%, em linha com os resultados de vacinação da gripe sazonal.

Contando já com os casos de cidadãos que iniciaram a sua imunização contra a COVID-19 no âmbito desta campanha sazonal – ou seja, que só agora fizeram pela primeira vez as primeiras doses da vacina – no final de 2022 verificava-se uma cobertura de 93% na vacinação primária (9.340.954 cidadãos imunizados) e uma adesão de 80,4% na primeira dose de reforço, que abrangeu todos os maiores de 18 anos (6.669.034). Verificou-se uma adesão de 72,3% na segunda dose de reforço, que abrangeu apenas maiores de 80 anos no verão passado (458.404). Na presente campanha de vacinação de reforço de outono/inverno, a adesão dos maiores de 80 foi superior (76%), tendo sido administradas mais de 500 mil doses de vacinas só neste grupo etário. Foram abrangidos todos os lares».