O fundador do WikiLeaks – organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia que partilha de fontes anónimas, documentos, fotografias e informações confidenciais, de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis – Julian Assange, atualmente com 50 anos e que está preso desde 2019 após ter sido detido pela polícia britânica devido a um pedido de extradição feito pelos EUA, vai casar-se na prisão de Belmarsh, em Londres no dia 23 de março com a sua advogada e mãe dos seus dois filhos – nascidos durante os seus sete anos de prisão na embaixada do Equador em Londres -, Stella Morris, na prisão de Belmarsh.
A verdade é que o Supremo Tribunal britânico negou-lhe, na segunda-feira, o recurso final para evitar a extradição para os EUA, onde poderá enfrentar até 175 anos de prisão por 18 acusações de espionagem e conspiração por revelar informações «classificadas» do Departamento de Estado e das guerras no Iraque e Afeganistão. Mas, depois de concedida a autorização para o matrimónio, já começaram os «preparativos». O casal conheceu-se em 2012, quando Assange se encontrava na embaixada equatoriana em Londres, em busca de asilo político. Moris tornou-se parte da equipa jurídica que tentou impedir a sua extradição. Num vídeo partilhado nas redes sociais pela própria, em abril de 2020, a agora noiva explicou como foi começar o relacionamento na altura. Embora para muitos pudesse ser considerado «louco», para eles «foi a coisa lógica e saudável a fazer». «Quebrar essas barreiras ao seu redor, mudar a maneira como ele vê a vida… Imaginar a vida além da prisão… Tornámo-nos amigos, víamos filmes juntos e eu adorava passar tempo com ele. Foi muito romântico e muito doce!», revelou, admitindo ainda que «não foi fácil». «Mas quando se está com alguém que se ama, enfrentamos situações consideradas impossíveis», frisou.
Uma ‘luz’ na ‘escuridão’
De acordo com o jornal britânico The Guardian, a estilista britânica responsável pela moda punk e new wave modernas que tem sido uma convicta defensora do arguido, Vivienne Westwood, está a desenhar um vestido de noiva para Moris e ainda um kilt para Assange. Segundo a mesma publicação, apenas quatro convidados serão autorizados a comparecer.
À agência noticiosa PA, a noiva que falou com Assange no domingo, afirmou que ambos estavam «muito entusiasmados» apesar das restrições à cerimónia, revelando ainda que estavam à espera de saber «se lhes era permitido um fotógrafo para a cerimónia» e que os convidados «teriam que sair imediatamente depois», apesar do casamento ocorrer durante o horário normal de visita. «Obviamente que estamos muito animados, embora as circunstâncias sejam muito restritivas», reforçou. «Continua a haver interferência injustificada nos nossos planos. Ter um fotógrafo por uma hora não é um pedido irracional», acrescentou. Segundo a mesma, Julian está «ansioso» pelo casamento, muitos «meses depois de ter sido realizado o pedido pela primeira vez».«Ele está detido em nome de uma potência estrangeira e não foi acusado de nada, o que é completamente vergonhoso», sublinhou ainda Morris. A cerimónia será civil e depois haverá uma breve «resposta» católica na mesma sala. De acordo com o que Moris, o casal foi proibido de usar a capela. «Acho que eles querem que Julian desapareça dos olhos do público», argumentou o seu advogado. «Parece-me que esta é uma tentativa de lembrar, no dia do seu casamento, que a sua vida está interrompida desnecessariamente», defendeu.
O ‘pesadelo’ de Assange
Esta semana, citado pela Associated Press (AP), o Supremo justificou a recente decisão com a falta de «argumentação plausível». Há já vários anos que Assange tentava evitar a extradição para os EUA, onde é acusado de vários crimes, entre os quais espionagem, pela publicação, há mais de dez anos, de um elevado número de documentos confidenciais na plataforma WikiLeaks. Mas se no princípio, a justiça britânica tinha rejeitado o pedido de extradição para os EUA sob alegação de que Assange poderia «cometer suicídio se fosse submetido a condições severas nos estabelecimentos prisionais do país», apesar das autoridades estadunidenses assegurarem que o responsável «não seria submetido a tais condições». Em dezembro, o Supremo Tribunal britânico acabou por reverter a decisão, avançando com o pedido de extradição, com base nas promessas feitas pela justiça dos EUA de que este «seria tratado com dignidade».
Segundo os procuradores norte-americanos, Julian Assange «violou a legislação do país e ajudou o analista dos serviços de informação das Forças Armadas Chelsea Manning a roubar documentos diplomáticos confidenciais e ficheiros militares, tendo estes sido publicados na íntegra na WikiLeaks». Por isso, a justiça americana acredita que Assange colocou em risco várias vidas. Por outro lado, não só a sua defesa como diversos apoiantes defendem que este «estava apenas a agir enquanto jornalista, estando por isso protegido pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que protege a liberdade de expressão».
De acordo com o The Guardian, a defesa do acusado poderá enviar ainda o processo para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, mas este ainda não prestou quaisquer declarações sobre o que pretende fazer face a esta decisão judicial.