O antigo coordenador da task-force para a vacinação contra a covid-19 discorda com a obrigatoriedade da administração da vacina – tal como decidiu fazer a Aústria, devido ao número elevado de novos casos face à pequena taxa de vacinados – pelo que pode "criar até um certo antagonismo em relação ao processo de vacinação, coisa que nunca tivemos em Portugal".
Depois de marcar a sua presença num evento de Ciência e Tecnologia em Évora, esta terça-feira, o vice-almirante Gouveia e Melo alertou que o país não deve olhar com demasiado "otimismo" para quinta vaga da pandemia, que se começa a sentir nos vários países da União Europeia, nomeadamente naqueles onde a vacinação decorre a um ritmo mais lento face a Portugal, que continua a ser o país com maior taxa de vacinados.
"Não a podemos encarar de forma leve ou descontraída", frisou Henrique Gouveia e Melo, indicando ainda que a população residente em Portugal está mais "protegida" por estar "vacinada", contudo ainda há um milhão e meio de não vacinados. "É uma piscina muito grande", apontou, ao considerar, contudo, que também é necessário olhar não apenas para o número relativo, como para o "número absoluto de habitantes que não estão vacinados numa determinada região", explicando que 1% de não vacinados na China não é o mesmo do que em Portugal.
O vice-almirante relembrou que “a maior parte das pessoas" que "não estão vacinadas são crianças abaixo dos 12 anos”, tendo sido "uma decisão das autoridades competentes”, numa altura em que o próprio liderava o processo de vacinação.
Note-se que, com Gouveia e Melo nos comandos da task-force, Portugal vacinou 160 mil pessoas em 24 horas. "Nem os Estados Unidos ou a Alemanha, por exemplo, à escala conseguiram vacinar 1,6% do total da população", assinalou o vice-almirante, confessando ainda que, num processo como este, "muitas vezes as decisões têm de ser feitas contra a vontade de grupos ou de interesses. Tem de haver coragem para tomar essa decisão. Quando há incertezas é preciso decidir com a boa informação que temos nesse momento", acentuou.
Deste modo, evitar a decisão ou adiá-la poderá significar uma paragem na campanha de vacinação e consequentemente um aumento de mortes por covid-19 no país. "Eperar pela informação perfeita significa parar com a vacinação e atrasar o processo. Estavam pessoas a morrer por não terem acesso à vacina".
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