Ouvimos muitas vezes pessoas que dizem «ser do mundo». Ora por não terem um sítio de pertença, ora por falarem várias línguas, ora por terem um espírito livre. E depois, temos aquelas que o são mesmo sem saberem, que num «piscar de olhos» se transformam num fenómeno, que de um momento para o outro passam a ser a cara e a voz de um país.
Esse foi o caso de Mariana Secca, mais conhecida por MARO – a jovem portuguesa de 27 anos que representou Portugal naquela que foi a 66ª edição do Festival Eurovisão da Canção, que decorreu em Turim, no passado fim de semana, e da qual a Ucrânia se consagrou vencedora, com canção Stefania, interpretada pela Kalush Orchestra.
Mas, apesar de ter ficado apenas em nono lugar – tendo conquistado o quinto lugar do voto do júri profissional com 171 pontos e 36 do voto popular, totalizando 207 pontos – a canção Saudade, Saudade, que é cantada em português e inglês pela jovem artista, acompanhada por Beatriz Pessoa, Beatriz Fonseca, Carolina Leite, Diana Castro e Milhanas, e que foi co-escrita por John Blanda, tem mostrado que não é preciso «vencer para vingar».
Na verdade, desde a vitória da 56º edição do Festival da Canção – que lhe valeu a viagem até Itália – que o seu nome começou a migrar e conquistar os ouvidos de todos: desde Espanha à Grécia, à Inglaterra, à Roménia, Brasil e mesmo à Ucrânia, a palavra saudade começou a ser entendida, deixando de ser apenas um «símbolo nacional».
Antes da grande final, os comentários elogiosos das redes sociais multiplicavam-se e agora, mesmo depois do fim da competição, segundo a plataforma de música, Spotify, a canção de MARO, está no top Viral 50 da plataforma de streaming.
A música, na 12.º posição da tabela, está à frente dos temas que Espanha e Inglaterra, por exemplo, levaram ao concurso e que conquistaram o segundo e terceiro lugar na grande final da Eurovisão. Já os vencedores do concurso, os ucranianos Kalush Orchestra, ocupam a terceira posição do Viral 50.
Um percurso recheado de partilha
Mas, afinal, de onde vem e quem é a artista de voz rouca que proporcionou um dos momentos mais bonitos da cerimónia internacional? A verdade é que poucos a conheciam antes de ter vencido a edição deste ano do Festival da Canção, mas desde o ano passado, a sua voz já se juntava a grandes nomes da indústria musical dentro e além-fronteiras, como foi o caso das colaborações que fez com Mariza, Salvador Sobral, Rui Veloso, a Rosa Passos, Pablo Alborán, Jacob Collier e até Eric Clapton.
Em várias entrevistas, admitiu que divide a paixão pelo cinema, fotografia e música com a qual teve contacto desde muito cedo. Foi aos quatro anos que se estreou no piano, começando a ter aulas por influência da mãe (professora de música) e, logo aos 11 anos, compôs a sua primeira canção. Numa entrevista ao site Gerador, em 2020, lembrou o momento onde soube que era isso que queria fazer da sua vida.
Segundo a mesma, foi ao ouvir uma música, enquanto estudava para os exames nacionais do secundário, que se deu o clique: «Lembro-me que foi a música Cais, do Milton Nascimento. Foi aí que pensei: ‘O que é que eu estou a fazer?’», admitiu. A música ficou na sua cabeça e não a deixou dormir. Nesse momento, a jovem percebeu que, afinal, teria de se dedicar às canções – MARO encontrava-se a tirar o curso de Ciência e Tecnologias, com o intuito de seguir pelo caminho da biologia, ligada ao estudo dos animais.
Aos 19 anos, a jovem tomou então a decisão de voar rumo a Boston, onde se formou na Berklee College of Music. Em 2017 mudou-se para Los Angeles, onde lançou seis «auto-álbuns», escritos e produzidos por si própria e partilhados nas redes sociais. Essas partilhas fizeram-na chegar até aos ouvidos de artistas bastante conceituados, o músico Jacob Collier chegou mesmo a convidá-la para integrar a sua banda, onde atuou como vocalista e instrumentista. Além disso, MARO foi convidada também para abrir concertos de estrelas internacionais, como Jessie J., Fatai ou ¿Téo?, entre outros. Um ano depois lançaria aquele que foi o seu primeiro álbum, sem título, nas plataformas digitais.
Mas foi há dois anos, durante o confinamento imposto graças à pandemia da covid-19, que Portugal começou a conhecer o rosto da intérprete. No Instagram, a jovem começou a partilhar vídeos num projeto com o nome Itsa Me, Maro!, onde cantava à distância com as mais diversas personalidades.
Ao que parece, além de cantar «saudade» e partilhá-la com o mundo, MARO sempre viu a música como uma forma de ligar as pessoas. Hoje o mundo conhece-a e aguarda aquilo que acontecerá depois da aventura pela Eurovisão.